Leticía Aügustín: “O que me motiva é que posso mudar a vida das pessoas, como atriz”

Artista completa, ela revela que desabrochou após uma superação pessoal e fala sobre espiritualidade, talento, propósito e desafios

Por: Renata Rode

Fotos: Divulgação

Ela tem cara de menina e está no auge dos seus 26 anos, mas podemos dizer que a sabedoria não condiz com a idade que carrega. Mesmo jovem, Leticía Aügustín demonstra maturidade não só através de seu discurso, como também ao revelar um pouco sobre sua trajetória de vida. Natural de Goiânia, a atriz atualmente reside no Rio de Janeiro, para se dedicar totalmente à carreira. Ela fez parte do elenco da obra teatral “O amor passou por aqui”, que abordou a temática do amor em suas diversas manifestações. Tanto a produção quanto a atriz destacaram a atualidade dos relacionamentos efêmeros, embora sempre subsista a esperança por um amor genuíno. “Nem sempre o amor da sua vida é um encaixe perfeito para a sua jornada e é preciso saber também aprender com isso”, declara a artista que vem conquistando holofotes. 

Do início no teatro às telas de cinema, a ascensão foi rápida e inspiradora. Além dessa última produção em que contracenou com André Luiz, marido de Larissa Manoela, ela também já fez “Show Antropológico”, “A Falecida”, “Tartufo”, “O Beijo no Asfalto” e “Boneca”. “O teatro pra mim é um local sagrado, de entrega pura e onde a mágica acontece porque ali você tem a resposta direta do público e isso é viciante”.

Formada em nutrição, Letícia conta que passou por uma transformação em sua vida para escolher a arte como trajetória para sempre. “Iniciar na área de saúde foi uma cura pra mim de um processo que enfrentei de transtorno de imagem e que me abriu os olhos de maneira marcante para a vida pessoal e profissional. Nunca me vi atendendo em consultório porque sou extremamente inquieta, mas através do estudo, iniciei minha transformação de dentro pra fora e fui mordida pelo bichinho da arte quando desabrochei. Venci uma fase de distúrbios alimentares e me apeguei ainda mais à fé, percebendo que posso fazer diferença na vida das pessoas”, desabafa, com lágrimas nos olhos. Sim, assim Letícia Aügustín descobriu seu propósito e, sem perder tempo, se entregou aos estudos de teledramaturgia, desta vez com o apoio da família e amigos.

Apaixonada pela cultura, Letícia se formou em artes cênicas pela Escola de Atores Wolf Maya e já realizou vários outros cursos de audiovisual. Além de atuação, ela também dança, pratica vários esportes e nutre uma paixão pela música. “Toco piano, violão e canto. Estou sempre buscando aperfeiçoar meus talentos porque sou uma eterna perfeccionista e amante do movimento e da evolução, inclusive espiritual. Sim, sou ligada ao lado místico e isso também é um dos segredos para estar em equilíbrio e me entregar cem por cento em tudo que faço”. 

A ruiva leva tão a sério o que faz que no último carnaval foi musa da Dragões da Real, escola de samba do grupo A de São Paulo e encantou a todos com sua beleza, carisma e samba no pé.

Conversamos com ela sobre carreira, desafios, vida pessoal e descobertas. 

 

 

Você é uma artista multifacetada, que precisa estar com a saúde em dia para dar conta de tantos afazeres. Como lida com seu corpo?

Cheguei a enfrentar distúrbios alimentares no passado e isso me fez mais forte e focada. Nas artes cênicas, também passei por momentos difíceis que levo como experiência mesmo, para toda a vida. Na adolescência, quando era vítima de bullying, e em ocasiões em que não estava em meu melhor estado para atuar, por não estar bem emocionalmente. Hoje lido melhor com isso e sou uma voz que pode ser ouvida e não canso de dizer: ame-se, cuide-se, respeite-se, essa é a chave. É claro que para me curar da bulimia passei por várias fases e profissionais e aprendi que é preciso buscar ajuda. No começo dos problemas eu escondi essa falta de aceitação própria e quando o problema surgiu pra valer cheguei até a ser internada e hoje falo sobre isso sem problema, me coloco como uma voz para alertar as pessoas. Eu sei muito bem qual é a dor de tentar seguir um padrão de estética surreal que adoece a gente. Cheguei a vinte quilos a mais do que tenho hoje de compulsão alimentar e fui do oito ao oitenta. A nutrição veio pra mim como uma cura e eu despertei e aprendi que é preciso equilibrar tudo para estar bem. Hoje, sou feliz fazendo arte e por ter essa mídia espontânea que vem do meu trabalho também quero usar o microfone não só pra falar sobre meus trabalhos, como também, falar da superação enquanto pessoa, mulher, jovem, ser humano e servir de exemplo e inspiração para outras pessoas.

Como era sua relação com a família quando isso aconteceu?

Meus familiares e amigos não sabiam, só souberam quando já não tinha mais freio. Hoje eu quero ser instrumento para descoberta disso em outras famílias e pessoas, para ajudar mesmo o próximo. Hoje não deixo a terapia, tenho que estar dentro do meu equilíbrio mental, físico, espiritual e emocional. Os transtornos nascem de desequilíbrios como ansiedade que viram uma bola de neve. Dentro da nutrição aprendi a me cuidar e me sentir bem com meu corpo.

 

Tudo começou com que idade? Para que a gente possa usar a matéria também como prestação de serviço já que você quer deixar esse alerta aqui e nós somos uma publicação que fala muito de saúde mental?

Olha comecei com uns 13 anos, e lembro que foi quando eu já tinha alguns anos de ballet. Tudo se agravou quando comecei a ser cortada de espetáculos e coreografias porque estava um pouco fora do padrão da bailarina convencional. Cresceu um sentimento em mim de ser excluída o tempo todo por não estar naquele molde que todo mundo te obriga e isso dói demais. Assim aprendi a ter maturidade à força, sabe? Eu não passava nos exames por conta do meu peso e isso era uma pressão que eu não estava preparada. Hoje, com as redes sociais, é preciso estar sempre alerta. Essa é a dica que eu deixo. Ame-se em primeiro lugar, sempre.

Você era loira e ficou ruiva. Como foi essa transformação?

Eu sou muito mística, adoro quando as energias “batem”. No mundo místico eu sinto sinais e, em uma das consultas que fiz, a mulher me disse “Parece que te vejo ruiva”. No dia seguinte eu já tinha corte de cabelo marcado, então, perguntei ao meu cabeleireiro o que ele achava de mim sendo ruiva. À princípio ele disse que não ficaria bom, depois pegou uma peruca e disse “Amiga, acho que vai ficar interessante”. Como uma boa sagitariana com cinco casas em Capricórnio, sou daquelas que precisa ir, mas ver aonde vai antes. Por isso fiz o teste da paleta de cores e deu que é o mesmo da Marina Ruy Barbosa e da Grazi. Ou seja, duas mulheres que eu me inspiro, uma ruiva e outra loira. Como loira, na mesma semana marquei pra ficar ruiva e combinou muito, principalmente com o tom de pele, e eu me identifiquei “super”.

Essa superstição te abre mais portas?

O cabelo ruivo me abriu mais portas e me deu mais sorte, sim. E é aí que eu acredito, quando penso “nada é por acaso, tudo tem um propósito”.

Depois de todo esse sucesso de “O amor passou por aqui”, quais seus planos?

Quero investir mais no audiovisual, fazer cinema, streaming, explorar outras habilidades. O meu foco sempre foi o audiovisual. Ainda que eu goste de teatro. Começar no teatro é estratégico para que o ator crie bagagem. O teatro estimula a humildade, já que dá muita mão-de-obra. Eu acredito que tenha precisado passar pelo teatro para estar como estou hoje, mais capacitada, e ter mais segurança.

A beleza ajuda ou atrapalha na carreira?

Os dois. No meu caso eu tenho que provar o tempo todo que sou mais que um rostinho bonito e as pessoas duvidam disso quase que direto. É claro que dependendo do papel que você vai atuar isso é determinante ou não mas é possível sim por exemplo fazer uma vilã, como a própria Marina Ruy Barbosa já provou e tantas outras atrizes maravilhosas fizeram. Sinto que é necessário se despir de padrões e biotipos mesmo e deixar a arte falar mais alto, sempre.

Quem é sua atriz referência, claro que deve ter várias, mas fala de uma inspiração?

A Fernanda Montenegro é uma delas, para mim ela é a admiração do Brasil.  Mas hoje, quem eu me inspiro mesmo, é a Ísis Valverde, pelo fato de que ela mira no mundo a menina mulher que não deixa de ser mulher. Que é meiga, delicada, mas ao mesmo tempo também “vende” aquele mulherão. Ou seja, ela consegue fazer vários tipos de papeis com esse jeito dela, que possui uma certa sedução e um lado menina.

Se você não fosse atriz, o que seria?

Ah, acredito que bailarina, pois eu fiz muitos anos de aula e adorava, então, comecei a ir para outros ramos da dança. Tanto que eu fui pra esse lado do samba, e hoje estou por aí também nos carnavais. Mas acredito que eu não sairia deste mundo da arte.

 

Falando em carnaval, como é fazer parte dessa grande festa?

É uma explosão de emoções, mas também tem muito ensaio e técnica para a execução do que vamos fazer ali. É você entrar com seu mundo imaginário no mundo imaginário de outra pessoa, pois ela está ali te vendo, “viajando” com você. Entretanto, precisamos ter jogo-de-cintura para saber lidar com imprevistos, porque nem tudo acontece como é o programado. E meu lado atriz ajuda bastante nesse contexto.

O que te move nessa vida de atriz, que é tão concorrida?

O que me motiva é colocar a minha cara à tapa e de saber que posso mudar a vida das pessoas através de uma história, de uma interpretação, com um personagem. Meu desafio é mostrar todos os dias que não sou só um rostinho bonito, que tenho talento, dedicação e entrega. A quem quer me limitar a esse estigma, eu provo de que sou algo mais e de que vou além.

Na vida pessoal, como está o coração?

Eu retomei um relacionamento do passado com um médico, que é de uma área completamente diferente e acho que precisamos mesmo desse afastamento. Ninguém ficou com ninguém, seguimos as carreiras numa separação por um ano, e retomamos. Eu tinha terminado e resolvi ter a iniciativa de retomar. Precisei me dedicar por um ano única e exclusivamente ao teatro e para a carreira para me preparar e agora estou pronta para seguir pro audiovisual. 

E os ciúmes, como fica pelo fato de ser artista?

A parceria e confiança precisa ser mostrada apenas pros dois. Meu namorado é cirurgião plástico, eu tenho que entender que ele vai ver fotos de peito e bunda a vida toda, operar isso direto, etc e ele me respeita e posso dizer que está um a um o placar. Brincadeiras à parte, sonho sim com um casamento e constituir família e ainda jogo para o Universo que quero ter dois filhos. 

E Letícia por Letícia, se for se autodescrever?

Sou uma pessoa determinada, focada, disciplinada, mas ao mesmo tempo uma menina que veio de um mundo totalmente diferente e que sabe onde quer chegar. Tudo que faço na minha vida eu me entrego de corpo e alma. Sou uma pessoa que enfrenta, persiste, dá tudo de si, mergulha, confia, entrega, faz, acontece e transmuta vivendo a arte que é onde eu me enxergo pra tornar esse mundo pelo menos mais prazeroso.

Você é sempre engajada no que faz, tanto na vida profissional quanto na pessoal quando falamos em projetos sociais, certo?

Sim, sempre que posso me entregar a algo, principalmente para ajudar as pessoas, eu faço e realizo. Do fato de ser musa de uma escola de samba, por exemplo, à presença em um evento grandioso do G10 Favelas quero passar a mensagem de que podemos mudar o mundo. Fiz isso com minha vida, faço isso com minha arte, e de maneira constante, procuro evoluir em todos os sentidos, sempre praticando a empatia e o bem. Sabe aquela coisa de jogar pro Universo que tanto gosto? Temos que fazer nossa parte! 

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