O ator, diretor, produtor que também canta e dança é mais que humor: quando o dom corre nas veias, o mundo fica pequeno, e o céu é o limite
Por Renata Rode
Fotos: Ricardo Fasanello
Impossível não se deparar com a imagem de Nelson Freitas sem sorrir, afinal, o ator que contabiliza mais de 35 anos de carreira ficou mais conhecido por seu trabalho ligado ao humor, porém, ele é muito mais que isso. A versatilidade é uma das características do artista que, além de saber cantar e dançar, passou por diversos outros gêneros da dramaturgia como drama, época, musicais, suspense, entre outras produções. No longa “Eike – Tudo ou Nada”, ele será o protagonista, o empresário Eike Batista. E os projetos no cinema não param. No final do ano passado, ele filmou a comédia “Saraliaeleia”, em Maragogi, Alagoas, dirigida por Hsu Chien (“Quem Vai Ficar com Mário”, “Desapega” e “Me Tira da Mira”). Nelson Freitas viverá Carlos, o síndico do prédio onde moram duas das protagonistas: Lia (Danielle Winits) e Leia (Michele Muniz). No elenco, outros atores, como Mônica Carvalho, Henri Castelli, Luiza Tomé e André Mattos.
Também está no filme de ação, “Tração”, de André Luiz Camargo, que envolve corrupção e competições de motos, onde interpretará o empresário Fernando DiMello. E não para por aí: em 2021, esteve no Uruguai para gravar a sua participação na segunda temporada da série “El Presidente”, intitulada ‘Jogo da Corrupção’, do Amazon Prime Video. A direção é do argentino Armando Bó, vencedor do Oscar, em 2015, de melhor roteiro original pelo trabalho no filme Birdman or. Nessa segunda temporada com oito episódios, a série vai trazer a história do ex-presidente da FIFA, João Havelange, para o Brasil e a Europa, e mostrar as origens da transformação da mais importante instituição do futebol, em uma potência comercial e política.
Ainda, lançou o longa ´Nina´, de Samuel Machado, onde interpreta Valdir, um policial acusado de assassinar a própria esposa. Além disso, está em pré-produção do filme `A Parada´, da Globo Filmes, uma comédia road movie, escrita pelo Marcelo Vindicatto, dirigida pelo José Lavigne e com supervisão do Cacá Diegues.
Ufa, quanta coisa, não? Como se não bastasse tanto trabalho, o ator estreou recentemente o podcast “Embaralha e dá de novo”, nas plataformas digitais. Ao lado de André Dessandes, diretor do projeto, e Fernanda Loureiro, ele bate um papo, a cada 15 dias, sempre com dois convidados especiais. “Podcast já caiu no gosto popular. As pessoas estão ouvindo cada vez mais no Brasil, seja enquanto estão fazendo atividades domésticas ou dentro do carro. Ao invés de ficarem vendo notícias ruins na TV, têm a oportunidade de ouvir um programa na internet sobre temas que giram em torno do comportamento humano, economia, arte, meio ambiente e espiritualidade, provocando reflexões e apontando caminhos, sempre com muito humor e criatividade. Também estou com o meu canal no YouTube, que criei no ano passado”, diz.
No ano passado, o paulista da cidade de Mogi das Cruzes fez campanha para que todos apoiassem o seu projeto, o short movie “I´m Sorry Honey”, que abordou um tema que cada vez mais ganha espaço na mídia e na sociedade, em geral, a violência doméstica. O vídeo concorreu a quatro prêmios (nas categorias drama, making of, sound design e voto popular), na maior competição de curta-metragem do mundo, o “My Rode Reel”, da Austrália.
São muitas realizações tanto na vida profissional quanto na vida pessoal para o rapaz que começou com o primeiro curso de teatro em 1985, no Planetário da Gávea, no Rio, e, dois anos depois, se formou na Escola de Teatro Dirceu Matos. Desde então foram várias participações em novelas até atuar no grande sucesso do SBT, “Chiquititas”, gravada na Argentina. Na TV Globo, começou a se destacar no humorístico “Zorra Total”, onde interpretou renomados personagens, de 2001 a 2015. Depois disso, atuou em outras produções da emissora, como “As filhas da Mãe”, “O Tempo não Para”, “Malhação – Toda forma de amar”, entre outros. Em 2011, foi um dos participantes da “Dança dos Famosos”, do Domingão do Faustão, e, em 2017, teve a oportunidade de mostrar a sua habilidade como cantor, na primeira temporada do programa “Show dos Famosos”.
No teatro, o grande sucesso é “Nelson Freitas e Vocês”, que começou há quatorze anos, dirigido pelo seu grande ídolo, Chico Anysio. Segundo Nelson, é um show de humor, adaptado à realidade, mas baseado nos antigos, como o próprio Chico, além de Jô Soares, Juca Chaves, Paulo Silvino, Miele, e outros grandes artistas. Aos 59 anos, o ator se diz feliz e realizado já que está casado há 20 anos com a procuradora da república Maria Cristina Cordeiro e se declara nas redes sociais para a esposa. Aliás, ele é pura família e já declarou que ama as enteadas Paula e Gabriela, filhas de sua mulher, como um pai mesmo, tanto que hoje é puro orgulho por ser avô do pequeno Felipe. Direto da Austrália, ele nos atendeu em uma entrevista que além de exclusiva, garanto que está imperdível!
Você está passando alguns meses fora do Brasil. Por qual motivo e quando pretende retornar?
Sim! Estou morando na Austrália, fico aqui por 6 meses, e esse meio ano sabático tem um objetivo: me aprimorar na língua inglesa e estar preparado para esse novo mundo do streaming, com tantas produções acontecendo, e o intercâmbio intenso de atores diretores e produtores, ou seja, o mundo está cada vez menor e a gente pensando cada vez maior
Depois de atuar em tantas novelas, séries, cinema e teatro, o que você prefere?
Em cada caminho, uma preciosidade inesperada, marcante, pronta para fazer sua cabeça girar. A carreira do ator tem esse aspecto, num dia você é mocinho, no outro bandido, no outro você não é nada… A resposta a essa pergunta é exatamente essa: em cada um dos gêneros, é tudo a mesma coisa, só que diferente. Gosto de tudo, e tudo no seu tempo.
Como foi dar vida a Eike Batista no cinema? É verdade que também teremos a série?
Um desafio enorme, pois se trata de uma pessoa contemporânea. O Eike é uma personalidade riquíssima, sobretudo, pelas escolhas corajosas que ele sempre optou. O filme vai retratar aquele momento político econômico do Brasil com a descoberta do pré-sal. Todo mundo vai querer saber como um homem tão rico e poderoso veio a ter um fim tão surpreendente e triste. Mas depois de estudar tanto sobre ele, a trajetória, as escolhas, eu, particularmente, acho que a vida dele não cabe num longa. Só de garimpo tem 5 episódios… (risos). Mas, vamos ver como ele entra no mercado, e se tiver ressonância, acho que tem pano para manga. Tomara!
E a comédia que gravou com Dani Winits e Michele Muniz, dentre outros?
Ah, esse foi um capítulo à parte. Que momento foi esse? Um elenco doce de doer, num lugar magistral. Quem não conhece, não tem ideia da exuberância daquele mar, daquelas piscinas naturais. Misericórdia!!! Não conhecia e fiquei deslumbrado. O Henri Castelli já havia me falado de como tudo ali é surpreendente. Ele tem um restaurante na região, mas a parte dessa beleza toda, outra beleza se transformava na nossa vida, a cada dia de filmagem. Hsu Chien é um dos diretores mais festejamos da atualidade, e o que ele fez dessa história agradável, com esse elenco, foi magia pura. Dani Winits, Luiza Tomé, Dedé Matos, Henri e mais um bando de delícias desfolhando um roteiro bem brejeiro de comédia ligeira, criado com cuidado e maestria pela Monica Carvalho e a incrível maravilhosa Michele Muniz. Não vejo a hora de ver como ficou, depois de cortes e edição, música etc.
Aliás por falar em comédia, você ficou anos tachado como humorista, mas fez muitos outros trabalhos. Como é isso?
São 35 anos de carreira, sempre fazendo de tudo, me arriscando, me desafiando. Fiz dezenas de musicais, que é uma classe de artistas diferenciados, com uma disciplina e dedicação fora do padrão. Fiz inúmeras novelas e filmes, mas o humor me puxou com uma força tamanha, que acabou impulsionando minha carreira, e me fazendo conhecido como comediante. Mas a vontade de contar histórias, de viver personagens mais densos, retomou seu lugar, e tem sido muito bom e relevante para mim estar fazendo tantos trabalhos no cinema, como agora.
Qual personagem inesquecível para você e por quê?
Quando fazia o “Zorra Total”, o quadro “Marcia e Leozinho”, com a Maria Clara Gueiros, era um grande sucesso e foi sem dúvida, muito marcante na minha vida, mas acho que o maior divisor foi mesmo o Dr Fernando, na novela “Chiquititas”. Eu já tinha dez anos de carreira e foi aí que a chave virou para mim de vez.
Qual seu sonho profissional: algo que nunca fez e gostaria de fazer?
O mundo está cada vez menor com a internet e com as plataformas de streamings. Tenho muita vontade que trabalhar com produções internacionais e ao mesmo tempo, divulgar o imenso manancial cultural que temos no Brasil, temos potência para muito mais no cinema e no áudio visual planetário. Produzir conteúdo nacional, de grandes estrelas da nossa literatura e dramaturgia, em língua inglesa, e espalhar essa diversidade e criatividade única, dessa mistura de quem somos e o quanto o mundo precisa de nós, da nossa graça, da nossa bossa, do nosso melhor …
Na Infomente falamos muito sobre saúde mental. O que você faz no dia a dia para manter o equilíbrio?
Esse é um tema deveras recorrente em casa. A essa altura do campeonato, eu e minha mulher, Cris, não podemos nos dar ao luxo de deixar na banguela e não pensarmos nisso… Tudo converge fortuitamente para esse contexto do equilíbrio. Nossa mente é um equipamento potente e repleto de programas instalados, que nem sabemos direito como aquilo foi parar ali. Que antivírus precisamos passar para que não nos afete tanto, etc? Há anos colocamos a yoga e a meditação no nosso cardápio e isso tem promovido equilíbrio e bem estar. Um momento muito nosso e muito particular ao mesmo tempo.
O que mudou na sua vida após a pandemia? Como isso te afetou?
Foi uma loucura no planeta inteiro, né? No primeiro mês, eu fiquei meio atônito, sem saber o que fazer, quietinho dentro de casa, ouvindo o silêncio da rua como todo mundo e vendo pela internet, os animais saindo das matas e aparecendo para dentro dos centros urbanos e meio que se perguntando o que que está acontecendo. Claro, tive trabalhos que já estavam programados, que precisaram ser cancelados. A solução foi partir para o digital e tentar manter a cabeça e a moral em pé. Fiz live, semanalmente, no meu instagram, onde convidava os seguidores para dividir, não só a tela comigo, mas histórias, músicas e poesia. Foi muito gratificante! Nesse período, fomos colocados à prova, se seríamos capazes de suportar, não só o estrago mundial, como também o confinamento, mas sobretudo a convivência com quem se estava confinado, e consigo mesmo e esse talvez, tenha sido o ‘pulo do gato’… Conseguir ter um olhar mais consciente e profundo sobre nós mesmos. Foi o caminho que eu escolhi.
O que você faz em sua rotina para exercitar sua mente?
Hahaha, essa pergunta é boa… Não é todo mundo que pensa nisso. O piloto automático está sempre ligado. Mas tenho feito umas coisas malucas que de vez em quando mostram efeito, como, por exemplo, fazer as coisas com a mão esquerda, escovar o dente, pentear o cabelo, escrever (risos) Dá um tilt de vez em quando, mas toca um “rebu” na cabeça e isso é bom.
Você sempre foi discreto em relação à sua vida pessoal. O Nelson fora da TV tem medo de se expor?
Não tem nada a ver com medo. É natureza mesmo. Temos uma vida muito low profile. Poucos e bons amigos, uma preferência nacional por ficar em casa, cozinhar, abrir um vinho, que deveria constar como remédio na literatura médica (risos). Mas tudo na intensidade moderada.
O que podemos esperar de novidades para o segundo semestre?
Fiz quatro filmes que estão para serem lançados: “Eike Tudo ou Nada”, da Morena Filmes; “Saraliaeleia”, da Media Bridge, além de “Tração, uma aventura sobre duas rodas” e “Sistema Bruto”. Fiz também uma participação na série “El Presidente”, da Amazon, que foi gravada no Uruguai e dirigida por Armando Bó, um diretor argentino que ganhou Oscar de melhor filme em 2015 por “Birdman”. E ainda estou com dois projetos mais importantes: meu canal no YouTube: Nelson Freitas Oficial e o podcast “Embaralha e dá de Novo”, que faço com o André Dessandes e a Fernanda Loureiro, onde questionamos as coisas maravilhosas e outras nem tanto, que a humanidade produziu através dos tempos, e tentamos trazer um pouco de luz para tantas transformações pelas quais estamos passando. Para isso, temos sempre dois convidados, um especialista no assunto que elegemos para o episódio, e um comediante ou pessoa espirituosa e divertida para tornar o papo mais leve e digerível. Estamos no Spotify e na BandNews podcast. Esse podcast é, antes de tudo, uma operação multimídia porque, em breve, teremos show, série, livro e tudo que tem direito para formarmos uma comunidade e discutir comportamento, arte, ciência e cultura pop, meio ambiente, sustentabilidade e outros bichos para disfrutar com louvor e gratidão esse planeta fantástico em que vivemos.