Cintia Castro e sua trajetória espetacular e tocante
De autora de livros a mestra que ajuda pessoas sem invalidar a dor alheia, como verdadeiro ser humano
Psicanalista e psicoembrióloga com anos de experiência, vivências nacionais e internacionais e muita história para contar. Cintia Castro é também autora dos livros “Meu filho é Autista, e agora?” e “Meu aluno é Autista, e agora?”. A profissional ainda participou da obra “Coaching Empresarial” e é a idealizadora da Série de Jogos Terapêuticos “Jogo das Carinhas, Jogo dos Recursos e Jogo das Emoções” pela Editora Leader.
Qual foi o momento em sua carreira em que se sentiu mais realizada?
Um dos momentos mais marcantes da minha carreira ocorreu quando um paciente me procurou com a convicção que o melhor para a sua vida seria o suicídio. Escutar uma pessoa dizendo que não quer viver, escuto diariamente, faz parte do meu trabalho, agora escutar alguém querendo preparar as pessoas queridas para a sua partida voluntária foi desafiador. Durante a primeira sessão pedi um acordo/prazo, “Me dê apenas 3 meses para esta missão, prometo não tentar mudar a sua decisão, mas também preciso me preparar porque nunca perdi um paciente e sou um ser humano”. A pessoa aceitou meu pedido. Iniciamos as sessões e foram meses de acolhimento, não julgamento e trabalhamos os pontos positivos e negativos da sua vida para chegar nesta decisão até então sem volta. Faltando 10 dias para os 3 meses acordados o meu paciente pediu para realizarmos 2 sessões seguidas na mesma semana e em prantos, logo no início me agradeceu por mostrar que valia a pena viver desistindo da ideia inicial de suicídio. Nesta hora meu coração se encheu de uma imensa felicidade e tive a certeza de que estava na profissão mais linda que eu poderia ter, ajudar pessoas.
Quais são os principais desafios que você enfrenta na sua prática profissional e como você os superou?
Acredito que o maior desafio é mudar a percepção das pessoas em relação à terapia. Ainda existe muito preconceito referente a isso e quando essa situação acontece em consultório elaboro dois processos, o primeiro é desmistificar e mostrar que terapia é para corajosos, o outro é o tratamento analítico em si, a queixa principal do paciente, por isso temos que respeitar o processo de cada um como único, sem pressa.
Quais são os valores e princípios que guiam o seu trabalho?
Posso dizer que a ética profissional é o mais importante no meu trabalho pois através dele é possível estabelecer o início para um processo analítico de confiança. Dentre os valores e princípios são fundamentais a confidencialidade, o julgamento (nunca haverá a postura julgadora independente do assunto), o respeito e a singularidade.
Como você vê a importância da conexão entre mente e corpo na promoção da saúde e do bem-estar?
Como psicanalista acredito que os processos mentais e emocionais estão intrinsecamente ligados às manifestações físicas do corpo, o que chamamos de somatização. Quando não externamos algo que nos incomoda o nosso corpo falará por si, causando doenças, nos fazendo parar para olhar nossas emoções e trabalhá-las. Ao explorar esta junção em terapia conseguimos ajudar o paciente a desenvolver uma maior consciência de suas emoções, traumas e conflitos internos, o que leva a um melhor equilíbrio emocional.
Como você lida com as situações de estresse e pressão diários?
Meu trabalho é desgastante e por isso me priorizo em buscar bons momentos. Tenho hábitos simples que me auxiliam a reconectar com a minha própria história. Procuro eventualmente estar em contato com a natureza, com meus cachorros, andar descalça, enfim, contemplar a vida. Recarrego minha bateria todo final de semana, me sinto leve e feliz para começar uma nova semana e entendendo cada vez mais que “O que é meu, é meu…o que é do outro, é do outro”.
Quais são as principais lições que você aprendeu até agora?
A primeira é entender o meu papel durante o processo analítico de uma pessoa, sou um instrumento, um espelho de 1,70 para refletir a história do meu paciente por várias facetas onde ele fará as suas próprias escolhas…. sempre digo isto para os meus pacientes. Outra lição é ver cada ato por uma outra percepção e assim aprender com ela e evoluir como ser humano.
Qual é o impacto que você deseja causar na vida dos seus pacientes?
Que honrem a vida que lhes foi dado e que possam se libertar de crenças que não são suas e, que façam as suas próprias escolhas com responsabilidade consigo e com o outro.
Que conselho você daria aos jovens que estão iniciando carreira?
Um conselho importante para quem está iniciando a carreira de psicanalista é buscar uma formação sólida e contínua. Invista em estudos teóricos, supervisionamento clínico e análise pessoal. Além disso, desenvolva habilidades de escuta ativa, empatia, respeito e ética profissional. Uma frase que gosto bastante e considero a base de um bom atendimento é escrita por Carl Jung e diz: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. Trate os seus pacientes como gostaria de ser atendido, respeite as histórias, não faça julgamentos e seja ético acima de tudo.