A história política do país parece a liturgia da Igreja Romana – que se repetem a cada três anos, nos domingos e nas solenidades. Em verdade, se repete a cada dia, pois, mesmo decorridos cerca de mil e quinhentos anos, a parábola do pão e do circo parece tão atual a ponto de acharmos viver nos tempos romanos. Não bastasse a penumbra em vivermos diante dessa malsã pandemia, onde inúmeras pessoas perderam suas vidas (534 mil), empregos, dignidade e até mesmo a esperança outros parecem comemorar com essa desdita doença da Covid-19. Podemos afirmar que o Brasil não é para amadores! Dada a crise pandêmica na qual estamos mergulhados, os aproveitadores de plantão, dotados com a agudeza de espírito, aqui denominado “de porco” e, sobretudo, compromissados com os interesses coletivos “de seus próximos” não medem esforços quando o assunto recai em verba pública. A pandemia conseguiu instalar na população enorme comoção e pânico, mas como nossos “representantes” são exemplos de moralidade e comprometimento com as “políticas públicas” saíram a campo como os grandes comentaristas “facebookianos” e encamparam suas propostas e atos em prol da democracia e o bem comum, não exatamente comum a todos, se me entendem. Com o passar célere em que a pandemia foi avançando em nosso país, surgiu a necessidade de compra de insumos, fornecedores, vacina, criação de hospitais de campanha – desnecessários – sobre minha insipiência mesmo porque lembro de dois personagens em 2014 afirmando à nação que estádios de futebol seriam de maior importância a ter hospitais – contratação de profissionais da saúde e pasmem, tudo isso chancelado e ungido com o sacramento político denominado EMERGENCIAL. Diante da necessidade dada pelo “interesse público” nossos congressistas notaram nas pessoas humildes e desafortunadas sócio, cultural e financeiramente estavam se acotovelando pela escassez de emprego e recursos e, como gladiadores romanos foram à campo. O problema não está na maneira, mas nos meios pelos quais se definem os vetores de controle e assistencialismo. A dissonância é flagrante e não bastasse as divergências entre os poderes, eis que surge um sacrossanto iluminado e açodadamente vislumbrou a possibilidade de instalar em meio a uma pandemia, uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a conduta do Presidente da República quanto à compra de vacinas. Apesar de poucos noticiários de credibilidade existentes no país, associado às informações da Polícia Federal, passaram a ventilar haver vários indícios quanto a desvio de recursos destinados pelo Governo Federal ao combate e prevenção à Covid-19 em vários estados da nação. Diante deste cenário, alguns encamparam a boa e velha política do Pão e do Circo. Como o momento é de crise, atrelado a escassez de recursos e para o povo se acalmar, não reclamar e, sobretudo, não se revoltar contra os poderes passaram a utilizar do assistencialismo descomedido. De acordo com a história os gladiadores encenavam lutas, corridas, pois, como hoje servem para desviar a atenção da massa, talvez para explicar o fascínio de muitos por esses espetáculos revestidos de interesses difusos e obnubilar. Como verdadeiros imperadores romanos, ostentam sua pompa, impõem castigos aos seus interrogados e se exibem como afortunados da moralidade. Outros, no entanto, surgem como Césares, cuja função é manter o habitual da distribuição dos pães como feito no Pórtico Minucius (período Romano de 752 a.C a 476 d.C) e assim manipular a plebe sem poder sequer bocejar nem de fome nem de aborrecimentos e desta maneira manter o povo distante das decisões governamentais. Como na CPI, os espetáculos eram reservados aproximadamente 182 dias no ano. (para um dia útil – um ou dois dias de feriado). Como antes, seu início, tinha sua origem na religião – hoje interesse público, porém como na atualidade ninguém às compreendia e foram deixando de ter seu caráter sagrado e passaram a saciar somente os prazeres de quem os assistia. O público que mergulha nesse circo se reveste da toga dos grandes dias vividos pelos romanos, ou se erguem para aplaudir as estátuas das divindades, seguem um ritual de comportamento e caso não os sigam tendem a ser punidos. Esperamos o surgimento de novos tempos, a fim de vermos esse teatro de horrores deserto. Nos parece que este espetáculo ainda causa grande diversão para a desocupação entre os súditos e por via de consequência assegura o seguro instrumento do seu absolutismo. Prezados, esse obstáculo histórico era e ainda persiste como o fermento atual desse pão assistencial e pontual, pois, para a Revolução em uma Urbe onde as massas incluem apenas 594 desocupados, o auxílio da assistência pública dispensa muitos de procurar suas conquistas.
Por Dr. Émerson Tauyl
Advogado Criminalista, especializado em Direito Militar e Segurança Pública, com escritórios em São Paulo e Praia Grande
@emerson_tauy