Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo, temos todo o tempo do mundo… Em verdade, o texto rememora aos “jovens” com mais de 35 anos e reporta à canção, Tempo Perdido da Legião Urbana do a no de 1986. Apesar da música ainda ecoar em rádios e playlists o tempo passou e se perdeu ao longo dos anos. Não há tempo perdido, salvo se você o desprezou. A letra tinha o condão em nos remeter a condição efêmera, veloz e passageira da vida vista de uma sob uma lente juvenil e, pouco proveitosa (ao menos na letra do interlocutor). E mais, a música fala sobre a dualidade em ter e não ter tempo sem enxergar um propósito maior. Daí surge nosso contraponto, a juventude moderna, sua evolução e suas conquistas. O ser humano é uma máquina de escalada de progresso e avanço (tá eu sei, alguns…). Bem, vamos ao nosso giro no passado…Segundo a história, os pré-australopitecos foram as primeiras espécies e viveram logo após a separação do grupo que originou os hominídeos e os chimpanzés, tendo como principal característica o modo de vida arborícola. Depois surgiram os australopitecos denominados os primeiros hominídeos pertenciam ao gênero Australopithecus, dos quais constituíram um grupo diversificado e bem-sucedido. Tiveram como principais características: a postura ereta, a locomoção bípede, a dentição primitiva e a mandíbula mais semelhante à da espécie humana. Para encerrar esse período chato da leitura, o gênero (estou me reportando à história temporal, dada a palavra, atualmente provocar grande polêmica) Homo que se destaca aos demais pelo desenvolvimento do sistema nervoso e da inteligência, dotado de adaptações evolutivas, como o bipedalismo. Dessa linhagem surgiram outras subdivisões como Homo habilis, Homo erectus, Homo ergaster e os Homo neanderthalensis: conhecidos por neandertais (juro acreditar que ainda existam alguns desse espécime nos tempos atuais, risos). Após toda essa fase rudimentar da evolução humana, enfim surge o homem moderno Homo sapiens sapiens. Desculpe a narrativa histórica e não foi com o intuito de tornar vosso tempo perdido. Tendo em vista falarmos de postura e evolução, podemos dizer que a juventude de uns tempos para cá, do qual traz muita confusão, seja sobre gênero, identidades, orientação sexual entre outros doa quais eu mesmo talvez desconheça. Pois bem, as coisas já não são como antes, não é verdade? Hoje me considero anacrônico, por consequência da extrema dificuldade de entendimento de uma série de mudanças sazonais. As tendências de moda não são as mesmas de outrora, tampouco os veículos, a culinária, a comunicação por exemplo é full time, quando antigamente chegava em horas, dias ou até meses. Lidar com mudanças é algo delicado, por vezes incompreensível, principalmente quando estão fora do nosso eixo. Na Grécia antiga diziam que “os jovens de hoje em dia não são mais como antigamente”. Esse presságio perdura há milênios, mas confesso que a primeira geração de humanos não tenha sido a melhor. Parte da juventude se apresenta démodé, pois parte dela consegue destaque face as suas conquistas e desenvoltura, mas boa parte permanece estagnada, inerte. Inclusive chegaram a ter a denominação de geração canguru. Em que pese a conquista pela independência, alguns jovens parecem viver em pleno ostracismo. Vejam que a vertente natural da vida é buscar a independência pessoal e financeira, conquistar um título, emprego, casa própria, formar uma família e consequentemente sair da casa dos seus pais. Como no cântico da Legião Urbana, Tempo Perdido é cantada na primeira pessoa, e a análise se dá sobre o tempo em que estivemos dormindo, talvez daí se crie a ideia de que nossa geração (anos 70 e 80) teve um tempo desperdiçado e, ao acordar nos deparamos diante das novas possibilidades e por essa razão a letra destaca que ainda temos todo tempo do mundo. Nesse contexto apresentado, me deparo com uma juventude transviada, intolerante com seus pais, sem resiliência quando se deparam com problemas, não sabem receber um “não”, não estão preparados para as decepções que vida impõe, vivem complicando o óbvio entre outras mazelas. Por conseguinte, existem as exceções, mas, infelizmente o que sobressai são os pontos negativos. Pais que criaram seus filhos com o propósito normal e funcional da vida, ou seja, dar continuidade na existência humana. A guisa do antigo “normal” um filho era preparado para lidar com as dificuldades propostas pela vida, constituir conhecimento, profissão, independência e família. Hoje, nossa geração (anacrônicos) parece ter criado um vértice social do qual estaremos fadados a suportá-los até o último dia de nossas vidas, ou antes que nos matem. Sem dúvidas muitos vivem nesse apogeu por conta e culpa excessiva da superproteção familiar. Aqui faço meia culpa, pois me incluo nesse cenário, todavia, meus filhos são criados à moda antiga. Em conversas paralelas com amigos verifico o avanço nas dificuldades experimentadas por alguns, em que confidenciam suas particularidades, dentre elas, as praticadas por seus filhos. O tema geralmente circunda sobre as mesmas notícias. “meu filho não quer saber de nada, não sai do quarto e fica o tempo todo diante da tela do computador ou de um aparelho celular”. Em alusão a letra da Legião Urbana, apesar de “antiga” é permanente e duradoura, eu arriscaria afirmar, atual, pois retrata de forma poética o verso: “Todos os dias antes de dormir; Lembro e esqueço como foi o dia; Sempre em frente; Não temos tempo a perder”. Aqui o personagem conduz aos interlocutores que, antes de dormir devemos refletir sobremaneira das coisas em que preferimos lembrar ou esquecer, porém, devemos perceber a importância de aproveitar o tempo que nos resta. Na continuidade do verso, lá estamos nós, os ”velhos” ou anacrônicos estarrecidos com a nova forma de vida dessa juventude sagaz, da qual comunga da ideia em que são superiores a tudo e a todos, principalmente aos pais. Ora, inteligência e experiência são totalmente dissonantes no contexto prático. O tempo vivido por um pai é algo incomensurável seja pelas dificuldades enfrentadas, experiências vividas, desilusões e conquistas etc. ”Nosso suor sagrado; É bem mais belo que esse sangue amargo; E tão sério; E selvagem; Selvagem; Selvagem” Aqui a letra traz a sublime realidade em podermos compreender diante da crítica à relação que somos obrigados a ter com o trabalho e aos compromissos assumidos com a família. O suor sagrado é o esforço para se conseguir manter-se com trabalho árduo, que consome praticamente o nosso tempo e a mente. Por conclusão quando um filho se desvia do afeto familiar, passa ser um gestor de algo que não conquistou, ainda que esteja sob o manto da vanguarda no tempo, seus pais, possuem a ampulheta da sabedoria. Portanto, nenhum filho pode se apossar do tempo conquistado de um pai, mas também devemos rememorar que “Temos nosso próprio tempo” para compreender as coisas da vida. E, apesar de estarmos juntos no mesmo tempo as experiências são individuais. Viva e aproveite todo tempo disponível.
Por Dr. Émerson Tauyl
Advogado Criminalista, especializado em Direito Militar e Segurança Pública, com escritórios em São Paulo e Praia Grande @emerson_tauyl