O cravo e a rosa luso-brasileira

Portugal está em festa, pois neste mês comemora os seus 47 anos da Revolução dos Cravos, que colocou fim à ditatura salazarista. Bem, e a quantas isto interessa a nós, brasileiros? Diversamente à nossa realidade militar atual, a Revolução teve como seus principais protagonistas 200 capitães e majores de cuja atitude pôs fim a um dos regimes autoritários mais longos do século 20. Em verdade, na madrugada de 25 de abril de 1974, exatamente a 0h25, a Rádio Renascença, emissora católica portuguesa, transmitiu a canção Grândola, Vila Morena,” do compositor José Afonso. A música era o sinal esperado para que jovens militares do Movimento das Forças Armadas (MFA) dessem início à
Revolução dos Cravos, com o propósito de restabelecer a democracia em Portugal, paralisada desde 1933 pelo Estado Novo de António de Oliveira Salazar, que governou o país até 1968, quando passou o poder ao seu herdeiro político, Marcello Caetano. Na ocasião, os soldados colocaram cravos na ponta dos seus fuzis, durante o levante; a flor, que simbolizava a resistência pacífica, acabou dando nome à revolução. Das festividades sobre a Revolução dos Cravos, nosso presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva seria o convidado de honra, inclusive com direito à discurso alusivo à data do evento no Parlamento Português. Destarte, após o comentário de Lula sobre a guerra na Ucrânia, em que mencionou que: “os países da União Europeia, incluindo Portugal, juntamente com os Estados Unidos estariam contribuindo com a continuidade da guerra” abalou o Parlamento Português. Segundo parlamentares portugueses de direita, Lula está alinhado com os russos e decidiram mudar a data do discurso. Com a chegada da comitiva brasileira a Portugal, ucranianos inconformados com a fala do presidente protestaram em frente à embaixada brasileira sob fortes críticas a Lula e à primeira dama,
a qual chamavam de “Esbanja”. O protesto parece ter surtido efeito, pois o presidente, preocupado com a iminente possibilidade em passar constrangimento no evento, decidiu cancelar a sua presença. Por sinal, vale abrir um parágrafo para falarmos sobre a comitiva que acompanhou Lula à Portugal. Foram 75 pessoas entre autoridades, assessores e convidados, sendo necessários 2 aviões, 22 veículos, com direito a hospedagem em hotel 5 estrelas, com diárias de até 22 mil, e tudo pago com dinheiro do contribuinte. Assim fica fácil fazer cortesia com o chapéu alheio. A quem diga sentir saudades do antigo presidente O intuito da visita à Portugal, além do 47º aniversário da Revolução dos Cravos incluía a possibilidade de o Brasil firmar um Tratado de Acordo com a União Europeia que viabilizasse o livre comércio com aquele continente, entretanto, o tiro saiu pela culatra, pois parlamentares portugueses disseram que países europeus não devem realizar negócios com aliados de Putin. A postura de Lula, sem sombra de dúvidas, causa estragos aos interesses nacionais. Durante entrevista oficial em solo português, Lula foi questionado por uma repórter portuguesa sobre a sua fala: “de que países da União Europeia, incluindo Portugal estariam contribuindo para a continuidade da guerra na Ucrânia”. Como resposta, fingiu por duas vezes não ter entendido. Não entender o dialeto alemão, mandarim, inglês tudo bem, mas o português aí já acho demais! Pois bem, a visita seria para expandir o comércio nacional e prestigiar o 47º aniversário da Revolução dos Cravos, porém, o final foi desastroso em meio a roteiro de novela brasileira, o Cravo e a Rosa, protagonizados por atores amadores. O cravo possui sua simbologia, dada a grande variedade de cores e grande significado mitológico, a flor cravo representa, na maioria das culturas mundiais, a boa sorte, ou seja, o dom de atrair bênçãos e vitórias. Muito citada na literatura, o cravo tinha um significado especial: enquanto que a mulher era representada pela rosa, o homem era representado pelo cravo. A história portuguesa cruza-se com o cravo quando, em 1974, Celeste Caeiro encheu a revolução de cravos e é–lhe atribuído um significado maior: o da liberdade. Por sua vez, “A rosa é a flor de maior simbolismo na cultura ocidental. A Rosa é uma flor consagrada a muitas deusas da mitologia. Símbolo de Afrodite e de Vênus (deusa grega e romana do amor). O cristianismo adotou a rosa como o símbolo de Maria. De acordo com o mito grego, Afrodite quando nasceu das espumas do mar, tal espuma tomou forma de uma rosa branca, assim a rosa branca representa a pureza e a inocência. “Inúmeros são os mitos sobre a rosa, em geral tem o significado do amor, seja espiritual, carnal, virginal”. Nessa viagem à Portugal, o Brasil se coloca em condição de instabilidade comercial e os reflexos devem trazer consequências desastrosas à economia e às relações internacionais. Com efeito, o infeliz comentário fez eco em proporção negativa. A interpretação dada sobre o assunto conota, certo modo, apoio à regimes autoritários, esquerdistas ou comunistas, como queiram chamar. É certo que não somos o dono da verdade, mas, acredito que aos chefes de Estados deve-se redobrar a forma de se policiar em seus posicionamentos, pois, um homem mesmo diante de seus pensamentos mais sólidos, jamais deve se afastar da figura do representante, o qual fala em nome de uma nação, ainda que esta nação esteja dividida entre a insanidade e o conformismo, os reflexos serão sempre uniformes. Por conclusão, é verossímil que a ficção se confunde com a realidade, na qual os personagens sob as melhores autuações nem sempre conseguem suas melhores interpretações e, portanto, o reconhecimento fica à mercê da insatisfação e o resultado vira canção popular, em que: “o cravo mais uma vez brigou com a rosa”.

Por Dr. Émerson Tauyl
Advogado criminalista, especializado em Direito Militar e Segurança Pública, com escritórios em São Paulo e Praia Grande
@emerson_tauyl

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