De acordo com a análise baseada em processos sociais, a atividade dos indivíduos encontra semelhança em suas disposições básicas, ou seja, suas necessidades estão plenamente conectadas uns para os outros e consequentemente unidos uns aos outros das mais diversas maneiras. Acredite! Desde os primórdios, o homem no uso de seus instintos pela sobrevivência, juntava-se com outros da mesma espécie para inúmeras atividades e, dentre elas para se proteger. Essa necessidade de convivência social, digna de sua própria essência condiciona a espécie humana e o modula a estar sempre em bando. Essa latente demonstração em conviver em sociedade, proporciona a deflagração de grupos sociais. Assim, viver em sociedade aparentemente tem se mostrado algo simples, pois, criar um laço de convivência entre os indivíduos pertencentes a sociedade de acordo com a sua estruturação. Ao revés, a sociedade é condicionadora e condicionante, e o que isso significa? Ela – sociedade- determina o comportamento dos indivíduos que vivem nos mesmos grupos, porém, é condicionada pelos indivíduos que a formam. Entende? Claro que não! Nossa sociedade parece ter perdido o rumo de uns tempos pra cá. Guardo na memória as reuniões de família, onde todos conviviam em suas casas, porém, o quintal parecia ser único, não havia muro ou qualquer tipo de divisória. O máximo que poderia ter era uma árvore da qual nos lançávamos para apanhar seus frutos ou pelo simples gesto de viver perigosamente, fosse uma queda ou os puxões de orelhas quando surpreendidos pela própria mãe. Naquela época – quando se fala assim é porque passamos dos 40 – toda circunstância coletiva, literalmente atingia a todos. Destarte, ninguém abandonava a causa, mesmo que o problema fosse no vizinho. O sentimento de empatia tinha seus reais efeitos, sem contar a conivência. Podemos citar o tema da copa de 1970, “Todos juntos, vamos pra frente Brasil; Salve a seleção!!!; De repente é aquela corrente pra frente; Parece que todo o Brasil deu a mão! Todos ligados na mesma emoção; Tudo é um só coração!” Quanta saudade remonta os tempos áureos em que a sociedade se lançava em berço esplêndido à fidelidade para com o próximo. Tivemos inúmeros atos probatórios em que todos, senão a maioria esmagadora se engajou em atos sob a égide da libertação, conquistas de direitos e avanço enquanto seres humanos. Muitos se insurgiram contra a opressão autoritária dos militares, da censura, do direito de ir e vir, das greves garantidoras de direitos trabalhistas, ao direito do voto feminino, da emancipação feminina entre outros. Vivemos (os com mais da 40, é claro) a consagração de muitas lutas dentre elas a promulgação da Constituição de 1988. A Carta Cidadã – carinhosamente chamada – trouxe em seu bojo inúmeras garantias das quais jamais havia-se experimentado. Esse período efêmero fez com que a sociedade perdesse a sua capacidade cognitiva, social, familiar, resiliente e patriota enquanto grupo. Certos grupos contribuíram de maneira significativa para que a instituição família fosse dilapidada, a fé foi analisada sob o formato científico e, a consequência foi o mercantilismo religioso vivido atualmente, aqui não me permito generalizar todo o cenário exposto, mas, como anacrônico que sou, firmo com o brilho solar o sentimento experimentado. Com a vinda da internet surgiu o marco divisor da era humana. Passamos a viver com se o dia não tivesse um fim. Informações jamais alcançadas, num único clique e, voilà nos tornamos médicos, advogados, psicólogos, cientistas, sociólogos e tudo mais que possamos imaginar. Diametralmente, o homem de cuja convivência era única e exclusivamente em sociedade passou conviver com o seu “EU”. Em verdade, me atrevo a trazer nessa discussão o adágio popular seguinte: “Feira livre é muito bom, desde que não seja na porta da minha casa”. Dada as ocasiões teratológicas proporcionadas por boa parte das autoridades, atreladas ao mundo virtual vivido por muitos deixamos de aprender a desenvolver a inteligência emocional, a controlar nossos sentimentos, o que é a justa medida, aceitação a críticas, autoestima e, sobretudo à realidade. Nos tornamos tóxicos! Seguimos muito próximos aos judeus durante o holocausto, segundo, pois, “Num futuro talvez próximo as pessoas se perguntem, como é que não fizemos algo? Por que não fugimos ou não nos escondemos? Bem, as coisas não acontecem de uma vez. As coisas aconteciam muito lentamente. Então, cada vez que uma nova Lei era lançada, ou uma nova restrição, dizíamos, bem, apenas mais uma, vai passar. Quando tivemos que usar a estrela amarela para sair às ruas começamos a nos preocupar, mas, já era tarde demais, foram cerca de 6 milhões de mortos”. Bem, a medida em que presencio uma discussão, geralmente “política”, percebo que a humanidade está cada vez mais nutrida de inconsistências, seja de bom senso, seja de conhecimento, vejo nas redes sociais uma forte moção de atos e participações das mais variadas e possíveis e me atrevo aqui nas inimagináveis, mas é só pensamento. Vão desde correntes de orações até discussões acaloradas e de profundidade para saber a real necessidade de uma buzina em um avião, mas quem sou eu pra palpitar. O mundo “fake” da internet é na verdade o país das maravilhas, onde tudo parece dar sempre certo, alegria irradiante das famílias virtuais, fotos perfeitas, com rostos e personagens perfeitos. Confesso que lá (internet) também é palco de grandes discussões sobre economia, política, educação, segurança e, diga-se de passagem, tem até bastante conteúdo de imbecilidade, na verdade esse tem crescido em larga escala. Todavia, retomemos ao nosso raciocínio, sem ofender aos não providos desse instrumento. Basta alguém comentar nas redes sociais algo diverso do “politicamente correto” e pronto! Tome linchamento virtual, cancelamento e todo tipo de esquecimento. Em que pese a dinâmica no mundo virtual, tudo é full time e a velocidade em que percorrem as notícias, nos tornamos indivíduos acomodados e dependentes, infelizmente tenho que me colocar nesse horripilante cenário. São inúmeras informações e notícias, lançadas a todo momento, porém, em razão da celeridade deixamos de buscar a veracidade daquela informação que muitas vezes parecem surgir de uma dark web. Com efeito, no mundo real tudo é o reverso do virtual. Não somente por conta dos “mundos”, porém, se trouxermos à realidade da qual o ser humano é parte de um ambiente plenamente verdadeiro, percebemos que os rostos e os personagens, apesar dos mesmos no real e virtual, não denotam a mesma alegria, o mesmo progresso, as mesmas conquistas ou retrata a verdadeira realidade. De sorte, a individualidade exposta na internet demonstra notório conflito sócio cultural e nesse universo atual, presenciamos a falência da instituição família, perdemos a fé, o respeito e sobretudo as virtudes. O bem maior, a vida, perdeu o seu valor, deixamos de amar uns aos outros, pois o que proporciona likes, seguidores, notoriedade e fama está inserido proporcionalmente no “EU”. Nos perdemos no tempo e esquecemos que viver uns para os outros é algo da nossa própria natureza, ou seja, a regra. Vejam os ensinamentos que a natureza nos dá, com a exemplo em que os rios não bebem de sua própria fonte, as árvores não comem de seus próprios frutos, o Sol não brilha pra si mesmo e as flores não espalham sua fragrância para si. Outro exemplo que podemos citar é o de um animal transferido do seu habitat acaba se adaptando ao novo, porém, o homem em busca da sua autoafirmação sempre deseja ser o centro das atrações e, na contramão faz com que o habitat se adapte aos seus interesses. Precisamos nos divorciar do viver para o EU e aceitar nossas raízes em viver para todos, de forma simples e harmoniosa. Nossas diferenças não estão na maneira como cada qual vive a sua vida, mas na maneira como gostaríamos que determinada pessoa vivesse. Precisamos ser livres conforme o mais sagrado dos direitos, o livre-arbítrio, pois, em que pese nossas diferenças, nossa luta não é contra nossos pares – seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores que não medem esforços para nos lanças as trevas e assim sacramentar nossa forma de pensar e a de viver em coletividade. Portanto, a análise deflagrada aqui, ou seja, a de viver em razão do Eu só pode ser interpretada segundo a vontade natural da nossa existência, senão que: EU ame ao próximo como eu amo a mim mesmo.
Por Dr. Émerson Tauyl
Advogado Criminalista, especializado em Direito Militar e Segurança Pública, com escritórios em São Paulo
e Praia Grande
@emerson_tauyl