Regiane Alves em sua melhor fase: a loba

Atriz comemora sucesso na TV, amor na vida pessoal e autoestima aos quase 45

Por: Renata Rode Fotos: Pino Gomes

No ar como Clara em “Vai na fé”, novela das 19h exibida pela Rede Globo, Regiane Alves enfrenta mais um desafio ao encarnar uma personagem polêmica, construída de uma maneira delicada. “A autora Roseane Svartman conseguiu cativar o público. Nas minhas redes existe uma comoção para a virada
da personagem e o grande sucesso da trama vem disso: retratar situações cotidianas. Na minha opinião,
quanto mais falarmos de abuso, de violência doméstica e nos colocarmos na pele da outra mulher que
infelizmente vive isso, mais estaremos ajudando a sociedade”, explica a artista. No folhetim, a personagem dela vive um relacionamento abusivo e tenta se reconstruir, ao sentir-se mais segura com outra mulher. Na vida real, a mãe de João Gabriel, de 9 anos, e Antônio, de 7, namora há 6 meses o empresário Duda Peixoto.

Prestes a fazer 45 anos, a menina nascida em Santo André, no ABC Paulista, reflete que vive uma de suas
melhores fases, tanto na vida pessoal quanto profissional. E pensar que o reconhecimento da atriz é fruto de persistência e dedicação, já que ela foi recusada em um primeiro teste para Malhação anos atrás. Lutou, morou sozinha no Rio e em São Paulo e conseguiu seu primeiro papel em uma novela no SBT chamada Fascinação. Desde aquela época, não parou mais. De novelas a filmes no cinema, de peças de teatro a clipes musicais, Regiane é colecionadora de prêmios por sua atuação mais que perfeita, principalmente, quando se trata de fazer vilã. Ela brinca que já teve que ser escoltada pela polícia durante gravações de “Mulheres Apaixonadas”.

Durante uma entrevista ao podcast Novela das 9, ela contou que foi agredida por uma mulher com um jornal na mão, que bateu no seu braço pedindo que ela fosse mais educada com seus avós e relembrou de uma situação que os seguranças da emissora agiram. “Também com a Dóris, gravando no Leblon, o segurança da Globo sacou que uma mulher estava vindo com dois rottweillers, passeando. Ela veio para cima de mim e ele entrou na frente. Ela falou: ‘Traz ela aqui que ela precisa levar uma surra de corrente’”.

Em meio às frenéticas gravações, transformação de visual e figurino de sua personagem, compromissos
profissionais e pessoais, ela atendeu a reportagem para uma entrevista exclusiva.

Temos que começar brincando, mas falando a verdade: você sempre chama atenção com seus personagens, né?
Eu não sei se eu chamo atenção. Eu, Regiane, prefiro sempre fazer a coadjuvante, que eu acho que, dentro de uma dramaturgia, tem todo um processo e tempo para se preparar. A novela começa com os protagonistas, sendo que no meio da trama os coadjuvantes entram em ação. Depois no final, fecha com os protagonistas novamente. Eu acho que quando a gente tem oportunidade de fazer o coadjuvante, a gente tem um tempo maior de preparo, de estudo e aproveita mais as cenas. Então eu sou uma pessoa que realmente gosta de estudar, de pensar em toda essa trajetória da personagem. Acho que acaba chamando atenção nesse sentido. Tenho muita paixão pelo que eu faço e isso transcende, o público capta essa energia. Atualmente estou me sentindo muito acolhida por essa personagem, a Clara. Eu acho que é uma personagem de gosto popular, as mulheres torcem por ela, pelo movimento, pela iniciativa. É uma grande vibração quando ela começa a acontecer e desabrochar. E o público acompanha toda mudança, vem junto, sabe? Eu não sou uma atriz que tenho o benefício de ter informações sobre o meu personagem. O que torna muito especial.

Podemos dizer que esse foi seu maior desafio na carreira até agora: vivenciar uma personagem
polêmica (por conta do relacionamento com outra mulher) em uma novela das 19h?
Olha, eu não sei se é o meu maior desafio. Acho que o maior desafio foi ter feito a Joanna de Ângelis no
cinema em “Divaldo, o Mensageiro da Paz” que teve o um significado muito importante na minha vida por conta da busca da espiritualidade, por ter também ter sido escolhida pelo Divaldo Franco. E então, foi mais que especial, porque foi uma personagem que só tinha fala, não tinha muita composição corporal, então foi um grande desafio, mas também foi muito gratificante. Acho que a Clara é um personagem tão polêmico quanto a Dóris. Estou comparando a esse momento. As pessoas estarem comentando tanto, falando do beijo. Mas acho que é bom de fazer a Clara porque ela é muito um retrato da sociedade. Era uma mulher típica de classe média alta que sofre um abuso e começa a refletir. Quanto mais a gente falar sobre a violência doméstica, o abuso, mais vamos poder ajudar mulheres a entender o que estão passando, já que esse tipo de problema acontece em todas as classes sociais. No ar, o desabrochar dela, a procura pela autoestima, a força que ela vai criando, isso tudo é muito importante para passar uma mensagem para as mulheres então denomino um trabalho de identificação. Não sei se é o maior desafio, mas ele também é muito forte.

Você declarou que uma prima sua usou o exemplo de sua personagem para se assumir e que é comum vermos mulheres mudando de opção sexual após os 40. Na sua opinião, porque isso acontece?
Eu tenho uma prima mais jovem que se assumiu por uma opção dela e nós temos o maior respeito na família. Agora, quanto ao que retratamos na novela, acho que realmente acontece muito essa mudança. É difícil falar porque eu não tenho essa experiência de viver uma relação homossexual e nunca passei por isso, mas pela identificação da personagem, percebi que a decepção com o masculino pode servir para que a mulher se sinta mais acolhida por outra semelhante, entende? Também acho que 40 anos é uma grande virada na vida. Eu não tenho nada contra, realmente, eu nunca tive uma vontade dessas, mas acho que quanto mais livre os seres humanos forem, mais felizes serão. Isso é até um mantra que a gente fala, para que todos os seres do planeta sejam livres, para serem felizes, e é nisso que eu acredito.

Qual foi a cena ou parte mais difícil, na sua opinião e o que pode ainda adiantar com exclusividade que não revelou para ninguém?
Ah, a sequência de cenas em que começa a cair a ficha dela, em que ela começa a entender realmente quem é o marido, é carregada de emoção. Também o enredo é recheado de atrizes e atores talentosíssimos. Acho que também era um auge da personagem, do que estava acontecendo. Você fazer toda essa transformação: ela pega o marido com a namorada do filho, aí ela vai tirar satisfação, aí a namorada e a mãe contam realmente quem é o marido e ela vai tentando entender e, ao mesmo tempo, ela vai e defende o filho, enfim, são cenas complexas e importantes. Adoro fazer as cenas com o meu filho, o Caio Manhente, e todos os outros do elenco; todo mundo entrega tudo e eu tenho sorte de ter tão bons companheiros ali.

Você já foi perseguida nas ruas por conta de fazer muito bem uma vilã em “Mulheres Apaixonadas”, . Qual foi a sensação?
Ah, não sei se é muito boa, né? Ao mesmo tempo entendo que é um reflexo do meu trabalho. Por um lado, eu acho engraçado, por outro quando vem alguém te ofender, é um pouco estranho. Isso quer dizer, acho que é um reflexo de que eu estava fazendo o meu trabalho direitinho. Da mesma forma que agora, o que apareceram de fãs clubes da Clarena, além de presentes, carinhos, chocolates, enfim, é o reconhecimento puro de um trabalho bem feito e sou grata.

Como é a mãe do João e do Antônio? Super protetora ao extremo? Fale um pouco da sua rotina e como divide seu tempo entre os meninos e o trabalho.
Eu amo ser mãe. Acho que foi uma coisa que eu desejei muito tempo. Demorei cinco anos para engravidar do primeiro filho. E depois veio o segundo tão rápido. Eles têm só um ano e quatro meses de diferença e são muito parceiros. Parceiros da minha vida e parceiros entre eles. Amo ser mãe, amo explicar, amo cuidar. Não sou superprotetora ao extremo, mas eu faço questão de participar muito da vida deles. O meu objetivo é cria-los como crianças independentes, que aprendam desde já, alguns segredos sobre a vida. Passo para eles que trabalhar é algo muito bom, desde que você faça aquilo que ama muito. Eu sou super incentivadora aos esportes e tenho certeza que essa prática faz toda a diferença na rotina, disciplina e conduta deles. É uma maratona, aula disso, daquilo, leva e traz e eles sempre juntos. O bom de uma idade próxima é isso, porque eles fazem as coisas bem juntos. Eu sempre tento levá-los ao teatro, a uma exposição ou inserir a cultura de diferentes maneiras. Sou super orgulhosa. Tem um filho muito inteligente, o outro é muito voltado o esporte. E, ao mesmo tempo, você sabe que cada um tem uma necessidade. É uma sensação de que ser mãe, ser atriz e mulher, e namorada, é ser uma mulher polvo, tem que dar conta de tudo. Mas é isso, é um dia de cada vez.

Você revelou que se sente melhor agora com 40 anos, mais madura, independente. O que a Regiane de hoje falaria para a Regiane de 20 anos atrás?
Eu falaria ‘calma, que vai dar tudo certo lá na frente’. Eu acho que aos 20 anos a gente tem uma pressa de que as coisas aconteçam, uma força que a juventude tem e às vezes você se atropela um pouco em algumas situações. Eu acho que com os 30 também a gente vai revendo um pouco, eu tive alguma crise, foi perto dos 30 anos, do que eu queria, para onde eu ia, como ia ser minha vida. Aos 40 eu posso dizer que realmente cheguei no auge. E agora eu vou fazer 45 e não tenho vergonha de dizer que acho bom envelhecer, porque nos vemos mais conscientes da nossa atitude, do que queremos, do que não queremos e dos nossos limites. Mais do que tudo, o reconhecimento das conquistas é o que vale. Então acho que eu falaria isso.

Na Infomente, falamos muito em saúde mental. Como você cuida da sua?
A saúde mental é a base de tudo. Eu sou praticante de ioga desde os meus 20 anos. Além disso, tenho um aplicativo de meditação que uso sempre que posso, antes de dormir ou durante um voo, por exemplo. Acho que essa conexão que a gente tem que ter com a gente é muito importante, ainda mais quando somos mães porque você se dá ao luxo de ter uma hora, de ter meia hora, só para você e para se refazer. Sempre aconselho minhas amigas a separarem uma hora do dia só para elas, seja para uma massagem, seja para uma leitura, para um encontro em um almoço, enfim, algo que seja só para você, sabe? Eu acho que é assim que a gente se cuida. Acredito na fé, acredito nos bons pensamentos, creio que o que você pensa, você joga para o universo e ele retribui. Sempre fui, sou e serei adepta ao positivismo. Acho que é uma filosofia para mim. Ah, e claro, também faço pilates, além de atividade física três vezes por semana e me reservo o direito de assistir também a uma série.

Aos quase 45 anos você está plena, linda, no ar e namorando! Como está sendo essa reconstrução para você e para os meninos?
(porque você disse que eles não te deixavam namorar antes, né?) Eu acho que realmente foi uma reconstrução. Acho que foi uma opção minha queria ficar assim tanto tempo solteira porque foi uma reconstrução mesmo de valores, do que eu queria. Eu não estava em busca de um amor, acho que aconteceu. Quanto aos meninos, fui conversando muito com eles, porque a gente tem que ser, mãe, mas ao mesmo tempo não pode perder o lado mulher. Era uma pessoa que eu já conhecia de amigos, e rolou naturalmente. O fato de ele ter um filho também ajuda; inclusive as crianças acham ótimo porque ganharam um irmão por tabela e tudo aconteceu da maneira mais pura e verdadeira possível. Eu não acho que ter filhos atrapalha. Acho que tudo é questão de muito diálogo, questão de compreensão de todas as partes, saber que cada um tem o seu espaço e ir adaptando. Eu conversei muito com eles, de que o amor de mãe e filho é um amor completamente diferente de um homem e de uma mulher. Ninguém vai roubar o lugar de ninguém. Acho que é só agregar assim. É assim que eu penso e tento fazer.

Sobre o etarismo: como é envelhecer para você?
É muito bom envelhecer com uma mente saudável. É muito bom poder analisar de maneira madura
uma situação e descobrir o que pode ou não ser benéfico em um contexto. Eu acho normalmente
quem tem esses preconceitos em relação à idade, talvez sejam pessoas mais novas, mas infelizmente elas também caminham pra esse caminho, todos iremos envelhecer. Acho que não tem como fugir.
Faço pilates com um senhor de 82 anos e pretendo chegar nessa idade como ele, com a cabeça boa,
conversando, trocando ideias, com disposição, com saúde. Enxergo isso como uma benção. Tudo é
uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.

Quais outros planos para 2023? Outros trabalhos além da novela?
Bom, eu tenho uma peça em vista para estrear no final do ano em São Paulo e vou com a novela até agosto.

Ainda tem sonho de fazer algo que não fez profissionalmente?
Eu acho que o sonho é sempre que o próximo personagem seja melhor. Vivemos nessa busca constante.

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