Cynthia Kasai: “Entre trabalhar com propósito e ganhar dinheiro, eu escolhi os dois”

Líder das áreas de ESG, Comunicação e Impacto Social da C&A Modas fala sobre os desafios da agenda 2023

Cyntia Kasai é um nome de destaque quando falamos do Universo ESG afinal, a Gerente de ESG, Comunicação e de Impacto Social da C&A Brasil pratica uma Liderança Feminina, engajada com Empreendedorismo e com a agenda de DE&I, ainda atuando como membro de diversos comitês setoriais e de ESG. Sim, a executiva com mestrado em Sustentabilidade pela POLI-USP, graduação em Engenharia de Produção pela UNESP, e MBA Executivo pela FGV ainda contabiliza a especialização em Gestão de Sustentabilidade Empresarial pela Universidade de Cambridge e formação em Governança Corporativa e ESG pelo IBGC. “São mais de 15 anos contribuindo com o desenvolvimento de estratégias de sustentabilidade, impacto social, governança, fortalecendo práticas e aumentando a geração de valor para os acionistas e stakeholders de empresas nacionais e internacionais.

Como foi o seu “encontro” com o universo do ESG?
Meu desenvolvimento pessoal e profissional foram fundamentais para “pensar ao contrário” e trilhar o
caminho da Sustentabilidade, antes mesmo dessa palavra ficar em tão voga. Eu sempre me identifiquei
com a visão da economista e hoje Chief Purpose Partner da EB Capital: “entre trabalhar com propósito e ganhar dinheiro, eu escolhi os dois”.

Olhando para os desafios da agenda 2023, quais os maiores pontos de atenção?
No pilar de governança, com foco na ética e responsabilidade empresarial, é preciso ir além do walk the talk e de fato aprofundar o que precisa ser feito e se comprometer a trazer transparência nas ações reais das empresas. Focar em metas e projetos que conectem seu core business à responsabilidade social e aos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. É essencial criar ações concretas e comunicar à sociedade de forma transparente como sua organização está se posicionando frente ao tema. O ESG em 2023, mais do que nunca, será encarado como uma questão urgente e que impacta fortemente os negócios, tanto que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passa a exigir cada vez mais transparência sobre informações ESG das companhias de capital aberto. E quando se fala de transparência, ética e responsabilidade, estamos falando do pilar de governança! É por ela que iremos influenciar nas decisões e políticas da organização.

O que você destacaria como prioritário no Brasil, em relação à COP?
A última COP27 representou um marco na política ambiental e climática do Brasil, voltando a ser tratada como prioridade em diversas esferas e trazendo um grande impulso e alerta às empresas brasileiras. Nosso país ocupa uma posição central nas discussões acerca do meio ambiente e é mais do que prioritário que o ESG faça parte das pautas dos Conselhos de Administração. Já foi comprovado que empresas que adotam práticas ESG estão menos expostas a prejuízos provocados, por exemplo, por desastres ambientais, processos judiciais ou mudanças regulatórias impostas com a finalidade de reduzir impactos socioambientais. É necessário discutirmos novas medidas para mitigação dos GEE: reduzir as emissões, reduzir e reverter a perda florestal, acelerar o ritmo da redução do uso de carvão, ampliar iniciativas de adaptação lideradas localmente e interromper o financiamento para combustíveis fósseis. Ainda, é importante trazer maior transparência em relação a temáticas relacionadas ao clima visando um direcionamento de capital para a transição para uma economia de baixo carbono, com base na economia circular e capitalismo regenerativo.

Em seus conteúdos você tem abordado muito a respeito da relação entre comunicação e ESG. A
seu ver, como se dá essa ligação?
Eu vejo que ao conectar as práticas ESG à comunicação, além das empresas fortalecerem sua imagem
como responsáveis e comprometidas com questões ambientais e sociais, elas também conseguem
atrair investidores e consumidores que valorizam a responsabilidade social e ambiental. Para fazer essa
conexão, é preciso que as práticas ESG estejam claramente integradas às estratégias da empresa, de
modo a reforçar sua imagem de comprometimento com a agenda; Também é necessário comunicar
as práticas de forma clara e objetiva, alinhada com as metas e estratégias da empresa é importante para
evitar promessas vazias e garantir a transparência das informações (competência essa que a C&A é
tão reconhecida), engajar stakeholders para aumentar credibilidade e reputação da empresa,apresentar
relatórios com divulgação de resultados que destaquem a concretude das práticas e estabelecer uma
dinâmica de atualização e acompanhamento de resultados, com o objetivo de sempre compartilhar os
avanços da empresa no sentido ESG.

Analisando o mercado de forma macro, quais setores você apontaria como os maiores avanços
na agenda?
Destaco o setor de varejo de moda. Sabemos que a indústria têxtil é responsável pela emissão de cerca de 8% dos gases tóxicos que contribuem para as mudanças climáticas e a segunda mais poluidora do
mundo, então é claro que os esforços em prol dessa mudança precisam ser realizados por esse nicho urgentemente. Com isso, vejo que o setor tem se movimentado em busca das melhores práticas, como a moda circular, que repensa os processos produtivos das nossas roupas e acessórios e que impacta positivamente diversas frentes, como o ambiental e o desenvolvimento social dos trabalhadores da cadeia de produção e fornecimento.

Na sua opinião, qual setor mais tem influenciado a agenda positivamente?
A pauta de ESG está ganhando maturidade no Brasil, como costumo dizer, é uma longa jornada. Neste
sentido, existem empresas mais engajadas que outras, e o setor de alimentos e o setor de beleza vêm
se destacando como impulsionadores da agenda de ESG.

A C&A é uma referência em sustentabilidade, governança e agenda social. Em sua visão, como vocês tem influenciado outras companhias no mercado?
Somos pioneiros e referência nacional no monitoramento de fornecedores subcontratados, no uso
de matérias-primas mais sustentáveis e no fomento à economia circular. Com uma moda fashion,
acessível e feita de forma responsável, tornamos as escolhas sustentáveis fáceis para as nossas clientes.
Acredito que a partir da colaboração, da transparência e de um olhar para as economias regenerativas, a moda tem a oportunidade de usar sua influência para o bem do planeta e das pessoas. A mudança deve acontecer de forma conjunta! Um exemplo prático é a nossa coleção de jeans Circular, produzida a partir da reciclagem de peças coletadas pelo Movimento ReCiclo, urna de coleta de roupa usada presente em mais de 200 lojas da C&A e sobras de produção, em parceria com a Cotton Move. As peças são produzidas a partir do upcycling de itens usados, por meio da recuperação das fibras de tecido que dão origem a um novo produto. Os novos produtos são industrializados com matérias-primas e processos socioambientais auditados e certificados, recebendo a certificação Recycled Claim Standard (RCS). Em 2022, a coleção jeans circular utilizou 2 toneladas de jeans usados, que foram doados pelos clientes. Nós provamos com esse case que a colaboração e o engajamento de todos os elos da cadeia é um fator muito importante para que a sustentabilidade aconteça

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