Onara Oliveira de Lima é executiva de Sustentabilidade ESG e fala sobre sua trajetória de sucesso

Onara Oliveira de Lima possui um grande currículo. Formada em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade do Vale do Paraíba, em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Paulista, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, Especialização em Gestão de Pessoas (ênfase em liderança organizacional) pela FIA, Curso ESG: Como Repensar e Inovar os Negócios pelo IBGC, Sustainable Business Strategy  – pela Harvard Business School, Programa Avançado em ESG na Saint Paul, Programa “ESG na Sala do Conselho” da FDC, Curso de Conselheira de Administração pelo IBGC.

Atua há 20 anos em Gestão Ambiental e Sustentabilidade, durante esse período, trabalhou em empresas como Gerdau, Suzano, Ambipar e, atualmente, está à frente da área de Sustentabilidade ESG do Grupo CCR. Membro do CBPS – Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade, Membro da Comissão ESG da ABRASCA e Conselheira Deliberativa do Instituto Capitalismo Consciente, Membro do IESBA Sustainability Reference Groupe (SRG).

Em sua trajetória também estão convites para ser professora: FDC (Participação nos cursos de MBA para falar sobre Sustentabilidade no mundo corporativo), IBGC (Case no curso Sobre Comitês de Sustentabilidade), LEC Disciplina Implantação do ESG Case Prático, Professora na TREVISAN MBA Executivo em ESG e Impact, professora convidada ESPM e FIA e membro da Academia Europeia da Alta Gestão.

Possui participação em diversos Fóruns, Eventos relacionados ao tema Sustentabilidade / ESG – como advisory board, palestrante, debatedora ou mediadora.

Também é coautora dos livros: “Essas Mulheres Sustentáveis” Capítulo sobre ESG no BOARD das Companhias, 7°Edição da Série “Histórias de Sucesso”, Gestão de Pessoas: Raridades, Capítulo sobre Liderança com Valores Compartilhados, Primeira Edição do Livro: Mulheres ESG, Capítulo: Trajetória e Evolução na Jornada ESG, ESG – Pilares de Transformação Ambiental, Social e Governança pela Academia Europeia da Alta Gestão e ESG e Compliance: Interfaces, desafios e oportunidades, Capítulo: A evolução da Agenda ESG, editora Saraiva.

Onara, em primeiro lugar, apresente-se para os leitores da Infomente.

Sou Onara, uma mulher de 41 anos que me reconheço como uma eterna aprendiz, que ama e acredita no que faz, trabalhando com brilho no olhar e que nunca me afasto de quem verdadeiramente eu sou e dos meus valores.

Tenho trilhado a minha carreira desde meus 15 anos, quando em 1997 a jornada se iniciou como estagiária do curso de Técnico em Administração, e a partir de 2003 iniciei um novo ciclo profissional na área de gestão ambiental.

Como você começou sua carreira na área de Sustentabilidade e Gestão Ambiental em 2003? Quais foram os primeiros passos importantes na sua jornada profissional?

Começando a faculdade de Engenharia Ambiental, vista como promissora e profissão do futuro… Esse é o primeiro capítulo da minha trajetória, que profissionalmente se materializou que 2003, quando a companhia onde eu trabalhava na área administrativa, decidiu me dar a oportunidade de apoiar na área ambiental, na ETEI (Estação de Tratamento de Efluentes Industriais) e gestão de resíduos, posteriormente na certificação da ISO 14.001, foi um ciclo de quase 2 anos, quando fiz uma pausa para realizar um sonho necessário: realizar um intercâmbio nos EUA (1 ano e 3 meses), onde fiz o Curso ESL – english as a second language.  Voltei para o Brasil, e pouco tempo depois, consegui uma oportunidade profissional na maior empresa brasileira produtora de aço (Gerdau). Essa foi a primeira virada de chave profissional.  Pela própria natureza do negócio (Siderurgia), os desafios na área de meio ambiente eram gigantes e encantadores para uma estudante de engenharia ambiental.

A empresa sempre prezou por questões voltadas para a governança, no Social era perceptível tanto no que tange a gestão do capital humano quanto aos cuidados e gestão do capital social, pois a preocupação com o entorno e partes interessadas já acontecia, e o ambiental que era a minha área de atuação direta, onde todos os processos da companhia trabalhavam de forma muito consciente e comprometida, dessa forma, posso dizer que em 2006 tive meu primeiro contato com o então chamado “ESG”.  Em 2008, foi possível trabalhar com um outro olhar, visto que estava em um negócio de serviços ambientais “Core Business” estava diretamente ligado ao tema Ambiental. Em 2012, tive a oportunidade de voltar para o setor industrial: Papel/ Celulose e Florestal. Desafio aceito.  Nessa época, já era mais comum em grandes companhias, falar na sinergia entre questões ambientais e sustentabilidade caminhando de mãos dadas para potencializar seus resultados. A empresa tinha um time enorme de sustentabilidade, profissionais dedicados ao tema, e toda gestão trabalhava com um olhar e ações que garantiam a “Licença Social para Operar”, isso era uma responsabilidade de todos na empresa, muito enraizado na cultura de forma natural e consistente. Em 2015, dando continuidade à minha trajetória e desejo de alçar novos voos, seguindo com desafios profissionais, optei por aceitar uma nova oportunidade com foco na evolução em minha carreira executiva e estratégica em sustentabilidade com todas as suas possibilidades, amplitude e desenvolvimento… Onde fiquei por 6 anos, até 2021, atual ciclo profissional de sustentabilidade ESG, agora no setor de Infraestrutura.

Ao longo dos anos, você acumulou experiência em diversos segmentos econômicos. Poderia compartilhar algumas das principais lições que aprendeu em diferentes setores?

Cada setor tem suas particularidades, desafios e oportunidades e sua materialidade. O que mais me desafiou além dos diferentes segmentos, culturas organizacionais por onde passei, ter que aprender sobre negócios distintos, convencer sobre a minha capacidade profissional e entregar bons resultados em cada posição que ocupei, foi aprender a ser política o suficiente para sobreviver ao mundo corporativo. Talvez as chamadas “soft skills”, sem passar por cima dos meus valores ou me afastar de quem eu sou e do que eu acredito. A lição que eu quero compartilhar é a minha evolução como liderança feminina, formar bons times, acreditar nas pessoas e em seu potencial único, me dedicar genuinamente a esse enorme desafio que para mim, sempre será sobre legado. No final do dia, independente do negócio, tudo é sobre pessoas.

O fato é que, muito além da atuação profissional, estudar constantemente e se atualizar, acompanhar os movimentos, tendências e prioridades globalmente falando, conversar com especialistas de cada um dos diversos temas que envolvem o ESG, que é um tema muito amplo e que traz muitos vieses e ainda trazendo para nossa realidade Brasil.  A velocidade das informações que envolvem ESG está alucinante. Os cenários mudam rapidamente, precisamos ter tranquilidade, equilíbrio e estar atentos, buscando sempre essa atualização e priorização para cada momento.

Qual é o papel da Sustentabilidade e dos Pilares ESG nos negócios atualmente, e como isso evoluiu desde o início da sua carreira?

Bom, eu comecei a carreira em 2003 focada em ISO 14.001, Licenciamento Ambiental, Gerenciamento de Resíduos, e de lá para cá muita coisa evoluiu e se organizou estruturalmente quando houve a compreensão da relevância dos aspectos socioambientais e como a governança corporativa seria o fator estruturante.

Apesar de muitas pessoas entenderem que sustentabilidade está mais atrelada ao futuro, claro que conectada as ações do presente, vale fazer o exercício de olhar no retrovisor para compreender o momento atual e o que levou à crescente demanda sobre o ESG com dados do tema Sustentabilidade e seus Pilares ESG.

Embora o assunto tenha ganhado maior destaque nos últimos anos, a preocupação com questões ambientais, sociais e de governança não é nova em nossa sociedade.  O olhar atento sobre a reputação das marcas, nunca esteve tão fortalecido quanto a crescente responsabilidade relacionada às questões socioambientais, e claro, elevando a régua da governança sobre os aspectos ESG e suas regulamentações que surgiram como uma prioridade crítica nas organizações. Podemos citar algumas, como a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, Lei nº 13.709/2018, que é a legislação brasileira que regula as atividades de tratamento de dados pessoais, outras medidas podem ser elencadas, a exemplo das atualizações e adaptações do Novo Mercado e do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), ambos da B3, a lei das Estatais, a adoção do IFRS Foundation  (International Financial Reporting Standards) e construção da padronização global através do ISSB (International Sustainability Standards Board) Normas IFRS S1 e S2, regulamentações da  U.S. SEC (Securities and Exchange Commission) os recentes atos regulatórios do BACEN (Banco Central), CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) que publicou o marco regulatório de sustentabilidade, e não parou por aí, diariamente temos visto novas regulamentações surgindo e fortalecendo a agenda, que por muito tempo esteve como ações voluntárias não vinculantes.

Sabemos que ainda não existe uma bala de prata para fazer uma gestão única e completa dos aspectos ESG, mas já existe um direcionador que deve ser a Governança, definir responsabilidades, priorizar e alocar esforços na construção da gestão estruturada dos processos.  Como gosto de dizer: a governança é fator estruturante e o que pavimenta a estrada ESG.

Mudando um pouco o foco para educação. Como professora, como você vê o papel da educação na disseminação dos conceitos de ESG e Sustentabilidade para futuros líderes empresariais?

Eu vou iniciar a minha resposta contextualizando sobre cultura, que é o comportamento humano. Em um processo de engajamento ou mesmo de mudança da cultura organizacional, só terá sucesso se for capaz de levar em consideração os fatores humanos.  O ser humano é o principal vetor de mudança, seja para o bem ou para o mal.

Na educação não é diferente, a base de tudo está concentrada no aprendizado. O conhecimento é sobre a construção de um universo que nos levará a capacidade de solucionar problemas e ser criativo.

Para evoluirmos e alcançar um desenvolvimento sustentável na prática, é preciso superar impasses, interesses próprios e construir consensos e valores democráticos. A qualidade do debate precisa evoluir, e o único caminho possível é a educação, conhecimento, o letramento da liderança atual e futura quanto a uma agenda tão relevante que não pode ser tratada tardiamente.  A falta do conhecimento fortalece a polarização, um lugar perigoso e pode nos levar a inércia e retrocessos que não cabem mais. Não temos tempo para atrelar essa responsabilidade aos líderes do futuro, precisamos de qualidade nas decisões com a liderança atual, com visão ampla e capacidade de conectar a estratégia ao futuro do negócio.

Vale lembrar que falar sobre futuro, é falar sobre as decisões que estamos tomando hoje…

Quais são os principais desafios enfrentados pelos educadores ao ensinar sobre Sustentabilidade e ESG? Como você aborda esses desafios em suas atividades educacionais?

O desafio consiste em estar sempre atualizado sobre um tema que globalmente está sendo discutido, regulado, que ainda passa por uma polarização e muitos vieses de interpretação, interesses, onde a velocidade das informações e muitas incertezas existem, em um mundo ansioso que espera que você tenha todas as respostas.

Vejo que chegamos em um momento de muitas inflexões, decisões, atitudes e posicionamento quanto à sustentabilidade. O que isso quer dizer? Que precisamos estar muito conscientes, bem embasados de dados e fatos, que estejam e sejam adequados a cada tipo de negócio, levando em consideração todas as partes interessadas de forma equilibrada, transparente e sempre abertos ao diálogo.

Além dos aspectos técnicos e conceituais, quais competências comportamentais e habilidades interpessoais são cruciais para profissionais que desejam ter sucesso na área de Sustentabilidade e ESG?

Sustentabilidade deve ser um grande e potente catalisador de inovação, impulsionando o pensamento estratégico sobre garantir processos orientados para alcançar cada vez mais resultados no curto prazo, sem que isso signifique comprometer o longo prazo, que sejam capazes de gerar valor compartilhado e perceptíveis em todas as partes interessadas. Estamos falando sobre a necessidade de um verdadeiro Capitalismo de Stakeholders.

Para navegar em mares com constantes mudanças amplas e disruptivas, precisamos de diversidade cognitiva no ambiente de tomada de decisões e nos sentirmos preparados e tranquilos para lidar com incertezas.

Quando cada indivíduo, em seu ambiente profissional, entender que precisamos promover um Ecossistema saudável, onde todos são respeitados em sua natureza, que assim, poderemos viver em um mundo onde todos importam, sobre um único sistema interligado e uma atitude individual gera impacto coletivo.  É hora de cuidarmos uns dos outros.

À medida em que a conscientização sobre a Sustentabilidade e os critérios ESG continua a crescer, quais desafios você vê pela frente na integração desses princípios nos negócios e na sociedade em geral?

O crescimento econômico sem levar em consideração a capacidade regenerativa do planeta, já mostrou suas falhas, consequências e prejuízos, e os stakeholders seguirão sancionando práticas cujos altos custos socioambientais não são levados em consideração, trabalhando na gestão de consequências, o que exige revisão, correção e mitigação, e consequentemente aumento de custos atrelados a ineficiência operacional. E toda ineficiência operacional, traz impactos socioambientais negativos.

Os aspectos econômico-financeiros seguirão dando o Tom evolutivo na agenda ESG, e seja por consciência, seja por inteligência, por necessidade, ética, compliance, seja por qual caminho for, mas a demanda pelo crescimento econômico sustentável é um caminho sem volta.

Por fim, qual conselho você daria para profissionais que desejam seguir uma carreira de sucesso na área de Sustentabilidade e ESG, com base em sua própria trajetória e experiência?

O Sucesso pode ser interpretado de várias formas. Mas, trazendo para a realidade da nossa conversa, o principal conselho que eu daria é compreender que tudo precisa ser construído, a jornada é efetiva somente quando cada passo, decisão ou escolha se conectou com o seu objetivo.  A pressa é um grande vilão na carreira, saiba viver o processo. Esteja preparado sempre, e aprenda com todas as experiências vividas.

Nossa carreira, assim como o ESG é um processo, não um resultado. Sonhar é bom, mas é preciso estar acordado para o sonho se realizar. “Assumam as rédeas de suas vidas e sejam protagonistas de suas histórias”.

** Este texto não necessariamente reflete, a opinião deste portal de noticias