O poder da história de Érika Wilza

Advogada e gestora de pessoas por paixão, a executiva em inovação e liderança pela ISCTE Lisboa fala sobre trajetória e desafios

 

Especialista em gestão empresarial e gestão estratégica de pessoas pela FGV, Érika Wilza é fundadora do Projeto Liderança e Parentalidade. Incansável, a advogada que se diz apaixonada pela gestão de pessoas é também a mãe da Angelina, mentora e professora, e divide tantos afazeres com a responsabilidade de exercer a formação executiva em inovação e liderança na gestão de projetos da ISCTE Lisboa. Certificada em comunicação não violenta e coautora do livro “Mulheres Compliance na Prática — Edição Poder de uma História”, ela conta, em entrevista exclusiva à Infomente, as aventuras, os desafios e as superações de uma carreira consolidada em que exerce seu propósito de vida: inspirar.

Que lição de vida você daria para alguém que te admira ou se espelha em você?

Bom, primeiramente eu agradeço a essas pessoas. Ser admirada por alguém, servir de exemplo ou de espelho é uma baita responsabilidade. Então recebo de braços e coração abertos, ao mesmo tempo em que redobro minha responsabilidade, para ser alguém coerente: que acredita no que prega e faz o que diz. Em segundo lugar, preciso destacar que, para mim, lição de vida é uma expressão muito forte, pois as vidas são singulares, e cada um vai ter seus aprendizados ao longo da jornada. Por fim, mas não menos importante, inspirada nesse quadro que fala sobre o poder de uma história, quero compartilhar o valor de nos apropriarmos da nossa trajetória, de sermos capazes de elaborar, contar e recontar nosso caminho. Pode parecer simples, mas nos coloca em outro patamar de autoconhecimento e direcionamento. Então, se eu puder te sugerir ou recomendar algo é: conta a tua história (pode ser em um diário, num artigo do LinkedIn, em um livro ou mesmo numa roda de amigos e colegas de trabalho).

Você se imaginou chegando ao patamar em que está em sua carreira?

Sem dúvidas, não! E que bom. Sabe, preciso destacar o apreço que passei a ter por conviver com esse grau de incerteza que a vida nos traz e desfrutar a beleza e a poesia de não termos um caminho pré-estabelecido a seguir. Quando estudamos um pouquinho de filosofia ou neurociência, ouvimos muito sobre essa capacidade única que nós, humanos, temos de escolher, de tomar várias e várias decisões ao longo do dia (e da vida). Então sou muito grata por cada pequena ou grande decisão que me trouxe até aqui, sobretudo porque entendo que carreira é (ou deveria ser) a expressão da nossa melhor versão.

O que fez diferença em questão de valores, que aprendeu na infância por exemplo, que aplica até hoje inclusive no mundo corporativo?

Aqui vou fazer um convite: leiam “Mulheres Compliance na Prática — Edição Poder de uma História, Vol. III”, da Editora Leader. Lá eu relato as palavras de minha mãe e como a expressão que ela usava — “tenha honra, seja uma mulher de caráter” —, estabeleceu as bases da minha integridade.

O que você pode apresentar sobre inovação?

Com tantas possibilidades hoje existentes, inclusive no aspecto conceitual da inovação, vou me debruçar sobre minha carreira. O grande “momento eureca” ao se pensar em carreira nos tempos atuais é saber que não se fala mais em um caminho estruturado, como uma trilha única, que vamos seguindo até o fim. É necessário, sim, uma ideia de work-life integration (integração entre vida pessoal e profissional, em tradução livre), em que nos reconhecemos como seres completos, com o trabalho e a vida totalmente conectados. Não há uma escolha certa, um caminho perfeito ou mesmo uma profissão de sucesso, o que existe é construir um propósito no caminhar e entender o que faz sentido para a história de cada um. Viu aí, novamente, o poder de uma história?

Com base na sua experiência, o que você gostaria de destacar, além das respostas aqui de cada pergunta, que seja relevante para essa entrevista?

Ah, gostaria de trazer uma reflexão sobre o luto. Uma vez li que para o novo existir é preciso vivenciar um luto, mas não necessariamente no sentido de morte como o conhecemos. Mas o luto por abrir mão de certas coisas. Coisas que em algum momento foram importantes e agora já não são mais, que foram alvo de estima e cuidado, mas que agora precisamos deixar ir. Fiquei impressionada! Sobretudo porque, ao final, o texto reforçava que quando não enfrentamos o luto por algo, não abrimos espaço para um “novo”. Com isso, convido o leitor a refletir se está passando pelo luto necessário para deixar o novo aparecer. Acredito que, dessa forma, é possível abrir espaço e avançar mais rápido em projetos ou situações desafiadoras em nossas vidas. O que precisamos deixar ir, para outras coisas virem?

Que legado você quer deixar?

Inicialmente ressalto que a expressão “legado” me coloca num lugar de profunda reflexão e me ajuda a (re)adequar a rota sempre que necessário. Inclusive, vou compartilhar com vocês uma experiência contemplativa e meditativa que tive há algum tempo. Estava à margem de um rio e coloquei a mão na água calma, observando as ondas se formarem… em seguida retirei a mão do rio e percebi que as ondas ainda seguiam reverberando por um bom tempo. Fiz isso por vários minutos e tive ali o meu conceito de legado, “aquilo que ecoa mesmo quando já não mais estou aqui”. Então, o que quero deixar?! Uma vida que fez sentido pra mim e acreditar que não “morrerei sem ter vivido”.

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