A confiança é um dos pilares fundamentais das relações humanas e da sociedade como um todo. Ela é o alicerce sobre o qual construímos conexões interpessoais, colaborações comerciais e instituições de confiança. No entanto, nos meandros da modernidade, emergiu uma preocupante tendência que lança uma sombra sobre essa base essencial: a venda da confiança. Historicamente, a confiança era cultivada e desenvolvida ao longo do tempo, baseando-se em experiências compartilhadas, interações pessoais e reputações construídas com cuidado. Entretanto, o cenário contemporâneo testemunhou uma mudança significativa nesse paradigma. Com o advento das mídias sociais, marketing sofisticado e a crescente influência da tecnologia, a confiança muitas vezes é tratada como uma mercadoria, pronta para ser vendida e comercializada. A exemplo da política, indivíduos investem consideráveis recursos na criação de uma fachada de confiança, muitas vezes através de estratégias de marketing meticulosamente planejadas. Testemunhamos uma paisagem em que parte dos políticos utilizam técnicas de branding (conjunto de ações alinhadas ao posicionamento, propósito e valores da marca) e storytelling (é a habilidade de contar histórias utilizando recursos audiovisuais, além das palavras) para construir narrativas convincentes que, via de regra, refletem completamente a realidade. Isso levanta questões sobre a integridade dessas práticas e até que ponto a confiança está sendo manipulada em troca de ganhos possivelmente vantajosos ou meramente por questões de interesses obnubilares e individuais.
Nesse mundo da esfera política dos últimos tempos, a disseminação de informações distorcidas ou falsas buscam minar a confiança nas instituições democráticas e corroendo os alicerces da sociedade e, principalmente, o cidadão. A busca pela exploração da confiança pública, tem por evento principal nutrir a busca de poder pelo poder, influenciar sérias ramificações para uma coalizão politiqueira e antissocial. Além disso, a venda da confiança é vista em práticas de negócios questionáveis, como a manipulação de ideais, de segurança, vazamento de informações pessoais e talvez, na Suíça, troca de ganhos financeiros. Essas ações minam gravemente a confiança do público quando o assunto é política. A questão da confiança na política é fundamental para o funcionamento saudável de qualquer sistema democrático, se é que ainda podemos considerar nosso atual sistema político como democrático, eu arriscaria dizer “demoniocrático”. A confiança teve por base a construção quando os eleitores acreditavam que seus líderes políticos seriam honestos, competentes e agissem mediante atos voltados para o melhor interesse do público.
Bem, o adágio popular já dizia: “de boa intenção, o inferno está cheio”! Aqui estão algumas maneiras que vetam e refutam a confiança na política: Transparência: os governos deveriam ser transparentes em suas ações e decisões. Isso inclui a divulgação de informações sobre como o dinheiro público está sendo gasto e como as políticas serão desenvolvidas. A falta transparência contribui para o aumento de suspeita de possível prática de corrupção e reforça a quebra da confiança dos cidadãos. Combate à corrupção: a corrupção é uma, senão a principal razão pela qual as pessoas perdem a confiança na política. É importante estabelecer mecanismos eficazes de combate à corrupção, como agências independentes de supervisão e aplicação da lei, e garantir que os responsáveis sejam responsabilizados por suas ações, desde que outras instituições sejam extintas ao ponto de não interferirem no curso normal da democracia. Responsabilidade: artigo extinto nos últimos tempos, pois os políticos deveriam ser responsáveis por suas promessas e ações – aqui me vejo inserido na série infantil do “Fantástico mundo de Bob”. Isso significa que eles devem prestar contas aos eleitores e enfrentar as consequências se não cumprirem suas promessas ou se envolverem em comportamento inadequado. Em verdade, deveriam adotar as regras utilizadas na Roma antiga, em que um cidadão vocacionado para a política tinha de se submeter aos critérios da época. Era mais ou menos assim: o sujeito deveria ingressar para o exército na condição de soldado e provar que era capaz de se manter vivo sozinho. Depois te provar ser capaz de se manter ele era promovido a decano, ou seja, deveria ser capaz de cuidar de dez soldados sob o seu comando e mantê-los vivos. Caso o sujeito conseguisse, seria então alçado para o cargo de centurião – chefe de um grupo de cem homens. Vale lembrar que todas essas funções eram praticadas com muito derramamento de sangue, pois havia a necessidade de participarem de conflitos, batalhas e guerras. Após ultrapassada estas fases, o sujeito era então alçado para o cargo de político, porém seu primeiro ato era realizar uma obra pública. O objetivo dessa fase seria para que o mandatário realizasse uma obra com dinheiro público e dentro do prazo estipulado pelo Imperador.
Caso não entregasse a obra no prazo determinado ou não soubesse administrar o dinheiro confiado sua cabeça seria decapitada em praça pública. Os tempos mudaram e com ele muitos permanecem perambulando entre nós, vivos e atuantes na política felizes por não estarmos na Roma antiga. Aliás o que permanece intacto como antigo são os métodos não tão ortodoxos enraizados na política. Participação cívica: coincidência ou não o 7 de setembro faz uma alusão a este requisito, pois ao contrário aos exemplos dados, a participação cívica ativa ajuda a aumentar a confiança na política, porém, o povo sequer sabe o que se comemora a data do 7 de setembro, mas conta nos dedos o dia do feriado que proporciona a folga merecida regada de muita bebida barata e petiscos improvisados. Os cidadãos são desencorajados cada vez mais a votar, e quando decidem se envolver em atividades políticas pecam pela falta de capacidade intelectual e cognitiva e assim, se tornam alvos fáceis às velhas raposas que os direcionam para o leito do caçador. Educação política: promover a educação política deveria ser papel essencial para garantir que os cidadãos compreendessem o sistema político e as questões em jogo. Todavia, o único jogo quer aprendem é o do toma lá dá cá. Quanto menos informados os eleitores forem, mais dependentes serão do sistema assistencialista e dessa maneira estarão divorciados da capacidade em tomar decisões significativas ou capaz de avaliar o desempenho de seus representantes. Ética política: os políticos deveriam aderir a padrões éticos e morais elevados, sem, contudo, excluir os conflitos de interesse, não abusar de recursos públicos e não usar sua posição para benefício pessoal ou do seu ciclo de amigos ou parentes. Comunicação eficaz: os políticos deveriam se comunicar de maneira eficaz e cristalina com o público, explicando suas políticas e ações de forma clara e acessível, de maneira capaz em ajuda a dissipar a desconfiança e a criar uma compreensão mútua e sólida. Reforma política: ou milagre se assim podemos dizer. o sistema necessita de adequação necessária, a fim de torná-lo mais representativo e responsivo às necessidades dos cidadãos. Isso pode incluir mudanças no sistema eleitoral, no financiamento de campanhas e na estrutura do governo, mas o principal a meu ver seria o investimento sólido e sério na educação de base. Isso levaria a uma mudança significativa a médio e longo prazo. Cidadãos forjados sob elevado conhecimento educacional é cidadão capacitado de forma mental e cognitiva credencia uma sociedade com elevado grau de questionamento. Em última análise, a construção da confiança na política requer um esforço contínuo por parte dos líderes políticos e dos cidadãos, isso na teoria, pois na prática não consigo enxergar qualquer fagulha de esperança. É um processo gradual que envolve a promoção da ética, da responsabilidade e da participação ativa na vida política. Enquanto os eleitores se depositarem a confiança no voto e aguardarem de camarote o santo salvador agir em seu socorro, nada irá acontecer. É preciso deixar de lado os interesses individuais e pensar de maneira coletiva e pelo coletivo. Enquanto o voto for encarado como comércio (tiver preço), o resultado terá sempre as suas consequências. A política na figura popular e de fácil compreensão é como na brincadeira do troca-troca, mas, infelizmente quem baixa as calças primeiro é o povo, o resto é manobra evasiva!
Por Dr. Émerson Tauyl
Advogado criminalista, especializado em Direito Militar e Segurança Pública, com escritórios em São Paulo e Praia Grande
@emerson_tauyl