Juliana Oliveira Nascimento

“Sou uma entusiasta do ESG, que vê o tema como um propósito alinhado à visão de integridade
organizacional”

Advogada especialista em ESG, Compliance, Governança Corporativa, Riscos, Controles Internos, Continuidade dos Negócios e International Business, ela ainda é Risk Advisory Senior Manager na KPMG e cofundadora do Compliance Women Committee

Juliana Oliveira Nascimento possui experiência relevante no âmbito corporativo, com mais de 19 anos atuando em projetos estratégicos e de alta complexidade. Ela possui, entre tantas formações, mestrado em Master of Laws in International Business Law pela Steinbeis University de Berlim (Alemanha) e em Direito pelo Centro Universitário Autônomo do Brasil (UniBrasil). É pós-graduada no LL.M. em Direito Empresarial Aplicado pelas Faculdades da Indústria do Sistema Fiep/Sesi/Senai/IEL; em Direito e Processo do Trabalho pela Academia Brasileira de Direito Constitucional(ABDCONST) e em Estado Democrático de Direito pela Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Paraná (Fempar). Em meio a tantas atribuições, Juliana ainda é palestrante, escritora, docente em pós-graduações e cursos, organizadora de livros, sendo o mais recente: “Mulheres ESG”, lançado pela Editora Leader, entre outros títulos.

Como foi o seu “encontro” com o universo ESG?
O meu encontro com o ESG já veio, tempos atrás, quando já nas cadeiras universitárias fiz parte de estudos relacionados a questões ambientais, sustentabilidade e Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Durante o período da faculdade, pude estudar de forma profícua os temas de Sustentabilidade, Direitos Humanos, Ética, Biodireito e Bioética, por meio do grupo de Pesquisa Jus Vitae, coordenado pela minha professora Maria da Glória Colucci. Foram os primeiros passos da minha formação voltada a temas relevantes para o ESG. Diante desses estudos tive a honra, em 2008, antes da conclusão da minha graduação, de ficar em 2° lugar na premiação dos relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Nós Podemos Paraná, com o Trabalho “Direito à Saúde: A Medicina Preditiva e o Câncer de Mama”. O prêmio foi organizado pelo Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial da Federação Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Na época tive a ciência de que o projeto que ganhou o primeiro lugar era de uma instituição; deste modo, sendo eu ainda uma estudante, pessoa física e já ter galgado a segunda posição, foi para mim um grande êxito. Depois fui finalista do Prêmio Ozires Silva com a vertente de uma visão Econômica e Sustentável para as organizações, alinhada a visão de integridade corporativa.

Olhando para os desafios da Agenda 2023, quais você acredita que são os maiores pontos de atenção?
Sobre esta questão, destaco o contexto trazido no Global Risk Report do Fórum Econômico Mundial de 2023, que apresenta pontos importantes dos riscos com os impactos ambientais, sociais e de governança. Para os próximos 2 anos os dez riscos mais relevantes são: crise de custo de vida, desastres naturais e clima extremo, confronto geoeconômico, falha em mitigar as mudanças climáticas, erosão da coesão social e polarização, danos ambientais em grande escala, falha na adaptação às mudanças climáticas, crime cibernético generalizado e insegurança cibernética, crises de recursos naturais, migração involuntária em larga escala. Deste modo, estes são os maiores desafios, conforme o relatório do Fórum Econômico Social que evidencia um mundo que enfrenta diversos impactos econômicos, questões com a inflação, custo de vida, crises, guerras, mercados, mercados e a geopolítica. Além disso, o uso de tecnologias, e a pressão crescente de impactos e ambições das mudanças climáticas, dentro de uma janela cada vez menor para a transição para um mundo de 1,5°C. Isso representa os novos riscos emergentes ou que estão acelerando rapidamente nos aspectos econômico, ambiental, social, geopolítico e tecnológicos. Neste contexto, para Saadia Zahidi, Managing Director do Fórum Econômico Mundial, os líderes globais devem se unir e adotar uma abordagem coordenada de múltiplas partes interessadas para enfrentar os desafios globais implacáveis e construir resiliência antes da próxima crise”, a persistência dessas crises já está remodelando o mundo que em que vivemos, inaugurando uma economia e reflexos em avanços na tecnologia.

Em relação à governança, como podemos democratizar o assunto para efeito de letramento?
O tema da Governança entendo ser bastante difundido no Brasil. A questão se encontra na sua efetividade. No caso do ESG, observo um momento que novas vertentes passam a integrar a visão da gestão das companhias, com os aspectos ambientais e sociais integrados a consolidação da governança. Diante disso, o letramento deve se dar da alta administração, começando pelo Conselho de Administração, por ser o guardião dos princípios, valores e visão estratégica da organização. Nesta linha, se faz pertinente também o papel da Diretoria executiva na realização das ações que devem ser materializadas na condução dos negócios de maneira transparente, ética e íntegra.

Analisando o mercado de forma macro, quais setores você apontaria como aqueles que estão conquistando maiores avanços na agenda? Por que você acredita que esse movimento está sendo
efetivo para eles?
Com relação aos avanços na agenda, o mercado financeiro está à frente com a regulamentação trazida em 2021 pelo Banco Central no Brasil, ainda, em 2022 pelas disposições apresentadas pela SUSEP ao mercado segurador. Neste sentido, enfatiza-se também as disposições da Comissão de Valores Mobiliários que passa a ter a exigir das companhias a apresentação das questões ESG, no Formulário de referência. Assim, no cenário internacional o ESG tem ganhado uma relevância importantíssima, isso se destaca com as medidas no âmbito regulatório que estão avançando, como ocorre na Europa. Ademais, o mercado tem observado a evolução do tema que está sendo pauta para o processo de decisão por parte dos investidores ao redor do mundo.

Você enxerga que o mercado de governança tem estado mais aberto para mulheres?
Com as questões ESG, o tema da equidade de gênero no mercado corporativo e posições de liderança, tem sido pauta nas organizações e na perspectiva dos investidores. Diante disso, há um trabalho relevante para mudanças dos números atuais, pois a presença das mulheres nos altos cargos precisa aumentar, de maneira expressiva ainda. Salienta-se que a participação das mulheres em conselhos de administração subiu para 16% em 2022, segundo estudo do ACI Institute da KPMG no Brasil, mas ainda é um número que precisa melhorar muito. No que tange as mulheres negras, a questão precisa ser ainda mais trabalhada. Neste sentido, destaco os trabalhos realizados pelo programa Conselheira 101, que tem o foco na formação de Conselheiras Negras e pardas e que tem aberto o mercado para as profissionais se desenvolverem. Além disso, tem-se iniciativas como o Women in Corporate Directors no apoio das mulheres em Conselho. E também para formação tem-se o Programa Diversidade em Conselho (PDeC), criado em 2014 e que que atualmente conta com apoio da B3, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), International Finance Corporation (IFC) e WomenCorporateDirectors (WCD) Foundation. O Compliance Women Committee, do qual sou umas das cofundadoras com a Dra. Anne Caroline Prudêncio, também é um grupo que tem o papel de trazer a pauta das mulheres e do atingimento delas a posição de C-level e Conselhos de Administração.

Por Dani Verdugo
CEO & Founder do Grupo THE, mentora e conselheira, empresária e coautora a do livro “Mulheres no RH – Vol. II” @_daniverdugo

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