É preciso ter coragem para admitir que não sou perfeito

Gostaria de começar este artigo comentando sobre a importância de como nos vemos nesta sociedade e por força desta imposição que a vida nos coloca, faz de nós pessoas que buscamos a perfeição. Muitas vezes, somos criados par esteve tão presente em nossas vidas. Como o próprio nome sugere, o perfeccionismo é um traço de personalidade caracterizado pela busca incessante em atingir a perfeição em uma tarefa ou objetivo. Com o peso das redes sociais nas rotinas, esse desejo se torna mais forte, porque desperta a comparação. No virtual, a vida das pessoas parece ser melhor do que as nossas, impressão que traz o sentimento de frustração e, muitas vezes, a necessidade de se superar.

Aí que mora o perigo: não é errado querer evoluir e ter ambições, mas sim a forma como você encara o processo para conquistar suas metas e aspirações. Afinal, perfeccionismo é doença? O perfeccionismo é um traço que pode estar presente em diversos transtornos, como o transtorno de personalidade obsessivo-compulsivao. Apesar de o perfeccionismo poder causar problemas de saúde mental, nem sempre é ruim. Os perfeccionistas prestam muita atenção aos detalhes, são observadores e precisos, e essas qualidades podem ser úteis em algumas tarefas e profissões. Porém, é necessário um equilíbrio, pois querer que tudo esteja perfeito para evitar críticas, leva o perfeccionista a criar regras muito rígidas e, portanto, ultrapassar todos os limites. Isso pode levar a uma obsessão, alimentando a sensação de fraqueza, incapacidade e decepção. Quando exagerado, um modelo de comportamento perfeccionista pode ser um fardo e afetar diversos problemas mentais, como depressão, ansiedade, insônia e até transtornos alimentares. Como é o perfeccionismo na vida diária? O padrão de comportamento perfeccionista costuma se apresentar desde a infância. Imagine um aluno que se dedica aos estudos com afinco, entrega todos os trabalhos, recebe a nota das provas e se depara com um 9. Uma nota boa, mas que é recebida com decepção por esse aluno, que acredita que poderia ter se esforçado mais.

As duas palavras conjugadas no futuro do pretérito – “poderia” e “deveria” imperam os pensamentos da mente perfeccionista, que nunca está satisfeita com as situações do momento. Essa forma de lidar com as coisas traz como consequência a forte exigência sobre si próprio, com cobranças excessivas para se destacar e não decepcionar. Quem almeja a excelência constantemente acaba pagando um preço elevado. O indivíduo "perfeito" acaba se transformando em alguém rígido, sem felicidade, sem imaginação e sem estímulo. Controle e foco são máquinas reais e hoje, todas as áreas da evidas – não apenas a vida profissional – exigem experiência e resultados elevados. Todas as competências necessárias para uma carreira profissional estenderam- se à vida pessoal. Já ouvi relatos de pessoas planejando uma viagem e criando uma planilha de excel para aproveitar ao máximo a experiência, ou seja, essas são as ditas pessoas perfeitas até mesmo nas férias. Mas você já se perguntou por que isso acontece? A resposta é simples: vivemos na luta para sermos aceitos e amados e isso está em nosso DNA. Acreditamos que quanto mais perfeitos somos, mais aumentamos nossas chances de sermos aceitos. Qualquer sinal que se desvie disso fica oculto pelos mesmos motivos: medo de mostrar suas imperfeições ou ser rejeitado. Por causa desse medo, muitas pessoas andam por aí usando uma máscara de perfeição vinte e quatro horas por dia. E está tudo bem, inclusive mentir. Há pessoas que têm transtornos mentais – muito mais comuns do que pensamos, como a esquizofrenia leve – mas não revelam isso a ninguém, nem mesmo ao amigo mais próximo. Existe um estigma social associado à doença mental. Há muita imperfeição para assumir – até mesmo para você mesmo. O que eles pensam de mim? Eles acham que sou louco? Eles têm medo de mim? Como ficará minha autoestima quando eu sair? Essas são perguntas difíceis, por isso optamos por esconder o problema ou encontrar uma explicação socialmente aceitável. Algumas pessoas preferem permanecer no espiritismo em vez de procurar tratamento. Não há imperfeição em minha mente, é o espírito, a espinha dorsal que às vezes se manifesta. É hormonal. Meu corpo não produz enzima X, é por causa da síndrome Y. Vale aceitar tudo, para mostrar que somos pais poderosos, donas de casa exemplares.

O grande problema desta ambição é a nossa humanidade irrevogavelmente imperfeita. Quem busca a perfeição vinte e quatro horas por dia paga um preço altíssimo. Uma pessoa “perfeita ”torna-se uma pessoa funcional, séria, sem hobbies, flexibilidade, criatividade e, portanto, alegria de viver. Se negarmos a nossa humanidade, não há qualidade de vida. Viver como um fazedor é um ataque à vida. Mas o que fazer? Assumir a nossa fraqueza, estar aberto à crítica e ao desprezo daqueles que esperam que sejamos qualificados e perfeitos? Sim, resista à pressão – a sua e a dos outros. Coragem para enfrentar o politicamente correto e os preconceitos do mundo rosa. E isso é bom, porque nem toda incerteza é necessariamente negativa. E não está em jogo apenas a impossibilidade da perfeição. Brené Brown, especialista americana no assunto, autora de The Courage to Be Imperfect e Imperfection is a Virtue, observa que quem não aceita sua vulnerabilidade foge de emoções como medo, dor e decepção. Portanto, ele se fecha ao amor e à aceitação. Quem tem medo de errar perde experiências significativas e não se desenvolve. Quem aceita suas fraquezas fica mais aberto ao novo e tem experiências mais significativas, desenvolvendo-se, sendo mais autêntico e realizado. Há também outro aspecto a considerar. Se a ideia for aceitável e encantadora, a perfeição está longe! Há um poema de Fernando Pessoa em que demonstra a sua antipatia pelas pessoas perfeitas. Em “Poema em Linha Retas” ele reclama da sua desgraça ao não conhecer um único espancado que tivesse alguma ação ridícula ou covardia para falar. Ele conhecia apenas mestres. Pessoas perfeitas, boas em tudo. Um homem que mais do que lamentava a sua inadequação – um ser imperfeito entre tantos perfeitos – estava farto das pessoas chatas deste mundo. Nada no mundo é mais chato do que grandes pessoas que têm horário para tudo, que escolhem o melhor local de férias, que têm sempre razão, que usam os melhores produtos, que fazem as melhores compras… Agora em um relacionamento, se você está cem por cento certo, o outro tem zero à esquerda.

Qual é a proporção nesta matemática? Nenhuma. E finalmente… Pessoas perfeitas não exigem perfeição apenas de si mesmas, elas também exigem perfeição daqueles que as rodeiam. A fuga é a única saída possível. Complexidades à parte, busquei a perfeição em minha vida profissional. Tenho uma capacidade insana de abstração, sou muito distraído. Minha mente está distraída – interessada em tudo neste mundo e no próximo – e o resultado é foco zero. Tudo isso me torna improdutivo. Sabendo disso, uma vez decidi que queria combater essa imperfeição e me inscrevi em treinos ao ar livre. Fui colocado em uma equipe e tínhamos que atingir determinados objetivos. Especialistas em treinamento acompanharam e avaliaram a trajetória de toda a equipe – e o papel de cada indivíduo. Por fim, o responsável avaliou de forma privada cada submissão, apontou problemas e sugeriu melhorias. Bom… Tudo o que sou foi examinado e não me trouxe nada de novo: falta de concentração, pensamento disperso e caótico, abstração extrema e outras imperfeições. A psicóloga me explicou que posso me livrar de todas essas características, mas me alertou sobre os efeitos colaterais. Você pode ser mais produtivo, mas não é tão criativo. Você pode se concentrar mais, mas perde a visão interdisciplinar do mundo. Bem, nem é preciso dizer que recusei a perfeição. Sempre soube que tudo, desde uma virtude até uma simples ideia, tem duas faces. Então aceitei minha imperfeição. Eu prefiro assim. Obviamente estou tentando me desenvolver, mas sem fanatismo e violência. Procuro olhar para a minha totalidade e até ter algum carinho pelas minhas peças recomendadas abaixo porque elas também fazem parte da minha forma física como exemplo único. E quem se aproxima de mim, quem manifesta desejo de se relacionar comigo, não escondo minha imperfeição. Dou às pessoas ao meu redor a mesma oportunidade de aceitar ou não. Você está entrando no verdadeiro terreno da aceitação. E como deseja Caetano, “todos conhecem a dor e a alegria como são”.

Como ser menos perfeccionista?

É preciso ressaltar que não existe perfeição: o mundo não é binário e nada é absolutamente bom ou absolutamente ruim. O perfeccionismo é um traço de personalidade, ou seja, faz parte de uma pessoa que em algum momento da vida começou a adotar esse comportamento, seja com a família, amigos ou no trabalho. Hoje é comum ser vítima do perfeccionismo porque a sociedade incentiva esse comportamento – como já dito, redes sociais, televisão, meios de comunicação de massa – tudo tenta buscar as melhores versões de si mesmo, que refletem demais: é preciso praticar. mais para um corpo perfeito, estude mais para ser o número um na universidade, trabalhe mais para ser promovido logo. Portanto, o caminho para ser menos perfeccionista, é lembrar que a perfeição não existe, que o mundo está dividido e nada é absolutamente bom ou absolutamente ruim, tente entender o significado de ser muito exigente, com você e com os outros, procure enfrentar as críticas, pense e aprenda. . . erros existem, pense em fazer o seu melhor no momento, não há perfeição, não se compare com os outros, porque você único no universo. Viva! Procure enxergar a vida de uma maneira mais simples e me diga, é melhor assim, se a vida não vale mais a pena.

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