Piettro Lamonier é um psicólogo em busca da expansão do conhecimento em Medicina e na vida
Piettro Lamonier é um psicólogo com mais de 15 anos de carreira, especialista em Psicologia Junguiana pelo Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa (IJEP),
graduado no Centro Universitário Luterano de Palmas–TO (CEULP/Ulbra) e com formação em Análise Transacional e Terapia de Casal. Também dedicou parte da sua vida à arte de atuar e dirigir; como músico, já teve diversos trabalhos lançados, nos quais explora a psicologia e o autoconhecimento. Em 2021, ele lançou seu primeiro livro, “Fator Judas”, e agora está em uma nova jornada como estudante de Medicina pela UniMax.
Para falar sobre essa trajetória que transforma vidas e tem novas perspectivas, conversamos com Lamonier, que contou um pouco sobre seu trabalho e suas
Qual foi o momento em sua carreira em que você se sentiu mais completo?
Acredito que a realização não é um momento, mas um estado do ser. Sentir-me completo e realizado é mais dinâmico na prática do que dentro dos conceitos estabelecidos para entender onde buscar a autorrealização. Sempre me senti realizado profissionalmente, pois tive a oportunidade de fazer o que amo. No início, eu era jovem e talvez não tivesse a maturidade para entender certas experiências dos meus pacientes no consultório. No entanto, desde que me tornei pai pela primeira vez até o nascimento do meu terceiro filho, passei por diversas aprendizagens que me trouxeram uma nova visão. Percebi que minha função é buscar maneiras de aliviar o sofrimento não apenas das pessoas que me procuram como psicólogo, mas também o meu próprio. Sinto que me realizo enquanto caminho, amadureço e crio sabedoria na minha profissão. Buscar a medicina fez parte desse percurso, que para mim, não tem fim. Atualmente, atuo como psicólogo online e estou cursando medicina.
Quais são os principais desafios que você enfrenta na sua prática profissional?
O principal desafio que percebo tem sido superado cada dia mais. Antigamente, era muito difícil para alguém admitir que precisava de terapia. O estigma associado às profissões de psiquiatria e psicologia prejudicou a população em geral, levando muitos a acreditar que só deveriam procurar ajuda nesses campos se estivessem “loucos”. Mas o que realmente significa ser “louco”? Acredito que a loucura faz parte da nossa individualidade e talvez seja um aspecto necessário
que dá sentido à nossa vida. Felizmente, o preconceito em relação à psicoterapia tem sido superado, especialmente após a pandemia. Outro desafio que enfrento,
de forma muito particular, é conciliar minha profissão com os estudos de medicina, o que não é tarefa fácil. No entanto, a tecnologia tem sido uma grande aliada,
permitindo que eu atenda online e facilite essa conciliação.
Quais são os valores e princípios que guiam seu trabalho na área da saúde?
Quando você me faz essa pergunta, uma frase me vem imediatamente à mente: “E conhecereis a verdade e ela vos libertará”. Penso que seja um princípio e valor
interessante. Para ajudar o outro a se conhecer, temos que estar nesse processo também, da busca da própria verdade. A partir do momento em que conheço a minha verdade, minha essência e como ela se movimenta, consigo então estar disposto a ajudar o outro a encontrar a dele. Esse processo é maravilho e sempre um desafio diário. Minha meta agora é justamente juntar esse processo com a medicina e ver no que vai dar. No final das contas, o que precisamos é deixar o caminho mais leve, descobrir a própria verdade é lançar mão de algumas pedras desnecessárias que carregamos.
Que importância a conexão entre mente e corpo tem na promoção da saúde e bem-estar?
Olha aí que interessante! É justamente isso que busco. Como juntar esses conhecimentos e trabalhar em prol do outro? Certas fixações de pensamento podem
levar a comportamentos repetitivos, que por sua vez podem contribuir para o desenvolvimento de doenças. Ou, ao contrário, determinadas disfunções fisiológicas
podem afetar as sensações e evoluir para desordens psicológicas. Acredito que a separação do corpo e da mente é uma ilusão que precisa ser superada. O ser
humano, assim como suas criações e descobertas, deve ser analisado de forma integral e holística. Isso inclui considerar os aspectos místicos, que podem oferecer
dados relevantes sobre o indivíduo e sua relação com o mundo.
Quais são as principais tendências e avanços que você observa atualmente?
Acredito que a epigenética seja um campo de avanço não só para a medicina, mas também para toda a área da saúde. Compreender que determinados traumas
têm a possibilidade de serem transmitidos para gerações futuras por meio da memória epigenética pode mudar o alcance dos tratamentos e fortalecer a necessidade de termos uma visão biopsicossocial do sujeito.
Como lida com situações de estresse e pressão no ambiente de trabalho?
Depois de um tempo de trabalho e observação, precisamos desenvolver ferramentas que nos ajudem a melhorar a administração do nosso tempo nos afazeres
do dia-a-dia, diminuindo a sobrecarga física e mental. Uma habilidade que desenvolvi e ainda estou aprimorando é a capacidade de me manter presente no que
estou fazendo. É como se eu me permitisse concentrar apenas na tarefa atual, sem me preocupar com outras atividades simultâneas. Por exemplo, enquanto estou
lavando a louça, decido não pensar em limpar outros cômodos da casa. Só passo para o próximo cômodo após terminar a louça, a menos que alguma urgência
me chame e exija atenção imediata. Em minha rotina atual, tenho que atender meus pacientes de psicologia em horários alternativos para
não chocar com as aulas de medicina. Quando estou atendendo, por exemplo, na hora do almoço, tento me permitir focar exclusivamente no paciente e não pensar nos trabalhos ou artigos que devo preparar para as aulas. Ficar presente com o paciente é um exercício constante, pois requer prática e dedicação. Não é algo que se consegue facilmente na primeira tentativa, mas com o tempo, tenho notado melhorias significativas nessa habilidade.
Quais são as principais lições que aprendeu ao longo da carreira?
Uma das principais lições é a de que todos idealizamos algo e sofremos por não alcançar esses ideais. No entanto, ao aceitar que a idealização não foi alcançada,
podemos ajustá-la à realidade percebida e seguir em frente. Jung aborda esse processo ao falar sobre a progressão e regressão da energia psíquica. Em resumo,
estamos sempre em progressão na vida até que algo externo nos impeça de progredir, o que faz com que a energia psíquica regrida. Então, passamos a pensar sobre o que não está dando certo, corrigimos e voltamos a progredir. No entanto, se não aceitamos que é necessário revisar o que idealizamos, caímos em um sofrimento difícil de suportar. Outra lição, talvez a mais importante, é que quando uma pessoa entra em nossa vida, ela passa a fazer parte de nós internamente. Ela passa a simbolizar algo interno e ganhar uma posição dentro de nossa psique. O modo como lidamos com o outro, ou mesmo se não lidamos, reflete diretamente na forma como lidamos conosco. Em última instância, é um reflexo da nossa relação interna conosco mesmo.
Qual é o impacto que você deseja causar na vida dos seus pacientes?
A vida nem sempre é leve, e isso faz parte do nosso processo de aprendizado. No entanto, costumo dizer que a vida se torna mais leve quando posso ser autêntico. Alcançar essa autenticidade demanda tempo, busca, autocuidado e autoconhecimento. Procuro aplicar isso em minha própria vida para poder oferecer o mesmo aos meus pacientes. Acredito que ser um exemplo é um dos caminhos para alcançá-los. Isso não significa ser perfeito, mas sim acolher minhas vulnerabilidades e, em seguida, buscar ajustá-las e crescer com elas.
Que conselho você daria para jovens profissionais que estão iniciando suas carreiras na área da saúde?
Permita-se aprender com seus pacientes e tente divertir-se com isso; ter prazer no que faz é importante. É essencial lembrar que se divertir não significa não levar
as coisas a sério. Observe uma criança e perceberá que ela se diverte de forma muito séria. Tudo em que ela está envolvida recebe toda a atenção e energia, e ai de
alguém que ouse estragar sua brincadeira. Divirta-se e esteja aberto a aprender; permita-se não saber de tudo.
Por Larissa Roma
Idealizadora da coluna Rumo à Medicina, estudante e apaixonada por Medicina desde o primeiro suspiro, futura cirurgiã plástica e eterna aprendiz em busca pela cura, em todos os sentidos. @larissaroma_dra