Conceitos ou Degenerescência da Semântica?

Acredito que todos saibam ou deveriam saber que a semântica trata do estudo do significado das palavras. E também é um ramo linguístico capaz de considerar a evolução das palavras, ao menos no contexto teórico. Paralelamente a este estudo temos a diacrônica que serve para descobrir o significado das palavras dentre
de um determinado espaço temporal. Bem, já sei que o caro leitor deva estar questionando o texto e qual a importância disso em nossas vidas. Aí está o motivo pelo qual devemos nos interessar pelo assunto. Nos tempos atuais somos surpreendidos com assuntos de relevância política, social e cultural entre outros, de cujo reflexo recair sobre nós, meros mortais, pagadores de tributos, assim denominados, contribuintes. Aonde pretendo chegar?! Pois bem, ao longo dos anos, após a retomada da democracia neste país, fomos inebriados pelas conquistas de inúmeros direitos. Ano após ano soaram o tilintar do “tudo podemos”. Esse sentimento de conquista trouxe um afrouxamento de determinadas regras, espaços, circunstâncias e, semanticamente falando o “não moral” foi simplesmente extinto de nosso vocabulário. Dada esta metamorfose linguística, a sociedade dentro do seu alto potencial educacional passou a desenvolver determinados “estilos” gramaticais e linguísticos, não tão ortodoxos, confesso. Subliminarmente algumas culturas, por assim dizer, embarcaram nessa nau, porém, deram um revestimento e roupagem da degenerescência (ato ou efeito de degenerar; degeneração e/ou tendência à degeneração). Filosoficamente falando, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) deve estar de ponta cabeça em seu repouso eterno. Segundo este, a premissa principal do ser humano era estabelecer os limites e a legitimidade das potencialidades cognitivas da razão, e apontar as condições de possibilidade apriorísticas do conhecimento e da legislação moral, inerentes à constituição universal do espírito humano; criticismo. O criticismo, considera as análises críticas da possibilidade, da origem, do valor, das leis e dos
limites do conhecimento racional, entretanto, hoje, semanticamente falando o criticismo deu lugar ao “cretinismo”. Nesta esteira da inversão de valores, encontramos a figura do Niilismo que nada mais é, senão uma forma de negação, declínio ou recusa, de crenças e convicções, com seus respectivos valores
morais, estéticos ou políticos — que ofereçam um sentido consistente e positivo para a experiência imediata da vida, redução ao nada; aniquilamento e não existência, é, parece que estamos nos referindo a era atual. Em verdade, em verdade, eu vos digo, a linguagem utilizada  tomou proporções inovadoras do
ponto de vista estrutural e semântico. As amarras da regra foram quebradas e suplantadas, d’onde não permeiam qualquer base formal, de referência ou exemplo. Em que pese o esforço, aparentemente em vão, de determinada corrente conservadora, os “liberais” conseguiram impor o seu ritmo cavalar e nada nem ninguém consegue frear esse trem desgovernado da linguística dissonante. Há quem defenda esse “vazio literal existencial” e olha que não são poucos adeptos. Toda forma ou maneira de comunicação linguística tradicional aplicada é, prontamente rechaçada pelos “politicamente corretos”, onde os interlocutores formais sofrem com ataques verbais, cancelamentos, linchamentos virtuais e toda forma de violência psicológica existente. O caráter incitativo de determinados grupos pode ocorrer de maneira indutiva ou sintética, sob o jugo do suprarracionalismo que no contexto analítico determina as propriedades de um supra objeto, denominado, resultado. Pari passu,, esse supra objeto possui caráter de objetividade, onde só é retido o núcleo crítico, ou seja, o alvo se torna o núcleo de desejo da parte interessada (ofendida). Após deflagrado o gatilho da discórdia, o agente passa por processo morfológico linguístico de detonação existencial do interlocutor. Na contramão de direção, o agente que se sinta ofendido proporciona uma progressão no quântico da degenerescência semântica, capaz de inverter a verdade, de forma que o interlocutor seja considerado o algoz da narrativa e, consequentemente sofra algum tipo de retaliação, social, pessoal e até jurídica. Em resumo, parece, ao nosso ver que o certo se tornou o errado vice-versa. A capacidade cognitiva do ser humano, sempre muito pujante foi arrebatada por algum tipo de infecção generalizada abissal da qual compromete toda experiência existencial da raça desde a sua descoberta. Cada vez mais, os absurdos semânticos estão sendo introduzidos na sociedade a largas talagadas indutivas. Destarte, esse caminho parece não ter retorno e mais, boa parte se tornou omissa a essa invasão ou talvez não possua a capacidade de destruição iminente da linguagem como da moral. Talvez se essa invasão fosse por alienígenas não nos causasse tanto espanto. Sob essa lógica, ilógica, acende um sinal de agouro aos poucos sensatos existentes, senão em extinção. Devemos assumir um posicionamento quanto a determinados atos em que a sociedade de alguma maneira tem nos apresentado, não podemos nos furtar de impor nossos pensamentos e ideais, pois, esse signo criado sob a máscara válida da degenerescência, acarreta um resultado nefasto por suas próprias razões. Como éramos felizes aos tempos em que nossos verdadeiros artistas se dispunham para elaborar letras musicais de conteúdo, mesmo quando num tom crítico ou humorístico, a exemplo dos Originais do Samba com a música – A dona do primeiro andar. O fator engraçado da letra desse samba é o trocadilho que existe no refrão: a frase “pela dona do primeiro andar” se transforma em “peladona do primeiro andar”. Hoje, não vivemos nos melhores tempos artísticos, apesar de muitos se despontarem, contudo, outros se sujeitam a utilizar um rico vocabulário chulo, violento, ofensivo e pobre de talento, apesar de conseguirem um elevado reconhecimento. Talvez isso seja realmente um sinal de alerta. Por conclusão, acredito que não somos burros a tal ponto, só comemos capim de teimosos.

Por Dr. Émerson Tauyl
Advogado criminalista, especializado em Direito Militar e Segurança Pública, com escritórios em São Paulo
e Praia Grande
@emerson_tauyl

** Este texto não necessariamente reflete, a opinião deste portal de noticias