Por Renata Rode*
Dois choques: o acidente com um bimotor que levou a vida de cinco pessoas que saíram para trabalhar e nunca mais retornaram para suas famílias e a indignação diante do comportamento de colegas da imprensa que, no mínimo, não pensaram nas consequências da publicação de suas matérias em busca de cliques. Como Gustavo Alonso, colunista da Folha de São Paulo que se declara historiador, faz comentários machistas e gordofóbicos menos de vinte e quatro horas após a morte de Marília Mendonça, sem (rasamente escrevendo) papas na língua, nem qualquer pingo de respeito? O que está acontecendo com alguns representantes da nossa imprensa? Desde quando, o peso corporal de uma pessoa define seu talento, seu caráter, seu sucesso? Desde quando uma das maiores cantoras e compositoras que o Brasil já teve no sertanejo, precisa ser chancelada por um “historiador”? É no mínimo uma barbárie produzir um texto desses, falando de alguém que era ídolo para uma multidão (inclusive com fãs de peso como grandes nomes que o colega jornalista citou como Roberta Miranda, amiga e admiradora real de Marília) sem falar na multidão de milhares que a acompanhavam sendo que ela, não tem como ao menos, se defender… Eu não chamaria de texto, para mim o título seria: “Covardia”, para não dizer, ou melhor escrever outra coisa…
Deixo aqui a informação que mais que uma mãe, uma filha, uma mulher, uma artista, Marília também era idealizadora, porque cantava sobre todos os tipos de mulheres, dando voz a TODAS, mesmo que machistas ou gordofóbicos quisessem as calar.
Como jornalista, estou em diversos grupos de discussão e, pasmem, diversos profissionais começaram a discutir a postura da assessoria de imprensa da cantora. Keila Jimenez, colunista do R7 (a qual sempre admirei) nos surpreendeu, com uma matéria com um título aterrorizante: “Tristes e enganados: imprensa e fãs são traídos pela equipe de Marília”. É sério mesmo? Ela começa a matéria dizendo que “não se brinca com a verdade”. Sim, Keyla, na sexta-feira ninguém estava brincando, muito menos a equipe de Marília. O primeiro “todos estavam bem” não foi para provocar ninguém, falar mentira ou “brincar”… Seja por qualquer motivo essa foi a frase usada pela equipe apenas dando alguns minutos para que a família recebesse de forma mais “delicada” a confirmação que mudaria a vida deles para sempre. Sabe porquê? A gente pode como formador de opinião se entristecer com a perda da cantora, cobrir o velório dela e a repercussão de sua perda, mas quem, vai acordar sem mãe todos os dias, a partir desta sexta, é o pequeno Léo… Quem vai chorar porque a filha se foi tão jovem, todas as noites e nunca mais será a mesma, é a Dona Ruth… E em respeito ao pai do Léo, aos outros parentes, aos componentes da equipe de Marília e, também, à assessoria de imprensa dela, afirmo que precisamos de mais empatia, mais do que likes ou polêmicas.
É enriquecedor observar alguns comportamentos louváveis de outros colegas. Por exemplo, Léo Dias, que sempre dá furos, é tido como repórter polêmico (tem gente que não gosta dele e problema de quem não gosta) porque ele é um grande jornalista consagrado Brasil afora, escolheu por não postar imagens do velório ou notícias com a seguinte frase no Metrópoles: “acreditamos que sua obra e seu legado devem ser lembrados e exaltados”. Que exemplo! E olha que ele mesmo desabafou em um dos posts dizendo que a relação com Marília e sua equipe começou entre trancos e barrancos, mas que depois, eles passaram a se entender, a se respeitar, a se entrosar.
A pergunta que fica é: “que legado você quer deixar hoje?”. No mundo em que tudo é passível de discussão, qualquer vírgula vira uma manchete, que discutimos o tempo todo, ainda existe lugar para apenas duas palavras: compaixão e empatia? Que imprensa é essa? Que motivação nós temos? Já não sofremos o bastante com a pandemia? Não estou aqui defendendo o mundo cor de rosa, repleto somente de notícias boas, só gostaria que nossa classe fosse um pouco mais unida. Em mais de vinte e cinco anos de profissão, já vi de tudo um pouco. A diferença, é que hoje resolvi não me calar, por Marília, por sua família, seus fãs, e pelas famílias e amigos de todos que foram atingidos fatalmente pela queda do vôo em Caratinga, Minas Gerais. Estrelinhas, brilhem no céu, porque por aqui, a gente tenta espalhar mais amor, sempre que pode…
*Renata Rode é Bacharel em Jornalismo pela FMU, escritora, roteirista, ghost writer, assessora de imprensa e editora. Já atuou como repórter cobrindo celebridades na Record TV por anos, foi editora-chefe de diversas revistas nacionais, roteirista de campanhas e assessora de grandes marcas. Editora-chefe da Revista e Portal Infomente.