No passado, os pais tinham entre inúmeros deveres educacionais com seus filhos levá-los para o trabalho e assim, adquirir um ofício ainda crianças. O estudo sempre era posto em segundo plano e alguns ignoravam dada a necessidade da prole ajudar no sustento da família juntamente com seu pai. À mãe tinha o papel de educar os filhos e gerenciar toda atividade doméstica. Qualquer sinal de traquinagem praticada pelos filhos que não tivessem diapasão com o conceito do pai era logo castigado com penas sempre associadas a agressões físicas. Os filhos tinham uma carga de responsabilidades em sua tenra idade. Os deveres eram inúmeros, dentre eles o de chamar qualquer adulto de “senhor(a)” ainda que fosse um estranho. Atrapalhar a conversa entre dois adultos era como pedir sua própria eutanásia. Muitas vezes, a via crucis se tornava real com a diferença de que o imolado erámos nós mesmos. Coitado daquele que fosse na casa de um amigo ou parente e se lançasse em pedir qualquer coisa ou mesmo se atrevesse em cometer alguma bagunça. Antes de sai de casa, a mãe declarava em alto e bom tom todo ritual daquilo que seria reprovável como fosse cometido e as penas nunca eram esquecidas durasse o tempo que fosse da “falta” até a chegada em casa. Aceitar comer algo, só se a mãe autorizasse, mesmo porque a resposta quase sempre era: “ele não quer”. Caso a professora fizesse algum tipo de convite para que a mãe fosse à escola para tratar de assuntos comportamentais, Jesus! Talvez agora eu acredito por qual razão a religião era mais intensa naquela época, pois, sempre, digo, sempre nos socorríamos de uma boa oração para tentar nos desvencilhar dos atos correcionais. Em verdade, a fé nos trazia forças para podermos passar pelo flagelo, pois a oração nem sempre tinha o poder de operar milagre. Destarte, o rigor pode, aos tempos atuais causar certo espanto com a forma de educar do passado. Com o passar dos anos, percebemos que ninguém morreu por conta das palmadas sofridas no passado. De sorte, não sou favorável a qualquer tipo de agressão, mas, como dito, os tempos eram outros e aquela era a maneira que acontecia. Quando cresciam, as crianças se tornavam adultas íntegras em sua conduta moral, honestas no pessoal e respeitosas no formato geral. O idoso jamais era colocado de lado, porém, eram neles que os mais jovens faziam as rodas de conversa para poder ouvir as histórias vividas, muitas delas cercadas de experiências das quais serviam de conselhos e referência. Me recordo da casa da minha saudosa avó, Helena que no final do dia se reunia com minhas tias no quintal ou mesmo à beira dos bancos que haviam no quintal. Naquele tempo não haviam muros divisórios entre as casas e, como minha família era grande, sempre havia no mínimo dez tias e minha avó nessas reuniões familiares que na verdade eram pra falar de tudo e de todos. Eram na verdade como o noticiário do dia no formato bem despojado e cercado sempre de quitutes e outras guloseimas. Enquanto a fofoca, digo, o noticiário rolava, eu, meu irmão e primos ganhávamos uma espécie de alvará de soltura com inúmeras medidas cautelares impostas antes da autorização da alforria. Apesar das dificuldades, tínhamos a experiência do compartilhamento, principalmente no almoço de domingo, onde ocorria a oportunidade e presença do tão sonhado refringente de litro. Pois é, a família mesmo que grande fazia com que aquele litro de refrigerante rendesse o suficiente para todos, acredite se quiser. Atrelado a isso, nós tínhamos o desejo de conquistar as coisas. Dia das crianças, páscoa, natal e outras datas não tinham o significado de hoje. Via de regra, ganhar presentes eram penas no período de Natal e para aqueles que não fossem reprovados no ano escolar e ninguém ficava depressivo, revoltado ou agressivo. A memória deste tempo traz a sensação de um ciclo que tinha e ainda perdura o sentimento de que tudo aquilo fazia e faz parte de um ciclo de que todos deveriam experimentar. A família era, apesar das dificuldades muito mais próxima, interligada e dependente uns dos outros. Tínhamos uma capacidade de resiliência fantástica, além disso a religião ocupava um papel importante no lar de cada um. O mais ateu que fosse sabia que na religião poderíamos nos servir de que existe sempre uma saída para a dificuldade que surgisse e tudo bem. Outros em verdade, encontravam um equilíbrio de fé e amor incondicional capaz de tornar tudo e todos algo incrível e maravilhoso. Boa-fé era algo que nascia com todos, ou seja, era a regra, apesar de sabermos que as exceções fazem parte desse cenário, mas eram minoria. Havia autoridade na figura dos pais e hoje notamos que essa espécie foi extinta. O tempo passou e, atualmente, há uma proibição de trabalho para crianças. A regra é estudar e o trabalho foi, via de regra, localizado para após a formação da faculdade. Diversamente do passado, as crianças tinham que crescer rápido com vários desafios para que pudessem amadurecer no tempo correto e se prepararem para MORAR SOZINHOS, correr os riscos fora do cercado da família, pagar contas, fazer suas compras de mercado, cozinhar, lavar roupa, arrumar a casa e outras tarefas corriqueiras de quem havia conquistado a independência e assim conquistar valores. Os pais atuais se acovardam diante a fragilidade de se impor aos filhos. Notadamente, hoje existem filhos que literalmente batem em seus pais que não sabem como reagir. Existem inclusive programas de TV que ensinam como educar um filho. Alguns “justificam” essa covardia educativa porque temem que o “bebê” fuja de casa e vire alvo de noticiário ou de represálias jurídicas criadas pelos “especialistas facebookianos” de plantão. Essa ausência de autoridade regada de permissionismo proporcionam a receita perfeita para a vacância da letalidade moral, financeira e pessoal. Com isso, os filhos se tornam conhecedores assíduos de toda condição da existência e isso tudo através de consultas no Google. São os donos sem conquista que permanecem dependentes de seus pais até a velhice (aqui eu falo dos filhos). Muitos acabam maltratando seus pais quando estes atingem uma idade avançada e se apossam de todo patrimônio conquista a duras penas por seus pais. É como uma antecipação da sucessão por morde (inventário ou herança). Como exemplo vou contar um caso ocorrido no mundo da fantasia. Um casal deixou seus filhos sozinhos em casa, pois tinham um encontro com a turma de faculdade. Os vizinhos acionaram as autoridades após ouvir os filhos pedirem por socorro na varanda do apartamento. Ficaram sozinhos por cerca de dez horas, sem almoço e jantar. O mais novo de 28 anos disse aos policiais que não sabia onde encontrar a comida, enquanto o mais velho disse que sua mãe nunca o ensinou como operar o micro-ondas. Diante da denúncia de abandono de incapaz, os pais foram presos em flagrante e aguardam a audiência de custódia. Pois bem, é preciso saber lidar com o “progresso” da humanidade, entretanto, o sinal de alerta está aceso. É preciso avaliar o momento em que a história se repete de tempos em tempos, ou seja, é preciso revivermos o tema: “INDEPENDÊNCIA OU MORTE” da família.