Oscar Magrini fala sobre carreira, etarismo, fama, teatro e vida

 

Por: Renata Rode Fotos: João Passos

Quem convive com o ator Oscar Magrini se surpreende quando ele revela a atual idade. Aos 62 anos, ou seja, já sexagenário, ele anuncia que tem idade mental de 25 e que isso o faz se sentir bem e saudável, em todos os sentidos. “É claro que me cuido, mas é preciso saber envelhecer bem e com sabedoria. Sempre cuidei da saúde, consultei médicos regularmente e fiz exames periódicos”, ensina. Além disso, por sua formação inicial, ele sabe qual é a receita para manter o corpo e a mente sãos. Mais do que isso, por fazer o que ama há anos, ele consegue levar a vida quase sempre com um sorriso no rosto. Mas a profissão e a descoberta do ofício, veio depois de muitos desafios na vida. Nascido em Santos, litoral de São Paulo, ele foi professor de Educação Física, dono de locadora de vídeo e academia de ginástica antes de ser descoberto como modelo e, claro, de estudar dramaturgia. 

Parece coisa do destino, afinal, seu nome sugestiona o prêmio do cinema. Oscar sempre foi um amador dos filmes e curioso nato. Iniciou sua carreira na Rede Globo no começo da década de 1990 em papéis menores, até ganhar notoriedade interpretando o gigolô Ralf Tortelli, na telenovela O Rei do Gado (1996), pelo qual ganhou o Prêmio Contigo! de melhor vilão. Dois anos depois, conquistou novamente o público ao interpretar o mulherengo mecânico Gustinho, na telenovela Torre de Babel (1998). Aliás, a carreira do galã é marcada por personagens mulherengos, sedutores ou de caráter duvidoso. Eclético, o artista também encarou desafios em passagens pela RecordTV, interpretando o vilão Sílvio Ramos na telenovela Marcas da Paixão (2000) e Noé em Gênesis (2021). “Novelas de época foram sempre um grande marco em minha carreira, porque é preciso cuidar de tudo: fala, narrativa, cenário, figurino, enfim. Noé foi um dos maiores personagens que já fiz e que me emociona até hoje, porque gravamos durante a pandemia e tinha toda emoção embutida por tudo que estávamos passando. Eu brinco que choro vendo Rei Leão, porque, comigo, a intensidade vai do mínimo ao máximo e a entrega é total”, afirma. 

 

São 33 anos de carreira, mais de 40 novelas, 19 peças e 23 filmes. Depois de tanto interpretar, Magrini confessa que ama mesmo o teatro. “Teatro é estado de espírito, eu sou instrumento de diversão das pessoas, então isso me preenche. O Vison Voador é minha 17ª peça de teatro e é um presente estarmos em cartaz com tanto sucesso, porque é preciso ser artista pra viver literalmente da arte neste país”, comenta. 

O espetáculo que já viajou o país chega novamente na capital paulista a partir do dia 27 de janeiro, no Teatro Fernando Torres, no bairro do Tatuapé. O texto inglês de Ray Cooney e John Chapmann foi encenado em diversos idiomas e países do mundo, com sucesso absoluto na Inglaterra, Portugal e Estados Unidos, com ênfase na montagem da Broadway, que, inclusive, virou um filme e foi adaptado à realidade brasileira por Marcos Caruso, mantendo as raízes do humor londrino e a genialidade do texto original. O diretor, Léo Stefanini, com uma direção precisa e ágil, eleva o texto à categoria de comédia hilariante, graças ao dinamismo e afinamento na movimentação e interpretação do elenco. Aliás, por falar em elenco, que time! Na peça estão Rosi Campos, Marcello Iazzetti, Simone Zucato, Renato Modesto, Carla Pagani e Adelita Del Sent. “Preciso confessar que acho mais difícil fazer rir do que fazer chorar, e isso é um trabalho árduo mesmo, que aprendo dia a dia. Aliás, o teatro é uma experiência única, porque as pessoas me questionam: mas não é sempre o mesmo texto? O texto é, mas a minha energia não, o público é único, a data é outra enfim, tudo é diferente, então isso me alimenta a cada apresentação”, entrega.

O marido da também atriz Matilde Mastrangi, pai da Isabella e torcedor fanático pelo Santos Futebol Clube, é uma locomotiva de comunicação. Em meio a prêmios, compromissos profissionais, apresentações de O Vison Voador e entrevistas, ele bateu um papo gostoso com a Infomente e falou sobre saúde mental e equilíbrio.

 

Chegar bem aos 60+ tem seus desafios, ainda mais no meio artístico, certo?

É difícil chegar, mas permanecer é mais difícil ainda. Na pandemia, eu fiz cinco filmes, então comigo nunca teve essa história de etarismo. O que me tira do sério é querer colocar quantidade de seguidor equiparado a talento, dedicação e estudo. Os chamados influencers vieram para ficar e têm seu lugar ao Sol, mas não podemos colocar todos no mesmo balaio, porque a obra em si não rende. Tem trabalho para todo mundo, principalmente para quem estudou e batalhou pra chegar onde cheguei. Como cinéfilo, sou um ator intuitivo por ter muita referência que consegue suportar a estrutura de um personagem, sabe? Isso que é válido para mim.

 

Você tem vários personagens marcantes, mas Noé foi o grande marco?

Eu fiz vários trabalhos e consumo muito conteúdo para ter referência, mas realmente o mais desafiador foi fazer uma novela bíblica, porque eu nunca fiz. O tempo é diferente de uma novela de época, contemporânea. Noé foi meu personagem mais desafiador, me emociono até hoje revendo cenas.

 

Existe etarismo em sua profissão? Já vivenciou isso na pele?

Vou falar de mim. Nessa pandemia, eu fiz cinco filmes. Em 2021, fechei o ano com chave de ouro: fui fazer um filme em Portugal. Então, trabalho sempre existiu, com a graça de Deus. Com essa pandemia, supõe-se que os velhos correriam mais riscos, poderiam pegar Covid, outras doenças e tal. Então, muitos pensaram: ‘Vamos tirar os velhos’. Mas toda história precisa ter os tios, os avôs… Nem que seja para fazer escada para essa molecada nova, os influencers, que têm milhões de seguidores e competem com atores que têm prêmios, novelas… Fica uma disparidade. Então, não é a quantidade de seguidores que vai dar prestígio, e o profissionalismo de que a cena precisa, é a estrutura, é o estudo por trás de uma carreira, entende?

 

Como você cuida da sua saúde mental?

Eu tomo as vitaminas necessárias e há anos faço acompanhamento com a doutora Gisele Barros. Há nove anos eu cuido da saúde com fórmulas; faço em média, por ano, 80, 85 exames: sim, tiro 16 tubos de sangue para fazer uma leitura geral do corpo. Posso dizer que minha saúde mental está tranquila. Me alimento bem, como frutas, nada pesado, e sem exageros. 

 

Mais de 30 anos de profissão: como treina sua mente para decorar tanto texto?

Fazendo leitura, praticando jogos. A gente lê roteiros, lê direto e lê até para descansar a mente também, para relaxar. Isso é normal. São 33 anos de carreira. Então, a gente acaba lendo 3, 4, 5 vezes e acaba decorando. Isso é normal. Eu acabo não me confundindo. Eu já cheguei a fazer TV, teatro e cinema, com três personagens distintos, e não confunde nada um com o outro. É treino, talento e dedicação.

 

O que você assiste na TV hoje?

Na televisão, hoje em dia, eu não assisto novela, sinceramente. Aliás, eu não assisto novela há muito tempo, só assisto a séries, e eu gosto de aventura, suspense, policial. Acho difícil ver comédia estrangeira que seja interessante. 

 

Você prefere o teatro à TV e cinema, certo?

Eu prefiro o teatro. Tudo mudou: antigamente, as pessoas pagavam para ver o ator da TV no teatro. Hoje, elas vão pelo seu texto. No teatro, uma pessoa sai de casa para ver um texto seu, então eu acho que o teatro é a raiz de tudo, é a base de tudo. Você decorar, estudar um texto, decorar, que tem começo, meio e fim. No teatro tem magia, você tem que fazer o seu melhor para aquele casal que saiu de casa e pagou ingresso para te ver, para aquela avó, praquele grupo de amigos, enfim, é uma troca de energia e experiência que é única. Se for para colocar por ordem de importância, para mim, seria teatro, cinema e, por último, televisão.

 

É preciso ser artista para se manter com sucesso no Brasil?

A televisão é uma cultura, né? Dita regras, palavras, apelidos, ou seja, existe a cultura televisiva no Brasil. Depois disso, sobrando um tempo, você vai ao cinema, paga 50, 80 reais para ficar em uma poltrona confortável para assistir a um filme que tem mil, dois mil, três mil cópias no mundo inteiro. E, infelizmente, sobrando tempo, dinheiro e vontade, a pessoa vai ao teatro. No Brasil é assim. Se eu represento a geração dos anos 1960, eu lhe dou a vida. Cara, eu não tenho problema nenhum; já tive 30, 40, 50, tenho 33 anos de carreira, e comecei a fazer novela com 30, 31 anos. Nessa fase, fiz um grande sucesso, que estourou e foi reconhecido internacionalmente, então eu posso fazer pai, posso fazer avô, sem problema nenhum. O que a arte pedir, eu faço. 

 

Como consegue aparentar estar tão bem, o tempo todo?

Apesar de ter 62 anos, não me sinto com essa idade. Minha mulher me falou assim: você não tem mais 30 anos não, você tem 62, mas a cabeça é jovem. Ando de carro, ando de moto, faço trilha, viajo para lá e para cá. Tem molecada que não me acompanha não, no meu ir e vir, na minha atividade. Brincam dizendo que eu tenho rodinhas nos pés, mas eu tiro de letra, não tenho problema nenhum, preconceito algum, muito pelo contrário. Estou adorando estar com a idade que eu tenho. 

 

Você é casado desde 1990 e é feliz. Qual é o segredo?

Eu acho que casamento é dividir, compartilhar, entender. É preciso sempre regar aquela plantinha para crescer e ficar forte em relacionamento. Ceder um pouco aqui, ceder um pouco ali, ter o entendimento e o diálogo, isso é forte em todo relacionamento, é a conversa, ter o entendimento de cada um. 

 

Dá para viver de teatro neste país?

Não é fácil. Costumo dizer que o ator é um eterno pedinte. A gente tem que pedir patrocínio, tem que correr atrás de patrocínio, correr atrás de restaurante para patrocinar, ver se tem alguma empresa aérea para levar, porque isso é tudo muito caro, e hoje em dia está cada vez mais difícil as pessoas irem para o teatro. É uma luta constante.

 

Você já está em cartaz com O Vison Voador há dois anos, certo?

Sim, “O Vison Voador” é um grande clássico dos anos 1970. É uma peça inglesa, que foi adaptada para o Brasil no final dos anos 1980, começo dos 1990, pelo Marcos Caruso, e nós voltamos, ficamos oito meses em cartaz, em três teatros em São Paulo, e retornamos agora, no dia 27 de janeiro, até final de março, no Teatro Fernando Torres, aqui em São Paulo, no Tatuapé. Então, é muito difícil você fazer teatro hoje em dia, depois dessa pandemia, de tudo que houve, antes você tinha passagem aérea, tinha gente que patrocinava o teatro, lei de incentivo, hoje é muito difícil você correr atrás e pegar patrocínio para o teatro, mas está sobrevivendo, como tudo no Brasil, a gente dá um jeito para tudo e acaba sobrevivendo, essa infelizmente é a palavra certa. 

 

Que sacrifícios você já fez por sua profissão?

Você tem que tirar do seu bolso, se acreditar num texto, se acreditar no projeto que você tem na mão. É preciso investir como um negócio e antigamente a gente já fazia isso, sabe? Vendia um carro, um apartamento porque você acreditava em fazer uma grande produção. Muitas vezes, me dei bem e outras nem tanto… Então, eu falo isso: um ator é um eterno pedinte, você tem que correr atrás, acreditar no seu sonho e correr atrás e, infelizmente, depende de terceiros para que o sucesso finalmente aconteça. 

 

Além de te ver no teatro, o que mais podemos esperar em 2024?

Eu tenho feito prêmios de brasileiros que se destacam lá fora, como o Internacional Business Institute (IBI), da Juli Ferreira. Este ano, eu fui para Roma apresentar outra premiação também. Tem a Marcília Luzbet, do português Brasília World, que é em Nova York. Ano passado, eu fiz em Paris e este ano em Nova York. E tem a Kethllen Ribeiro, que é em Londres, o Top of Mind. Então, pretendo seguir com esses eventos. Vou apresentar na Bélgica um prêmio da Angela Piquet, depois, apresento também em Nova York o IBI e o Top of Mind em Londres. A Kethllen Ribeiro vai fazer no próximo ano, no dia 2 de junho, o Top of Mind em Portugal. Então, os projetos, por enquanto, são esses. Fora as propagandas e publicidades que eu faço, de LG Bank, do Agro, de várias coisas que estão acontecendo por aí.

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