Um dos exemplos de empreendedorismo e gestão femininos, Janete Vaz é puro conhecimento. A bioquímica é uma das fundadoras do Grupo Sabin, rede com laboratórios de saúde espalhados por 11 estados brasileiros. Hoje, ela exerce o cargo de Presidente do Conselho de Administração do grupo e claro, tem muito a ensinar.
Que lição de vida você daria para alguém que te admira ou se inspira em você?
Em primeiro lugar, tenha fé. A fé é o pilar que me sustenta. É Deus quem me inspira a aprender todos os dias e a não temer os desafios. Em segundo lugar, acredite nos seus sonhos. O Sabin nasceu de um sonho, pois eu sempre me enxerguei como uma empreendedora de excelência. Terceiro: Tenha uma visão positiva do futuro, ao mesmo tempo que mantenha os pés no chão. Quando cheguei a Brasília, em 1980, eu já queria começar o meu negócio. Cheguei a reservar uma loja na Asa Norte. Mas, quando vi que ainda era prematuro ter o próprio negócio, busquei um emprego, uma sócia e o aprendizado no serviço público. Entenda: Ninguém constrói nada sozinho! Foram 7 anos com uma jornada tripla, nas esferas pública, privada e pessoal até a transição definitiva para me dedicar ao meu negócio de forma exclusiva. O sucesso vem da resiliência somado à perseverança. Os obstáculos certamente virão, mas utilize-os como mola para te lançar para o próximo nível. São eles que nos trazem os maiores aprendizados e nos garantem mais força para os passos futuros. E por último, entenda que a estabilidade não existe, seja em um emprego ou em sua própria empresa. Faça da sua competência a sua estabilidade!
Você se imaginou chegando ao patamar que está em sua carreira?
Minha motivação nunca foi financeira. Assim como a maioria das mulheres, eu e a Sandra pensávamos em exercer uma atividade que me trouxesse satisfação pessoal. Queríamos fazer a diferença e inovar. Tínhamos muita garra, coragem, determinação, muita vontade de acertar.
O que fez diferença em questão de valores que aprendeu na infância, por exemplo, que aplica até hoje, inclusive no mundo corporativo?
Meus pais me ensinaram muito sobre respeito à vida, visão, inovação e simplicidade. São valores que sempre estiveram presentes na minha trajetória empreendedora. Aprendi sobre negociação na minha infância, ainda pequena, observando meu pai, Antônio, a negociar gado e lavoura no alpendre de casa, na fazenda. Meu pai era um visionário. Aprendi com ele que precisamos honrar nossos compromissos. Ele dizia: “Sua palavra vale mais que a sua assinatura”. Ele tinha seu jeito próprio de fazer gestão. Não tinha ferramentas complexas, mas não dispensava a calculadora e as suas planilhas. Mas, certamente, não tinha uma multidão de conselheiros. Papai era ético, honesto, humilde e cheio de determinação. Com minha mãe, Geralda, aprendi a ser zelosa e excelente em tudo. Ela sempre foi muito dedicada à nossa família e ao nosso bem-estar; e também ao cuidado com ela mesma. Ela sempre foi uma mulher vaidosa e elegante. Estava sempre bem arrumada, cheirosa e com um sorriso no rosto. O DNA de cuidar das pessoas eu herdei dela!
O que você recomenda para quem quer um time mais inovador?
Destaco três pontos importantes. Primeiro, para ensinar as pessoas a inovar, é preciso ensiná-las sobre o real conceito do erro. O medo de falhar, e da punição a partir do erro, é que bloqueia todo o processo de inovação. O alinhamento ao propósito da empresa é que traz as pessoas certas para os lugares certos; portanto, teste a hipótese, gere sentimento de pertencimento e provoque seu time a encontrar o caminho, mesmo sem ter as respostas prontas. Em segundo, é importante investir na diversidade, tanto de pessoas quanto de formação, quanto de faixa etária, quanto de opiniões. Um time homogêneo, com características e perfis comportamentais semelhantes tem mais dificuldade de inovar. A diversidade amplia a visão. E em terceiro, invista em boas práticas de ESG (Environmental, Social and Governance) como estratégia em negócio, para além dos resultados consistentes e sustentáveis. Quando o ESG está ligado diretamente ao dia a dia da gestão, as estratégias econômica, ambiental, social e de governança se articulam, assegurando mais transparência, ética, competitividade e perenidade para o negócio.
Que legado você quer deixar?
É muito bom quando a empresa se torna maior do que a gente. Porém o sucesso profissional só vale a pena se as demais áreas da sua vida também estiverem em plenitude. Quero deixar uma empresa que contribui para que as pessoas que por ali passam, se sintam reconhecidas, acolhidas e se inspirem a cuidar de outras pessoas; e, mais do que isso, ainda realizem seus sonhos pessoais e profissionais! Eu sempre digo para os novos colaboradores que chegam: “Tire o seu sonho da gaveta! Aqui ele é bem-vindo!”.