Padre Reginaldo Manzotti fala sobre o poder da fé, resiliência e aprendizados

Por Renata Rode

Fotos: Washington Possato / Divulgação

Você já ouviu muitas vezes a expressão “a fé move montanhas” e podemos afirmar que sim. O poder da fé é incontestável até para a ciência e já foi comprovado milhares de vezes. Aliás, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atesta que a fé influencia na saúde física, mental e biológica já que a crença pode diminuir os riscos de diabetes, doenças cardiovasculares, respiratórias, infartos, insuficiência renal e acidente vascular cerebral. Não bastasse tudo isso, a fé contamina e graças a Deus, não é mesmo? Por isso resolvemos iniciar o ano falando sobre o poder de acreditar, de crer e fazer o bem e nada melhor que Reginaldo Manzotti, o padre das multidões para nos falar sobre isso. De acordo com um estudo realizado na Europa, religiões estimulam algo essencial para o ser humano: o espírito de comunidade. Os fiéis normalmente não estão sozinhos, estão cercados de outros que têm a mesma fé, o que ajuda a superar a depressão e os problemas da vida. O sacerdote, escritor, músico, compositor, cantor e apresentador de rádio e TV concorda, é claro. Como a maioria de nós, o padre também precisou reiventar-se em meio à pandemia, assim, acumula milhões de visualizações em seu canal do YouTube distribuídas em seis apresentações on-line. Além disso, arrecadou mais de 720 toneladas de alimentos durante as transmissões, com uma média de 500 quilos por minuto, que foram repassados às instituições parceiras da Associação Evangelizar É Preciso e paróquias de todo o Brasil.

Considerado um fenômeno editorial, o Padre Reginaldo Manzotti já vendeu mais de 6 milhões de exemplares. Lançou seu 22º livro “A Nova Batalha”, em abril de 2021, pela Editora Petra. Na música, o sacerdote lançou o seu 5º DVD e 15º CD da sua carreira, “Tempo de Inovar” com a participação especial do DJ Alok, Naiara Azevedo e Gustavo Mioto. Já compôs mais de 35 canções e em 2013, foi indicado ao Grammy Latino pelo trabalho “Paz e Luz”.

Antenado com as mídias digitais, Reginaldo Manzotti tem mais de 7,3 milhões de seguidores no Facebook, mais de 3,8 milhões de seguidores no Instagram, mais de 2,82 milhões de pessoas inscritas em seu canal do Youtube, quase 700 mil seguidores no Twitter e mais de 200 mil em seu canal Vevo. Seu portal, www.padrereginaldomanzotti.org.br, que recebe mais de 1 milhão de acessos mês.

Acostumado a evangelizar pelos meios de comunicação, o padre apresenta programas de rádio e televisão que são retransmitidos e exibidos em mais de 1600 emissoras do país, além de outros países como: Inglaterra, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Angola, Paraguai, Bolívia e Uruguai. Embaixador da Pastoral da Pessoa Idosa no Brasil e com a parceria “Abracei” que ajuda mais de 10 mil crianças por mês através da Associação Evangelizar É Preciso, Padre Manzotti, presidente e fundador da Obra diz: “Tanto eu, quanto a Associação Evangelizar é Preciso, queremos em unidade ajudar os organismos e instituições, como a Pastoral da Criança e a Pastoral da Pessoa Idosa, com os menos favorecidos, os excluídos, como os idosos infelizmente são tratados atualmente. Nós fazemos um trabalho pastoral, pedindo voluntários para os organismos, visito casas de repouso e orfanatos”.

O apelido carinhoso de “padre das multidões” veio de um marco histórico: reunir quase dois milhões de pessoas em suas missas seguidas de shows, a exemplo de sua passagem por Fortaleza, no Ceará, em outubro de 2018, durante o XI Evangelizar, quando reuniu 1,9 milhão de pessoas no aterro da Praia de Iracema. Na ocasião, padre Reginaldo Manzotti celebrou aquela que foi considerada a terceira maior missa do Brasil. As duas primeiras foram celebradas pelos papas João Paulo II, em 1997, e Francisco, em 2013.

Em meio a tantos compromissos, é nosso convidado da primeira capa de 2022 justamente por conta de sua ousadia: Reginaldo Manzotti é um padre diferenciado, que encara seu propósito de vida sem estereótipos e de maneira muito natural. Tanto que respondeu a todas as nossas perguntas, com ensinamentos bem pontuais e sinceros.

O senhor é considerado um padre diferente afinal fala sobre tudo e todos, sem regras. Como é isso?

O sacerdócio não nos limita, podemos e devemos falar sobre tudo. Somos formadores de opinião e temos que ajudar a criar o censo crítico dos cidadãos. Temos um papel muito importante na vida de cada um da comunidade e o exerço da melhor forma possível, aconselhando nos programas de rádio e tv, etc.

Podemos dizer que o mundo evoluiu assim como a figura de pregadores ou seja, nós nos moldamos a uma nova era?

O mundo muda o tempo todo e precisamos no atualizar constantemente. Como já temos duas gerações que nasceram na era digital, busquei uma nova forma de me comunicar e utilizar essas ferramentas para evangelização. Eu relutei no início, mas entendi e aceitei que as redes sociais, sem dúvida, são os novos espaços a serem ocupados pela evangelização. A tecnologia é um caminho sem volta, avançando cada dia mais e mais. Então é preciso apresentar um conteúdo evangelizador, motivacional e ao mesmo tempo catequético.

Ser considerado o padre das multidões te assusta em algum momento? Qual o preço desse título?

Veja bem, esse título me foi dado pela mídia. Eu não me sinto desta forma. O grande problema da fama é quando você se acha famoso e eu sou apenas um instrumento de Deus para propagar a Palavra, essa é a minha missão e vocação.

Na primeira revista de 2022 falamos do poder da fé, já comprovado inclusive cientificamente. Para o senhor qual o poder da fé?

A fé é uma potência, a maior e mais poderosa força propulsora do ser humano. Não se trata de acreditar simplesmente: fé é um ato de confiança, de entrega total e absoluta. Isto é, ter a certeza sem contar com a comprovação como contrapartida. Como nos ensina a Carta aos Hebreus: “a fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver” (Hb 11,1).  Tenho testemunhado, aquilo que pesquisam comprovam, que a fé é fator importante e, eficaz aliada no processo de tratamento e cura de doenças. A fé nos fortalece no corpo e na alma para enfrentarmos e superarmos com coragem e resiliência os sofrimentos, dores e as tribulações da vida. Faz toda a diferença crer em Deus, e fazer a experiência com a pessoa de Jesus Cristo, nosso Salvador, Mediador e companheiro de caminhada.

Independente de religião, o fato de ser espiritualizado já reverte a condição do ser humano à evolução. Acreditar em algo maior faz diferença no dia a dia, certo?

Certíssimo. Imagine como seria triste passar pelos sofrimentos e até mesmo pelas alegrias nessa vida achando que somos um acaso, que nos originamos de uma explosão do Big Bang ou evoluímos de algum animal. É importante acreditarmos que na origem, no gêneses seja qual for a teoria, existiu e existe um Criador e somos feitos à Sua imagem e semelhança. Saímos de Deus e nossa alma anseia por Ele. Isso nos faz querer fazer em tudo Sua soberana vontade, seguir os ensinamentos de Cristo e viver os valores do Reino na busca da santidade. Crer que existe um Deus que é amor faz toda a diferença, torna mais leve qualquer fardo que tenhamos e nos fortalece a continuar a acreditar que dias melhores virão. Devemos também ressignificar o sofrimento e confiar em Jesus que disse: “No mundo tereis aflições, mas tendes coragem eu venci o mundo” (Jo  16,33). 

No quadro do Raul Gil o senhor não tirou o chapéu para várias pessoas e foi recorde de audiência afinal as pessoas tem curiosidade ao ver um padre falando dos outros. Isso é pecado? O que é pecado na sua forma de educar o espírito?

É o mesmo que ensina a Igreja Católica. Pecado é a transgressão aos Mandamentos da lei de Deus.  “O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana. Foi definido como “uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna” (CIC 1849) .

A Infomente é uma revista que defende que é preciso estimular a mente o tempo todo, pensar e analisar a fundo as questões. O que o senhor faz para exercitar sua mente?

Mesmo com uma rotina intensa, procuro manter minhas leituras em dias, normalmente leio dois livros ao mesmo tempo, um sobre a vida de algum Santo ou algo da Igreja e outro secular. Escrevo, e quando estou inspirado componho minhas músicas. Também me atualizo das notícias todos os dias pela manhã e claro, como sacerdote, tenho um ritual diário a ser cumprido, que se chama liturgia das horas. Pela manhã, faço minha primeira oração do dia, que se chama “Laudes”. Além disso, tenho a “Hora Média”, que pode ser feita entre às 9h, 12h ou 15h. A oração que deve ser feita ao anoitecer se chama “Às Vesperas”. Já no fim do dia, faço a “Oração das Completas”. Também pode ser feito uma oração com o Ofício das Leituras, uma oração que se faz pela madrugada, bem cedo ou bem à noite. A minha fé e a minha mente, exercito todos os dias, através da Palavra de Deus, leitura orante e Santa Missa diária.

Após a pandemia o que mudou na sua fé? Aliás explique por favor o significado de fé como algo maior ligado a espiritualidade.

Durante a pandemia, pude sentir com mais clareza a fragilidade humana. Às vezes, na nossa vaidade e arrogância, nos julgamos autossuficientes, achamos que não precisamos de Deus e nem de ninguém.  Creio que não só eu, mas todos fizemos uma autoavaliação de comportamento e valores. Tivemos que ressignificar perdas, superar as incertezas e confiar mais em Deus, assim como aprendemos a cuidar de nós mesmos e dos outros. Na espiritualidade, a fé é um dom gratuito de Deus, oferecido a todos os homens, sem exceção. Chamamos de dons infusos a fé, a esperança e a caridade. A fé é como uma semente. Quando nascemos, Deus planta em nós a semente da fé e nós nascemos com esta semente. É uma semente em potencial, que ainda não é ato, mas compete a nós darmos condições materiais para que a fé cresça. Ou seja, a fé é dom de Deus que não nasce separadamente da vontade humana, porque ninguém acredita se não quiser. Também ninguém acredita sem que Deus o permita.

Acha que a fé das pessoas está abalada com as coisas ruins que vêm acontecendo no mundo?

Não diria abalada, porque tenho visto como as pessoas, pela dor, se aproximaram mais de Deus. Mas, sim existe uma visão distorcida de que pandemia, inundações e outras catástrofes são castigos mandados por Deus. Nesse sentido, tenho insistido com veemência que Deus não faz isso, Ele é o Sumo bem. Porém, como um Pai zeloso, que nos ama, pode permitir que aconteça, não para castigar, mas para nos educar. Pois, o Senhor corrige a quem Ele ama e disciplina a quem aceita como filho (Hb 12,6). Precisamos, então, desfazer essa imagem de que Deus castiga, que se vinga. Ter na mente e no coração a imagem correta de Deus, que é do Pai Misericordioso, sempre disposto a nos perdoar e acolher no Seu amor.

Exercitar a fé é benéfico em todos os sentidos a própria programação neurolinguística diz que é uma forma de pensar positivo e estimular a evolução. Porque devemos exercitar a fé? Ela realmente tem o poder de mover montanhas?

Sim, pode mover montanhas. Foi o próprio Jesus quem garantiu, que se tivermos fé do tamanho de uma semente de mostarda, podemos dizer a montanha “vá daqui para lá”, e ela irá. E nada nos será impossível (cf. Mt 17,20).  Não podemos esquecer que a semente citada por Jesus é minúscula, mas depois que se desenvolve, torna-se um grande arbusto. Então, o segredo está em desenvolver a fé, não deixá-la estagnada, ter confiança em Deus, mesmo quando nossos esforços não são imediatos. Como já foi dito, a fé é um dom de Deus e se não exercitada, pode acabar. Além de sempre pedir a Deus que aumente a nossa fé, ela precisa ser estimulada, precisa ser nutrida pela leitura da Palavra de Deus, pela oração e pela vida sacramental. Para exercitar a fé também precisamos ter caridade, pois a fé cresce na prática da caridade.

 

 

 

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