“Quem não reconhece a mãe, não se tornará mulher”

Quantas mulheres você conhece que apresentam dificuldades com a própria imagem ou características da personalidade? Como sempre digo para mulheres, “quem não reconhece a imagem materna, não compreende a própria imagem”. Eu sei que pode até parecer estranho essa afirmação, mas saiba que todas as janelas de memórias criadas nesse relacionamento entre mãe e filha irão influenciar como essa mulher irá viver as próprias experiências.

Para nossa conversa de hoje, quero trazer uma relação entre transtornos de personalidades que identifiquei em muitos casos atendidos: a relação entre filhas borderlines e mães narcisistas. Sim! Não é porque nos tornamos mães ou pais que somos isentos das próprias dificuldades de consciência ou comportamento. E como essa relação é extremamente dolorida para quem convive com ela e muitos diagnósticos são superficiais para esses casos, decidi trazer esse tema para pensarmos juntos.

Para iniciarmos nossas reflexões, quero explicar rapidamente para você algumas características do transtorno de personalidade borderline que envolve: intensidade, instabilidade de humor diário, compulsões e vícios diversos, surtos psicóticos esporádicos (demonstrando o limite), ansiedade crônica, tendência suicida e quadros depressivos. Nesse ponto, já podemos nos lembrar de nossas conversas anteriores sobre a relação dessas emoções e comportamentos com a deficiência de determinados neurotransmissores (serotonina, dopamina), hormônios (cortisol, adrenalina), vitaminas (principalmente, do Complexo B) e até nutrientes que garantem a saúde mental. Já o transtorno de personalidade narcisista envolve: estrelismo, vitimismo em situações que precisa aparentar perder para ganhar algo, conclusão de nunca ter dificuldades ou necessidade tratamento, pensamento pautado pelo “perde-ganha” (sempre precisará ganhar, mesmo numa conversa), ausência de empatia, mania de grandeza, entre outros.

Agora, vem a pergunta: como ocorre a relação de uma mãe (e pai também) narcisista e uma filha (ou filho) bordeline? Primeiro, precisamos compreender que o transtorno borderline se traduz pelo conflito de separação (medo do abandono) e estado de dependência emocional com a figura materna que irá durante a história apresentar omissão as respostas de amparo, auxílio, atenção ou mesmo excesso de “proteção” (nesse caso, sufocamento para realização das próprias necessidades). Essa omissão irá instalar na criança uma falta de confiança para o mundo externo (outras pessoas) e para si própria (enquanto indivíduo), além de uma instabilidade humor gigantesca.

É muito comum verificar nesse modelo de relacionamento a figura materna atacando a filha (física e/ou
verbalmente) gerando assim uma espécie de bode expiatório na figura da filha em relação às experiências da vida. Mas quando existem outros irmãos, é prática comum a existência do “filho de ouro” – aquele que mesmo apresentando os piores comportamentos e decisões sempre estará certo e aparentemente o único que supre os desejos dessa mãe ou mesmo do pai.

Essa filha viverá permanentemente em estado de estresse e ansiedade (desde pequena) e apresentará um enorme medo do futuro – com pensamentos repetitivos de que “nada dá certo em sua vida”. Porém, muitas vezes, os diagnósticos são dados apenas sobre os quadros de ansiedade e/ou depressão, mas ocultando a verdadeira raiz desses conflitos: o transtorno de personalidade borderline. Durante as experiências interpessoais, essa filha sempre buscará relacionamentos de “completação” e não complementariedade – ela não compreende que as pessoas caminham com ela para agregar e não completar um vazio que nunca é preenchido, pois ele foi gerado a partir da disfuncionalidade de relação com seus pais. Um exemplo claro dessa disfunção que impacta não só a formação da personalidade, mas também a bioquímica é o momento de amamentação – momento esse que garante a liberação de ocitocina (hormônio do amor) por meio do toque e do olhar da mãe para o bebê. Esse desequilíbrio bioquímico também poderá afetar a forma como a pessoa se permite amar o mundo externo (pessoas) e a si mesma, pois, no histórico familiar, sempre foi condicionada a ser uma ferramenta para o auto brilho de seus progenitores.

Nesse contexto, as filhas sempre serão e se sentirão desvalorizadas quando apresentarem atitudes de autonomia – gerando um grande sentimento de insegurança e dúvidas sobre as próprias habilidades, já que quando decidia por conta própria ou negava alguns abusos psicológicos era chamada de ingrata e durante o seu desenvolvimento individual, ficará visível a oscilação entre o comportamento de submissão e rebeldia.

Claro que trouxe apenas uma possibilidade dentre várias para a origem do transtorno borderline, pois ele é multifatorial. E dentro dessas variáveis ainda podemos pensar na relação com o próprio transtorno borderline ou narcisista dos pais, na comunicação familiar baseada no abuso, na mentira, na manipulação, na recompensa por comportamentos de obediência, na punição dos comportamentos de autonomia e criatividade, na disfuncionalidade das respostas maternas às necessidades da criança que serão dadas pela oscilação de humor da mãe, entre outros. Agora, se você reconhece esses elementos em sua vida ou conhece alguém que sofre com situações semelhantes, é importante compreender que
a terapia é insubstituível, que a correção dos hábitos, o reconhecimento do próprio processo mental, a suplementação e a melhora alimentar podem auxiliar efetivamente, mas que em muitos casos em que a vida da pessoa está em risco a psiquiatria precisará ser utilizada.

Por Marcos Pereta
Psicoterapeuta com pós-graduação em Nutrição Clínica Ortomolecular, pós-graduação em Neurociência e especialização em Teoria da Inteligência Multifocal e Gestão da Emoção.
@m.pereta
www.mpereta.com.br

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