Em novo projeto, ela rompe barreiras com o primeiro lançamento na indústria fonográfica
Humorista, atriz, repórter e apresentadora. Nany People é daquelas artistas completas, que parecem ter no palco, a alma lavada, alimentada e inspiradora. Mineira de Poços de Caldas, há anos encanta o Brasil com solos que trazem humor, sua história de vida de superação e lições que emocionam. A multifacetada agora rompe barreiras mais uma vez e anuncia um
passo inédito em sua carreira: o lançamento do Nany People (en)Canta, seu primeiro projeto na indústria fonográfica. O lançamento acaba de acontecer com a exposição de cinco faixas lançadas nas plataformas de música, juntamente com o registro em vídeo, lançado simultaneamente no TikTok e no Youtube. São canções populares com nova roupagem, uma dela
com participação de Luiza Possi. Os arranjos são da “Banda Que Nunca Se Viu”, formada por humoristas durante a pandemia, cada um em sua casa – daí a ideia do nome.
Nos vocais, Nany People imprime sua personalidade nas versões criadas para ‘Perigosa’, famosa na voz das Frenéticas; ‘Esqueça’, de Roberto Carlos; ‘Ronda’, autoria de Paulo Vanzolini; ‘Coração de Papel’, de José Roberto, em dueto com Luiza Possi; e ‘Evidências’, conhecida gravação de Chitãozinho & Xororó. O projeto nasceu após Nany People gravar um especial em vídeo a convite do Minhoca Piano Bar, do humorista Patrick Maia, para uma iniciativa chamada ‘O Baile’. A partir do resultado da gravação do especial, surgiu a ideia de levar o repertório como faixas para os streamings de música. “Meu primeiro amor foi a música. Quando criança, participei de diversos concursos musicais, entre eles a caravana do Chacrinha, que passou pela cidade onde cresci, Poços de Caldas (MG). NaTV e no teatro estou sempre envolvida em projetos e
atrações musicais, mas é a primeira vez que protagonizo algo dessa magnitude, com a minha cara e a minha
digital”, resume. A “Banda Que Nunca Se Viu” é formada por Patrick Maia (bateria e vocais), Rick Minervino (percussão), Daniel Pax (baixo), Anizio Neto (trompete), Tuca Graça (guitarra e vocais), Zeca Urubu (teclados) e Paulo Mathias (saxofone).
Você é um exemplo de superação por vários motivos, enxerga que é inspiração para as pessoas o tempo todo?
Veja bem, existem duas formas de analisar isso: pra muita gente eu sou inspiração e pra muita gente eu sou transgressão. Então depende muito do modo de como cada um me lê, não é? Eu acho que é muita pretensão a gente achar que agrada todo mundo o tempo. A gente vai fazendo as coisas na vida por sobrevivência, por necessidade, por instinto, por defesa e
aí chega uma hora que para que tudo seja lido pelo outro, depende de uma série de fatores. O fato é que eu me orgulho muito de ter conseguido sobreviver. Estou há 37 anos vivendo em São Paulo, há 47 anos no palco, com 57 anos de idade. Então pra muita gente sou inspiração e pra muita gente sou transgressão.
Além de ter uma veia artística invejável você é sempre elegante na atitude, ou seja, sensata. Isso contribui para o sucesso?
Eu acho que o que realmente contribui para o sucesso é a nossa transparência. Quando a gente é assim, a gente fala a verdade, doa quem doer, mesmo muitas vezes eu falando o que as pessoas não querem ouvir. Hoje está muito na moda
falar o que o outro quer ouvir até para não ser cancelado, mas eu não sou assim. Eu acho que a minha elegância está na minha transparência, em falar o que eu penso, agir e opinar sobre vários assuntos, muitas vezes diferente do que esperam que eu fale, como por exemplo, assunto que já deu pano para manga sobre linguagem neutra, que me posicionei contra, mas acho que minha transparência é meu trunfo o tempo todo.
Podemos dizer que o gênero de comédia é o predileto do brasileiro e, de certa forma, você com seu humor faz o público
parar para pensar. Como é isso?
Tem um grande dramaturgo alemão na história da dramaturgia chamado Bertoldo Brecht que dizia assim: “qualquer discurso pra ser pertinente tem que ser bem-humorado, você só vai memorizar matérias de escola de professores divertidos”. Isso eu falo muito dos meus solos. Então quando você usa o humor pra falar a verdade, pra falar coisas
que você pensa, as suas verdades, eu acho de certa forma você faz o povo pensar mais. Quando a pessoa ri, ela desarma. Então ela para pra ouvir o teu ponto de vista sem nenhuma defesa. Eu acho que a comédia me ajudou nisso, em fazer as pessoas pararem pra pensar, porque o humor pelo humor é muito descartável. Quando você usa o humor pra deixar a mensagem, nem seja pra pessoa pensar depois. Isso é uma coisa que eu faço muito nos meus solos e eu aprendi em casa: “as pessoas fazem com a gente o que a gente deixa. Até quando a gente deixa”. Por isso é muito importante pensar e
pensar com humor tem mais sabor. Nos fale um pouco sobre esse novo projeto. O Nany (En)Canta nasceu na verdade do
projeto que eu fiz ainda em dois mil e dezenove quando eu participei do Pop Star porque pouca gente sabe, mas a música foi minha primeira paixão artística. Eu me encantei pela música já quando criança, tanto que foi por ela que subi ao palco aos 4 anos pela primeira vez na vida. Indo para as aulas de canto que descobri o teatro. Daí o Patrick Maia que tem a “Banda que Nunca se Viu”, que foi formada na pandemia porque eles nunca se encontravam me convidou para esse novo
trabalho e decidimos startar. Esse novo trabalho é maravilhoso. Tem muita gente que eu amo e admiro, convidei Luiza Possi e foi extraordinário, é um projeto que vai crescer mais ainda e tem muitas novidades para vir. Tem Fafá de Belém, tem o Padre Fábio de Melo, vai ser bem animado então Nany (Em)Canta é na verdade, um reencontro meu com aquele primeiro movimento artístico que me colocou em cima do palco que é a música.
Você sempre foi uma pessoa dedicada e persistente, mas como artista somente agora chegou ao topo (quero dizer TV / grande mídia) com reconhecimento. Isso te incomoda ou te fascina ainda mais?
As pessoas tem falado isso, que agora, somente agora, cheguei ao topo. Não acredito não, eu vou te falar a verdade: talvez por hoje termos tantos mecanismos de mídia e a força da internet é que pareça que só agora a abrangência seja maior. Há vinte anos atrás eu era uma estrela no Brasil e repórter da saudosa Hebe Camargo, e tudo o que a Dona Hebe fazia era sucesso sempre. Eu sentei no sofá da Hebe plebeia e levantei princesa. Eu acho que eu tenho momentos muito brilhantes, muito eloquentes na minha vida, mas é que hoje talvez a visibilidade seja maior porque temos mais canais de comunicação do que antes e isso contribui bastante. Estou há 37 anos em São Paulo e vivo de arte: eu nunca deixei de fazer arte para fazer outra coisa. Tenho uma agenda trabalhada em palco de segunda a segunda, com atuações variadas. Eu sempre
vivi da minha arte de atuar, eu não abri concessão. É que agora eu talvez esteja no momento que estou tendo mais visibilidade, talvez seja isso.
Explica pra gente essa frase: a mulher que se autofez…
A mulher que se auto fez é uma frase de um amigo meu muito querido, professor, um grande pensador disse baseado naquela frase da filósofa Simone de Beauvoir que diz que “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Então, quando a gente criou o Twitter resolvemos colocar a frase “A mulher que se auto fez” porque não se nasce mulher torna-se daí isso realmente é uma verdade e eu fiz disso minha profissão de fé. A gente se refaz todo dia, se faz em todos os sentidos,
você tem uma carteira como se fosse uma CNH de seus créditos, de métodos, conceitos, preceitos e modos que você não pode deixar as pessoas te lograrem disso. Às vezes você perde um ponto aqui, um ponto ali, mas não pode deixar a carteira zerar. Entendeu? Como dizia minha mãe: “Se andando na linha o trem pega então vai andar no mato pra ver se a cobra não
pica”. Então a mulher que se auto fez vem disso. Da mulher que eu me inspirei, das mulheres que me inspirei e me inspiro todo dia, pra colocar esse meu universo feminino tão latente, tão eloquente e inspirador em cena, em pauta, em atitudes da minha vida, todo dia.
Na Infomente falamos muito de saúde mental. O que você faz para manter seu equilíbrio?
É incrível isso, né? Eu participei de uma roda de conversa com Marisa Orth uma vez e disse que todo ator devia ter um tempo pra fazer análise ou terapia. A minha terapia é no palco, eu me analiso muito no palco, em cena, na vida, eu paro pra pensar muito e tem uma coisa também que talvez o pessoal vai achar meio careta, mas eu rezo muito. Quando você reza, você conversa com Deus. Você fala com você mesmo, você fala com o que você está pensando, você fala com ele o que está fazendo, se realmente é plausível, é legal, é leal, é justo. Então, talvez isso que me faça ter uma autoanálise todos os dias de mim mesma. Eu não deito sem rezar, eu tenho santos em casa, fui criada em religião católica e eu rezo muito, eu falo muito comigo mesma, eu costumo brincar que se eu não fosse atriz seria esquizofrênica, tanto que na pandemia ao invés de entrar em depressão eu limpei a minha vida. Eu dispensei funcionários, eu fiquei eu mesmo fazendo a linha “faça você mesma”,
pra muitas coisas e até hoje está assim, então eu acho que eu fiquei mais autônoma no pós pandemia, sabe? Então acho que essa coisa de saúde mental é você trabalhar com você, com a verdade e não se frustrar no que está por vir. Trabalhar
os sabores e desabores como diz a música do nosso querido Caetano, dona Gal cantava divinamente bem, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. É isso.
O que você faz para exercitar a mente?
Eu adoro ver filmes, eu sou uma cinéfola, adoro ver série, adoro ler biografias e eu adoro ficar em casa. Então quando eu estou em casa eu remexo minhas coisas, eu leio livro, eu tenho meus bichos, isso é uma terapia pra mim. Eu tenho três cachorros, eu já cheguei a ter quatro, amo bicho. Eu falo não quero mais e de repente aparece mais uma criatura pra mim. Já teve até um estudo sobre isso que afirmou que funcionários da Bolsa de Valores de Nova Iorque que tem cachorros são menos estressados. Então o cachorro é uma companhia muito boa. Eu sou muito fiel aos meus cachorros e ele comigo. Acho que quando eu estou em casa me ocupo só de coisas boas. Não fico me apegando a grupos de conversas, em gente âncora, em fake news, nada disso. Eu só eu uso a internet pra poder anunciar meu trabalho e falar com quem eu gosto. Não me conecto com o que vai me desconectar de uma coisa boa. Não me conecto mesmo.
Na sua opinião há limite para o humor?
Na minha opinião eu acho que não chega a ser limite para o humor, tem que ter consenso no humor, nas atitudes e na vida. Acho que quem fala o que quer ouve o que não precisa. Então você pode pensar trocentas coisas. Acho que daí vem o conceito da maturidade. Sabe qual é? É você descobrir que você pode, mas não deve ou se deve, não precisa. E é isso que a maturidade me deu. Até brinco que hoje em dia falo que ninguém mais é feio, todo mundo é exótico, né? Que a verdade dói, mas a verdade é boa, mas na minha opinião, tem que ter consenso.
Hoje ainda você sofre algum tipo de preconceito? Se sim o que faz quando vê algo que não lhe agrada.
Preconceito você vai ter o tempo todo e vai enfrentar o tempo todo. Sempre vai ter alguém que vai ter uma ideia aí, né? Não vou nem falar de política, as pessoas acham que podem falar e pensar e demonstrar o que querem. Por exemplo, todo mundo sabe porque não consegui até hoje ter um Talk Show meu, mas eu faço disso um usuário de contas, não faço um autoflagelo não eu já ouvi de muitos produtores antenados “se você fosse uma mulher, estaria na programação há
muito tempo”. Meu amor, enquanto isso não acontece, eu faço como velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar e vamos que vamos.
Qual sonho pessoal e profissional que ainda não foi conquistado?
Meu maior sonho é fazer uma personagem em novela “a la Odete Roitman” que mexa com o consenso e o senso moral de todo mundo. Que as pessoas pensem assim: ela está errada, mas eu vou torcer pra essa bandida porque as pessoas começam a torcer por você até pelo teu descaramento, sabe? Rssss.
O que a pandemia te ensinou?
A vida me ensinou a não ficar dependente de ninguém, nem da aprovação do outro. A gente nasce e morre sozinho. A pandemia me ensinou a ficar conectada com algo maior, vivo dia após dia. Minha vida sempre muda num telefonema. Então a pandemia me ensinou que se eu posso, mas não devo, se devo, não preciso e é libertador não precisar de muita coisa, nem provar. Eu não vivo mais a expectativa, eu vivo de momentos e de e com parceiros de grandes valsas.