O Poder da História de Susana Jabra

Conselheira e mentora com experiência de 35 anos em mais de 25 companhias, executiva fala sobre a dedicação de empoderar outras mulheres como ela

 

Susana Jabra tem uma trajetória invejável no mundo dos negócios. São mais de 35 anos de experiência em empresas de médio e grande portes, com proficiência em governança corporativa, em seu conceito amplo, incluindo os aspectos ambientais e sociais das companhias – ESG. A bacharel em Economia pela FEA-USP, já participou de importantes operações realizadas no mercado de capitais.

Conselheira independente e mentora de conselheiros e acionistas, Susana atua há mais de 20 anos como conselheira de administração e fiscal, em mais de 25 companhias listadas na B3. A profissional é ainda certificada como Conselheira de Administração Experiente IBGC (CCA+ IBGC) e por experiência como Conselheira Fiscal. Mediadora certificada pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.

Susana também é mentora de executivas em vários programas desde 2017. Possui experiência em empresas de diversos setores – energia, mineração, logística, tecnologia, construção civil, alimentos, financeiro, mídia, autopeças, telecomunicações, ambiental e cultural.

Que orientação de vida você daria para alguém que te admira ou se espelha em você?

Além da atividade como conselheira, tenho dedicado parte do meu tempo para a mentoria de conselheiras e outros profissionais, em especial mulheres, que abraçaram uma carreira semelhante à minha.

O meu entusiasmo com a mentoria vem da vontade de contribuir para o desenvolvimento de pessoas mais jovens com carreiras em áreas corporativas e financeiras a atingirem os seus objetivos de crescimento e realização profissional de forma sólida, com dedicação e propósito. Além disso, costumo dizer, que é necessário “falar/passar algumas mensagens” que eu gostaria de ter ouvido de outros profissionais há 30, 40 anos, quando iniciei a minha jornada. Apesar de ter tido pais que nos encorajaram e incentivaram, a mim e meus irmãos, a estudar sempre e nunca desistir do que quiséssemos realizar na vida, com determinação, persistência e, acima de tudo, de forma correta, respeitando os nossos valores, faltou-me a perspicácia de observar quando o trabalho se tornava pouco promissor em termos de reconhecimento e crescimento.

Penso que quatro elementos foram extremamente importantes para mim. Primeiro, seguir sempre os princípios, valores e a conduta ética que aprendi em casa e no colégio; segundo, estudar, preparar-se para o que quer alcançar com afinco, ter determinação e muita persistência, em terceiro lugar, fazer o que gosta lembrando que o trabalho deve ter um propósito. Em quarto, ter a certeza de que não realizamos nada sozinhos, somos seres que interagem com outras pessoas que também têm os seus anseios e objetivos.

Devemos pensar e contribuir para o crescimento de todos. Isto é para a vida toda, em qualquer cargo, em qualquer empresa/instituição. Não posso deixar de salientar que o trabalho é uma parte da nossa vida e que somos influenciados pela nossa educação e herança trazidas de nossos pais e da família, das escolas, dos nossos mestres, dos amigos e dos nossos relacionamentos.

A minha família e os meus professores foram o meu alicerce, a minha filha me deu forças e muita alegria (além de muito orgulho da mulher e profissional que ela se tornou – e do neto que me deu), o esporte foi uma válvula de escape e “relax” e o piano foi e é o meu bálsamo em inúmeras situações difíceis e comemorativas também! A música, assim como outras formas de arte, nos inspiram e preenchem a vida de alegria. Penso que todos devemos ter uma atividade da qual gostamos muito, além do trabalho e das responsabilidades do dia a dia.

Você se imaginou chegando no patamar que está em sua carreira?

Sou conselheira há mais de vinte anos, mas uns dez ou cinco anos antes disso não imaginava que seria conselheira de administração ou fiscal de grandes companhias. Iniciei a carreira em uma época em que as mulheres tinham muito mais dificuldades e barreiras a vencer do que atualmente, se comparadas aos colegas homens. Tornei-me gerente de uma grande empresa ao redor dos 30 e poucos anos e portanto responsável também pelo desenvolvimento de outras pessoas, homens e mulheres, negros e brancos, jovens e mais velhos que sempre fiz questão de tratar com igualdade e justiça. Desde então, pensava em alcançar cargos mais altos para ter a oportunidade de mudar algumas situações que eu observava e pensava que deveriam ser diferentes para termos ambientes mais respeitosos e emocionalmente seguros para as pessoas.

Mesmo não sendo da área de recursos humanos, todos nós, ao abraçarmos uma carreira em que atuaremos com equipes sob a nossa responsabilidade, somos gestores de pessoas e, portanto, com a missão de orientá-los e ajudá-los a se desenvolverem e crescerem como profissionais e como seres humanos. Importante também a nossa contribuição relacionada à necessidade de melhoria em processos diversos, outras possibilidades de realizar o trabalho, e atenção aos comportamentos e condutas, sem falar nos temas de inclusão e diversidade nas equipes, sempre preocupada com a continuidade dos estudos e formação dos colaboradores para que não ficassem aquém do que era esperado em relação ao trabalho e atingir as suas ambições profissionais. Observava tudo e fazia o que estava ao meu alcance, mas muitas vezes, concluía não ser suficiente. Eu não era uma voz solitária, tive colegas, homens e mulheres, que pensavam como eu, observávamos diversas oportunidades de mudanças, muitas vezes expúnhamos aos executivos das empresas/instituições o que poderia ser alterado, mas o status quo não era favorável a novas ideias.

Com o passar dos anos, sempre seguindo em frente com muita determinação e superando muitas adversidades, passei a trabalhar na área de investimentos de um grande fundo de pensão e fui então, indicada como conselheira de administração na primeira empresa, de capital aberto e líder do setor onde estava inserida. Logo percebi que faltava na minha formação o conhecimento de um assunto essencial para exercer a atividade: governança corporativa, além de legislação societária, regulamentação do setor da empresa e tantos outros com os quais nos defrontamos no dia a dia como conselheiros.

Passei a estudar com muita dedicação, além de ouvir e observar muito os colegas de conselho e os gestores da empresa, ampliando os meus conhecimentos. Concluí que era dessa forma – sendo conselheira – que teria a oportunidade de opinar e sugerir mudanças concretas nas empresas onde eu pudesse atuar como tal. Observei que os colegas conselheiros e gestores, com valores iguais aos meus, não mediam esforços para que novas formas de trabalho em diversas áreas fossem implantadas.  Claro que isso ocorria com planejamento, respeitando o tempo necessário para a análise da situação e a implantação de cada melhoria, além de previsão orçamentária e um excelente planejamento estratégico que já incluía, naquela época, as questões sociais, de meio ambiente e de governança corporativa, que era o ponto forte daquela empresa.

A partir dessa experiência, ficou claro que eu tinha o perfil, o conhecimento, a experiência diversificada e a habilidade em negociar necessárias para atuar como conselheira em outras empresas e setores, além de gostar muito deste trabalho. Para mim, era o resumo de, através de vários instrumentos, contribuir para que os negócios crescessem! Como bacharel em Ciências Econômicas pela FEA-USP e com experiência em estudos econômicos, área financeira e de planejamento em banco e empresas de médio e grande porte, decidi aprofundar-me em finanças e contabilidade gerencial formalmente. Nessa época, já havia obtido o MBA em Finanças pelo IBMEC SP (hoje Insper) após dois anos de curso e, desde então, nunca mais parei de estudar diversos assuntos relacionados às questões corporativas como risco, compliance, novos regramentos, dentre outros.

Após alguns anos, obtive a certificação como conselheira de administração por experiência e em seguida como conselheira fiscal, também por experiência, pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, onde sou instrutora. Em seguida, procurei o curso de Mediação de Conflitos que cursei na Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo e obtive a certificação como mediadora pelo CEJUSC – SP. Reconheço que o caminho foi árduo e longo mas extremamente gratificante! Em meados de 2023, fui convidada para ser uma das coautoras do livro “Mulheres no Conselho” da Série Mulheres da Editora Leader, em que tive a oportunidade de contar resumidamente a minha história pessoal e profissional.

O que fez diferença em questão de valores que aprendeu na infância, por exemplo, que aplica até hoje inclusive no mundo corporativo?

Considero a nossa bagagem de educação e formação familiar responsável pela construção do nosso caráter, personalidade e tantas outras características que trazemos desde a infância para toda a vida.

Aprendi com os meus pais e avós, dentre outros valores, a ser justa, honesta, ter dignidade, persistência e compreensão com as pessoas menos favorecidas, tanto intelectual quanto economicamente. O conhecimento, adquirido através do estudo, das leituras, conversas com nossos mestres e outras pessoas, a determinação, a sensibilidade, o respeito, as oportunidades de ajudar vêm do nosso olhar sem preconceito e vontade de ver outras pessoas se desenvolvendo e crescendo neste mundo! Na infância, meus irmãos e eu fomos incentivados a estudar tudo que nos interessava e o que gostávamos.

Aprendemos a valorizar as oportunidades de obter novos conhecimentos não só no colégio mas nas aulas de música e nos concertos que frequentávamos semanalmente, aos domingos, no Theatro Municipal de São Paulo. Esta era uma das paixões dos meus pais que também herdamos e, desde muito cedo, aprendi que somente com muita determinação e dedicação atingimos os nossos objetivos. Neste caso, refiro-me a tocar bem um instrumento, o piano. A preocupação com a educação formal sempre foi e é uma constante. Penso que deveríamos ter políticas públicas fortes para desenvolver parte da população que ainda não tem acesso às escolas públicas, mas com programas de ensino de qualidade, situação que existia há 30, 40 anos nas escolas públicas no Brasil.

A história recente já nos provou que é possível ter melhores escolas que formem uma população preparada para alçar voos mais altos. Com o passar dos anos e relembrando as nossas experiências de vida e de trabalho, podemos dizer que mesmo diante de muitas adversidades, os nossos valores continuam os mesmos. Honestidade, conduta ética, dedicação, persistência, determinação, seriedade, vontade de ajudar outras pessoas, busca de melhoria pessoal em diversos campos são características que não mudam, o que ocorre é que amadurecemos e passamos a enfrentar as situações com mais sabedoria, advinda das inúmeras experiências.

O que você pode apresentar sobre inovação?

Como economista, estou sempre atenta ao que pode ou deve ocorrer no futuro. Devemos estar atualizados sobre desenvolvimento tecnológico, novas formas de produção ou novos processos de um negócio ao longo do tempo, a chamada inovação, tão importante e presente em empresas que valorizam e buscam o crescimento constante.

Os últimos dois séculos desafiaram a humanidade a se adaptar a novas formas organizacionais nas práticas de negócios, soluções de produtos melhorados e incomensurável avanço científico além das mudanças nas relações externas. O século 21 nos desafia com um novo pensar e a aceitação da forte presença das novas tecnologias em áreas que não imaginávamos há algumas décadas. Como conselheira, preocupo-me em estudar e atualizar-me sobre as inovações tecnológicas em geral e sobre o que afeta os setores e os negócios das empresas onde atuo.

Quando perguntam se conheço pessoas especialistas em inovação para atuar em conselhos, logo pergunto “em qual setor?” pois cada conselheiro é responsável por conhecer e adquirir conhecimento seja sobre novos negócios, produtos e processos ou tecnologia, seja sobre qualquer outro assunto que possa influenciar o desenvolvimento da empresa/instituição em que ele atua.

Com base na sua experiência, o que você gostaria de destacar além das respostas aqui de cada pergunta que seja relevante para essa entrevista?

Tenho uma preocupação constante com a formação – educacional e ética – das novas gerações e a velocidade que ocorrem as transformações em todos os setores da vida humana. As reflexões quanto ao futuro estão sempre rodeando as minhas ações e perspectivas de médio/longo prazo e, cada vez mais, tenho a convicção que precisamos, com urgência, transformar o nosso ensino básico.

É através de uma base rica em informações e aprendizados que serão formadas pessoas e profissionais responsáveis e comprometidos com a eliminação das diferenças gritantes de oportunidades que presenciamos atualmente. Não me refiro somente às questões de diversidade de gênero e raça mas, também, àquelas menos discutidas como a inclusão de deficientes, a social e a cultural. Uma sociedade que não lê, não estuda, não consegue eliminar as injustiças e não se desenvolve como poderia.

Que legado quer deixar?

Penso que o maior legado que um ser humano pode deixar é ter a certeza de que fez a diferença não só para os seus descendentes, mas para o seu meio. Saber que muitas mulheres estão hoje construindo a sua história de sucesso e fazendo o que gostam – pessoal e profissionalmente – porque uma geração anterior foi exemplo em um ambiente muito mais hostil, me dá esperança de que contribuímos para um mundo com mais igualdade, ética e paz!

E como conselheira, gostaria de dar um conselho de vida: desistir, nunca!

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