“Não existe emoção sem substância”, diz o psicoterapeuta Marcos Pereta

Você provavelmente já se perguntou como surgem as emoções, não é mesmo? Para responder a essa questão, precisamos levar em consideração a relação direta entre corpo e mente, pois os movimentos que ocorrem em um, geram também um movimento no outro. Para ficar ainda mais clara essa relação,
vamos pensar no funcionamento da mente humana. Os nossos pensamentos, isto é, as imagens mentais geram um estímulo em nosso cérebro, que o faz enviar “códigos” para todo o nosso organismo. Esses “códigos” irão gerar a liberação de inúmeras substâncias químicas que irão “permitir” o surgimento das emoções já conhecidas por nós seres humanos. Em outras palavras, não existe emoção sem a liberação de substâncias em nosso organismo e é justamente a partir dessa liberação e do surgimento de emoções que iremos ter a possibilidade de determinados comportamentos.
Para construirmos juntos essa reflexão, imagine uma pessoa que nesse exato momento está pensando (gerando imagens mentais) sobre um evento futuro, mas de forma negativa – criando ideias de dificuldades, dores
e perdas. Nesse momento, o cérebro dela está interpretando essas informações como uma situação de perigo, de ameaça e de morte “real”. E qual é a consequência dessa compreensão pelo cérebro humano? Todo o organismo passa a acreditar que está vivendo uma verdadeira batalha de vida ou morte e para isso, ele precisará estar pronto para o combate (para assim, permanecer vivo). Inicia-se então a liberação de cortisol,
adrenalina e noraepinefrina – ativos inflamatórios – que irão abrir caminhos para três possíveis comportamentos: lutar, fugir ou congelar. Porém, compreenda que aproximadamente 90% dos nossos pensamentos
de futuro não ocorrem e de certa forma, nos colocam num quadro de ansiedade patológica (e não natural), pois esse estresse gerado se torna de longo-prazo, não permitindo ao corpo uma adaptação após o conflito, já que ele não existe externamente, mas sim se mantém dia após dia em nossa mente.
Assim, percebemos que os nossos pensamentos são o ponto de partida para nossas emoções, comportamentos e também para os nossos desafios e até
transtornos. Por exemplo, você sabia que não existe resiliência ao estresse sem níveis adequados de serotonina? Que não existem disciplina, motivação, prazer e disposição sem dopamina? Ou aquele sentimento
fraterno de amor sem ocitocina? Enfim, os exemplos são inúmeros, mas a verdade aceita é que a mente realmente tem o poder de impactar o corpo e o caminho inverso também é verdadeiro. Agora, você deve estar pensando: eu preciso urgentemente controlar meus pensamentos e minhas emoções.
Mas cuidado! Pois pensamentos e emoções não aceitam controle, e sim uma gestão. Assim como precisamos gerenciar diariamente uma empresa ou uma
família, precisamos desse movimento em relação aos nossos pensamentos e emoções. E gestão não significa não sentir, mas sim perceber, dialogar consigo e direcionar e canalizar esses movimentos para atos de
construção e bem-estar. Além disso, é importante compreendermos que essas
substâncias relacionadas às emoções precisam de matéria-prima e são justamente a alimentação e a suplementação que irão garantir a eficiência dessas produções, principalmente em uma sociedade que cada vez mais modifica seus alimentos, deteriora seus solos, intoxica os recursos naturais e aposta em produtos alimentícios carregados de xenobiótcos e sem valor nutricional – a nossa principal via de abastecimento está precária! E se juntarmos esse cenário de péssima alimentação com o modelo ocidental dos nossos comportamentos, crenças e compreensão da relação
tempo-trabalho-descanso, iremos perceber que exigimos além da conta do nosso organismo, mas não oferecemos o necessário para ele atuar com eficiência. Dessa forma, se não aceitarmos essa relação entre o corpo e a mente, estaremos como “cegos em tiroteio” diante da imensidade de causas dos transtornos psiquiátricos e das doenças físicas que assolam a humanidade há tempos. E se a nossa conversa de hoje fez sentido para você, comece hoje uma revisão dos seus hábitos diários, da sua alimentação, dos seus comportamentos, das suas emoções e primariamente dos seus pensamentos para que você possa deixar o vitimismo de lado e se torne protagonista da sua própria história.

Por Marcos Pereta
Psicoterapeuta com pós-graduação em Nutrição Clínica Ortomolecular,
pós-graduação em Neurociência e especialização em Teoria da Inteligência
Multifocal e Gestão da Emoção.
@m.pereta
www.mpereta.com.br

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