A morte é temida pela maioria das pessoas; entretanto, pode ser considerada como um alívio para aqueles que não encontram alternativas para seus problemas e buscam, por meio de comportamentos autodestrutivos, acabar com a própria vida. Esse período de desenvolvimento é marcado por diversas modificações biológicas, psicológicas e sociais, geralmente acompanhadas de conflitos e angústias. Nas últimas décadas, temos observado um crescimento no comportamento suicida entre jovens, tornando a idade de 15 anos crítica para manifestações de comportamento suicida na adolescência.
No entanto, as estatísticas sobre o suicídio são falhas e subestimadas, especialmente com relação aos adolescentes, uma vez que seus atos autodestrutivos são frequentemente negados e escondidos pelas famílias. Classificado como “causas externas”, o suicídio entre adolescentes é pouco investigado, já que sua etiologia é complexa e envolve não apenas fatores biológicos e psicológicos, mas também o contexto socioeconômico. A maioria das pesquisas sobre ideação suicida e tentativa de suicídio utiliza amostras clínicas. Portanto, é importante identificar, na literatura, pesquisas e clínica que apresentam a prevalência e os fatores associados à ideação suicida na adolescência.
Comportamento Suicida
Qualquer ato por meio do qual uma pessoa causa lesão a si mesma, independentemente do grau de letalidade, é considerado comportamento suicida. Ele se classifica em três categorias distintas: ideação suicida, tentativa de suicídio e suicídio consumado. A ideação suicida fica em um dos extremos, o suicídio consumado no outro e a tentativa de suicídio entre eles. A palavra “suicídio” deriva etimologicamente do latim sui (si mesmo) e caedes (ação de matar), e significa uma morte autoinfligida intencional. Relatos apontam que o comportamento suicida existe desde os tempos mais antigos da humanidade, tendo mudado apenas a forma como esse ato é encarado. Os principais fatores associados ao suicídio incluem tentativas anteriores de suicídio, doenças mentais (principalmente depressão e abuso/dependência de álcool e drogas), ausência de apoio social, histórico de suicídio na família, forte intenção suicida, eventos estressantes e características sociais e demográficas, como pobreza, desemprego e baixo nível educacional. Embora não exista uma definição única aceitável, o suicídio implica necessariamente um desejo consciente de morrer e a compreensão clara das possíveis consequências do ato. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstram que a frequência do suicídio está se deslocando dos idosos para os mais jovens. A maioria dos suicídios ocorre entre crianças maiores de 14 anos, principalmente no início da adolescência. No entanto, em alguns países, tem havido um aumento alarmante nos suicídios entre crianças menores de 15 anos e na faixa etária dos 15 aos 19 anos.
Ideação Suicida na Adolescência
A tentativa de suicídio é o ato sem resultado letal no qual o indivíduo deliberadamente causa danos a si mesmo. A ideia suicida se refere aos pensamentos de autodestruição e ideias suicidas, englobando desejos, atitudes e planos que o indivíduo tem para dar fim à própria vida. Ter pensamentos suicidas ocasionalmente não é anormal, pois esses pensamentos fazem parte do processo de desenvolvimento normal durante a transição da infância para a adolescência, à medida que os jovens lidam com problemas existenciais e tentam compreender a vida, a morte e o significado da existência. A adolescência é uma fase de modificações psicológicas, físicas e sociais, caracterizada por movimentos de dependência e independência, contradições, conflitos e ambivalências.
Muitos dos comportamentos atípicos manifestados pelos adolescentes podem ser apenas uma busca por sua identidade e são naturalmente superados. No entanto, os pensamentos suicidas tornam-se anormais quando a realização destes parece ser a única solução para os problemas enfrentados pelos jovens, tornando-se um sério risco de tentativa de suicídio ou suicídio. A intensidade desses pensamentos, sua profundidade, o contexto em que surgem e a impossibilidade de desligar-se deles são fatores que distinguem um jovem saudável de um que está à beira de uma crise suicida. O desejo de morrer é considerado “o portal” do comportamento autodestrutivo, que representa a inconformidade e a insatisfação do indivíduo com seu modo de vida no momento atual. Isso se manifesta em frases como: “a vida não vale a pena ser vivida” ou “o que deveria fazer é morrer”, entre outras. A ideação suicida pode ser considerada um fator de risco para o suicídio efetivo, juntamente com a depressão e a desesperança, e não pode, portanto, ser subestimada. Atitudes de arrogância e enfrentamento, que parecem demonstrar muita força interior, na realidade, podem ser um pedido de ajuda, de limites, de carinho, de expressão de dúvidas e angústias. Assim, é importante ter um conhecimento atualizado e sistematizado da frequência da ideação suicida e das tentativas de suicídio, bem como do número de suicídios completos, para elaborar programas eficazes de prevenção.
Conclusão
Nos últimos anos, temos observado um aumento na ocorrência de suicídios na adolescência, o que representa um sério problema de saúde pública. Os estudos indicam que as motivações para a ideação suicida tendem a ser constante nos adolescentes e incluem histórico de suicídio na família, transtornos mentais, exposição à violência, abuso de álcool e drogas, conflitos familiares e sintomas depressivos. É importante destacar que os adolescentes do sexo feminino apresentam taxas mais elevadas de ideação suicida. Isso pode ser explicado em razão de as mulheres serem mais vulneráveis a transtornos como depressão e ansiedade, fatores esses que afetam fortemente a ideação suicida. Portanto, é crucial ressaltar um alerta para as pessoas que passam por esse problema ou se identificam de alguma forma com essas informações: busquem ajuda profissional. Muitas vezes, a pessoa afetada não está incapacitada de melhorar, mas sim enfrenta situações que estão além do seu controle e lida com emoções difíceis de gerenciar. Fica claro que o entendimento e a conscientização sobre a ideação suicida e o comportamento suicida na adolescência são fundamentais para prevenir tragédias e oferecer o apoio necessário a quem está enfrentando esse desafio.
Por Odamir Meira
Psicólogo formado há mais de vinte anos, especialista em TCC e Terapia do Esquema, com títulos como destaque do ano e honra ao mérito, entrevistas em TV, rádios e revistas.
@psico.odamirmeirajr