Uma análise abrangente e científica sobre a COP 26: Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática, mais conhecida pela sigla COP26, é a principal cúpula da ONU para debate sobre questões climáticas, com sua 26º realizada em novembro de 2021. O Professor Décio Semensatto, que é professor da Unifesp e pesquisador do SOU_CIÊNCIA nos convida a refletir: Até onde avançamos com a COP26 e o que isso influencia nosso cotidiano? A mais recente conferência do clima aconteceu em Glasgow (Escócia). O evento mobilizou por duas semanas mais de 200 países e milhares de organizações para buscar novos avanços em negociações, revisões e detalhamentos de compromissos firmados anteriormente. Finalizada a COP26, surge a questão: avançamos o suficiente?
Elas vão desde o preço das hortaliças no mercado até a dispersão de doenças no planeta, passando por novos padrões de consumo e o surgimento de conflitos diplomáticos pela ocorrência de refugiados climáticos. Nesta perspectiva, é preciso revisitar dois conceitos-chave em Ecologia, que se aplicam à situação atual: o de “resistência”, ou seja, a capacidade de um sistema amortizar os impactos ambientais sem alterar sua estrutura e funcionamento atual; e o de “resiliência”, que é a capacidade do sistema retornar ao estado original observado antes de os impactos ambientais ultrapassarem sua resistência. Portanto, trata-se de referências sobre as condições em que o aquecimento global poderá provocar rupturas significativas (e esse momento está muito próximo) e como esse cenário poderá ser revertido, a depender do que resultar após tal ruptura.
Se mantivermos o atual ritmo de crescimento da emissão de gases estufa, a previsão é que nos próximos anos chegaremos ao “ponto de viragem”, ou seja, aquele que representará a ruptura da resistência global, justamente a que os cientistas alertam para não atingirmos. Nesse momento futuro, os eventos climáticos extremos (tempestades, alagamentos, furacões, nevascas, secas intensas etc.) serão mais frequentes e abrangentes, além de mudanças importantes locais nas médias de precipitação, temperatura e disponibilidade hídrica. Na realidade, isso já começou a ser observado. Mas, uma vez definitivamente atingido esse novo patamar, os efeitos sobre a vida humana serão intoleráveis em certas regiões do planeta, inviabilizando condições de manutenção material e de saúde. Por consequência, a resiliência poderá ficar severamente comprometida.
Os avanços da COP26 são importantes, mas relativamente tímidos em face do tempo e do esforço necessários. Várias ainda se constituem em promessas sem detalhamento suficiente sobre como serão cumpridas. No conjunto que avançou um pouco se destacam a redução do desmatamento, na qual o Brasil deve ser protagonista, a redução de emissões de metano e de uso de combustíveis fósseis, em especial o carvão.
A dificuldade em compatibilizar a desaceleração do aquecimento global com a manutenção dos modelos de economia e produção predominantemente vigentes é uma das principais travas em certas negociações sobre como cumprir as metas climáticas. Será preciso mudar paradigmas econômicos e sociais sobre os meios de produção e consumo, algo já percebido e ao mesmo tempo indesejado por certas lideranças mundiais.
A grande dificuldade é justamente promover essa mudança, que exige das principais economias globais um esforço monumental em reestruturar suas bases econômicas e implementar um novo tipo de relação em cooperação em produção de bens e serviços e conservação da natureza. Para alguns países, por exemplo, será o de remodelar completamente sua infraestrutura energética ou de abdicar de suas principais commodities baseadas em combustíveis fósseis e massiva emissão de carbono.
Leia o texto completo em: Sou Ciência – Até onde avançamos com a COP26 e o que isso influencia nosso cotidiano? (unifesp.br)
Por Francis Saliba
Ecóloga/UNESP, consultora em gestão ambiental, licenciamento, resíduos, auditorias, elaboração de projetos, contratos e treinamentos
@francys_saliba