Você está passando por situações difíceis ultimamente? Está lutando arduamente e não está conseguindo manter sua vida financeira equilibrada? Está sentindo raiva, medo e até tristeza diante dos desafios da vida? Não conseguiu criar o seu primeiro milhão de reais a partir dos 30 ou 40 anos de idade? Se você respondeu sim para a maioria dessas perguntas, você está vivendo no pecado! O pecado de não conseguir ser um super-homem ou uma super-mulher. O pecado de não conseguir fazer dinheiro mesmo ganhando pouco, aliás, você só ganha pouco porque quer. Observe quanto mestres de sucesso temos nas redes sociais, mestres que conseguiram comprar carros caríssimos, vivem em casas de luxo, vivem viajando e são habilidosos em toda e qualquer circunstância da vida. Eles não fracassam em nenhum desafio – são verdadeiros gurus da qualidade de vida e da prosperidade.
E se você está duvidando deles ou das minhas palavras é porque está com inveja por não conseguir alcançar o mesmo patamar. Você é o culpado pela sua dificuldade, você vive em pecado e não consegue a redenção divina. Mas, “como minha missão na vida é ajudar pessoas, vou disponibilizar gratuitamente um conteúdo para você sair dessa vida medíocre e alcançar em pouco tempo a riqueza que tanto deseja, pois todos podem ser ricos, prósperos e quem sabe milionários. Basta clicar no botão de saiba mais para iniciar sua jornada de enriquecimento rápido. Vou lhe ensinar o passo-a-passo para prosperar e sair do pecado da pobreza”.
E, se você chegou até essa parte do nosso diálogo, é porque provavelmente já encontrou várias afirmações como essas nas redes sociais e até comprou algumas mentorias ou cursos de ouro para o sucesso.. Mas, preciso lhe fazer um alerta: observe que essa retórica é a mesma utilizada em muitas igrejas modernas (não só as afirmações, mas até as estruturas físicas que se tornam palcos de pregações e palestras: ambientes mais escuros, muitas luzes, teatralização dos movimentos e das expressões, uso de analogias constantes e promessas, muitas promessas). Eu chamo essa nova vertente de “coachnismo” – a nova religião. Pense em quantas pessoas estão seguindo ardentemente esses “novos sacerdotes” do mundo digital que aplicam com frequência uma “ditadura da prosperidade”. Precisamos possuir (ter) para viver e, caso não tenhamos bens materiais e riquezas financeiras, não seremos. É uma alteração do “penso, logo existo”, para “próspero, logo existo” ou “compro, logo existo”.
Está cada vez mais evidente que os “novos fiéis” estão mergulhados na busca constante: querem mais cursos, mais mentorias (começam com cursos mais baratos e nunca param de comprar as novas atualizações). Estão viciados na dopamina de desejo! E, se não conseguirem alcançar o que foi prometido (pois nunca irão), é porque não compraram outros cursos ou treinamentos sagrados de complemento, não estão prontos ou não possuem permissão para viver a prosperidade.
Não estou dizendo que todos os treinamentos ou cursos são ruins, pelo contrário. Estou evidenciando que existem muitos manipuladores vendendo aquilo que conquistaram pregando o que nunca tiveram (e só conquistaram porque outras pessoas pagaram por isso). Quero evidenciar que cada vez mais estamos sendo orientados à frustração, à culpa e ao conceito de que todos podem tudo e que se não conseguimos é porque somos preguiçosos, auto-sabotadores ou fracos. Afinal, qual é o conceito de riqueza, de paz, de qualidade de vida e bem-estar? Quantos milhões estão sendo colocados na propagação da máquina de manutenção da “ditadura da prosperidade”? Estamos cada vez mais amargurados com o que já temos, com o que já vivemos e somos condicionados, dia após dia, através da ativação desregulada da dopamina de desejo, a querer mais, a fantasiar mais, a desejar mais.. Será que essa “nova religião” tem responsabilidade pelo quadro emocional da atual sociedade?