Dizem que a vida começa aos 40. Até pouco tempo, eu não concordava com esse clichê. Neste ano, completando 40 anos de idade, me peguei refletindo profundamente sobre essa frase. O que teria por trás dessa expressão que remete a uma visão otimista e positiva sobre essa nova fase da vida?
Esse marco significativo na vida de uma mulher me fez olhar para mim mesma sob uma perspectiva diferente, um olhar acompanhado por uma mistura de sentimentos: o passado e suas alegrias e frustrações, as celebrações e as inúmeras cobranças acerca do presente e as expectativas quanto ao futuro.
Questões como a carreira profissional, amor, sexo, finanças, autoimagem, cobranças internas e externas, críticas e elogios nem sempre tão reais nos assolam a todo tempo. Pensar sobre todas essas questões pode ser um processo doloroso, mas enfrentá-las também pode ser libertador.
● Autoimagem e Aceitação: Frequentemente nos deparamos com as imposições de padrões de beleza e sucesso que, não raramente, podem impactar nossa autoimagem. As críticas externas e as autocríticas acerca de um padrão podem ser cruéis conosco, mas, aos quarenta anos, sinto que levo a vida de uma forma mais autêntica e leve, me importando muito menos com aqueles quilinhos a mais.
● Amor e Sexo: Aos quarenta, me senti extremamente corajosa para viver um grande amor. Conhecer alguém que nos faz suspirar a essa altura da vida é delicioso. Mas a paixão nessa fase veio de uma forma equilibrada e com lucidez. A racionalidade de tomar a decisão de amar outra pessoa basicamente se deu por itens que deviam ser cumpridos por alguém para dividir a vida comigo. Elenquei pontos, alguns deles indispensáveis, outros solucionáveis e outros levados em consideração que deveriam ser aceitos. Já a intensidade da relação carnal fica a cargo da experiência e do conhecimento do próprio corpo; muitas coisas já não são tabus e somos mais livres para sermos quem quisermos ser com a pessoa amada.
● Conquistas Profissionais: Nessa altura, com uma carreira estabelecida, vejo que a experiência adquirida ao longo dos inúmeros projetos me proporcionou uma base sólida para ter a confiança e a segurança necessárias para tomar as decisões que precisam ser tomadas no ambiente profissional. Consigo ver claramente os frutos de tudo que plantei no auge dos meus 20 e 30 anos.
● Relações Pessoais – Amigos e Familiares: Hoje consigo ter uma compreensão mais profunda do valor dessas conexões. Construir essas relações e fazê-las duradouras nem sempre é um caminho fácil. É necessário o investimento de tempo, exercício de compreensão, paciência, empatia e, acima de tudo, amor. E como tudo isso vale a pena.
● Expectativas Sociais e Cobranças Internas: A sociedade exalta a todo momento a supermulher que somos e devemos ser: mãe, esposa, amiga, super profissional, um lindo corpo e… enfim, inúmeros papéis que devem ser desempenhados com maestria. E além de todas essas cobranças, eu mesma me encarrego de me cobrar ainda mais: coisas como “eu já deveria ter feito um doutorado”, “deveria estar produzindo ainda mais”, “meu patrimônio deveria ser maior”. Ou seja, nós mulheres (ainda mais aos quarenta) estamos rodeadas de expectativas e cobranças, e a dosagem entre tudo isso pode ser uma linha tênue entre o êxtase da conquista e a frustração da não realização.
● Autoconhecimento: Com quarenta anos, me importo muito menos com algumas coisas e muito mais com outras. Aquelas preocupações acerca de um projeto que não deu certo, aquelas pessoas que não gostam tanto de mim, os pensamentos contrários aos meus; e está tudo bem! Nessa fase da vida, já superei tantos momentos difíceis que a escola da maturidade me proporciona a tranquilidade de saber dizer sim ao que quero e, sem o menor peso na consciência, dizer não ao que não quero.
● Confiança e Maturidade: A maturidade alcançada aos quarenta anos me permitiu uma melhor gestão das minhas emoções e um entendimento mais claro das minhas necessidades e desejos. Essa fase está sendo marcada por uma aceitação maior de quem sou, com todas as minhas qualidades e imperfeições. Isso me deu a confiança necessária para a busca de hobbies e interesses pessoais que realmente se conectam comigo: viagens, cursos, leitura, metas e prioridades alinhadas a quem sou, sem a menor necessidade de me colocar em segundo plano simplesmente para agradar.
Contudo, concluo que a ideia de que “a vida começa aos 40” é mais do que um clichê; é uma realidade para mim e para muitas mulheres que encontram nesta fase uma oportunidade de se reinventar, crescer, prosperar em todos os sentidos, serem elas mesmas com a segurança e independência que conquistaram. Sendo assim, encaro de frente este início de um capítulo vibrante e cheio de possibilidades.